Ator mirim da Globo revela racismo do dia a dia: 'Deixo as mãos à mostra'

Pedro Guilherme não esconde a alegria de protagonizar "Juntos a Magia Acontece 2", especial de Natal, que a Globo exibe dia 20. Há apenas dois anos, ele comoveu o público em cenas fortes de racismo e preconceito, ao estrear em "Amor de Mãe", na pele de Tiago, filho adotivo de Vitória (Tais Araújo). Uma realidade cruel já conhecida pelo ator: aos 9 anos, interessado em um fone de ouvido, ouviu do vendedor da loja que era muito caro para ele. Isso tocou tão fundo no rapazinho, que fez com que tivesse uma postura diferente quando entra em um comércio:

Ainda entro nas lojas e sigo os conselhos da minha mãe: deixo sempre as mãos à mostra e se estou com sacola, amarro a alça."

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O racismo, infelizmente, faz parte do cotidiano do povo preto. Os privilégios vêm sempre para os brancos, independentemente se você está no meio artístico ou não. Esse mal parece não ter fim. Todos os dias e em todos os lugares o racismo está presente na minha vida", garante Pedro Guilherme, que já ouviu pessoas dizerem que ele "só estava na novela (Amor de Mãe) porque tinha cara de moleque de rua, era feio, e nem falar direito sabia."

Mas o ator não se deixou diminuir, tocou o barco e só vem colhendo frutos do seu trabalho. Prova é "Juntos a Magia Acontece 2". Orgulhoso, Pedro Guilherme conta que a autora Gleissa Regina Martins estava de olho nele para dar vida a Caio, personagem principal do especial. Na história, o menino deposita na magia do Natal a esperança de poder, finalmente, conhecer o pai com quem nunca conviveu. Apesar de não viver o mesmo drama do personagem, o ator sabe que esta realidade do menino não é obra de ficção.

Eu tenho meu pai por perto, mas sei que filhos sem pai é muito comum. Tenho amigos e familiares que vivem essa realidade", lamenta ele, que faz o filho de Jéssica Ellen, a artesã Solange, mãe solo como tantas.

Coincidentemente, minha mãe, Renata, também é artesã. E é uma fortaleza como Solange. Ela veio comigo para o Rio, deixando nossa família em São Paulo. Está aqui segurando todas as broncas", exalta Pedro Guilherme.

Se Caio quer encontrar o pai como presente de Natal, o ator já sabe o que quer ganhar nesta data.

Já coloquei nos pedidos, a troca do vídeo game, além de saúde e nossa família reunida. E gostaria que as crianças fossem olhadas de uma forma especial, já que somos o futuro do mundo!", deseja.

Representatividade necessária

Pedro Guilherme já tinha assistido ao primeiro "Juntos a Magia Acontece" (2019), que trazia um Papel Noel negro (Milton Gonçalves), e emocionou público com a história da família Santos. O especial, inclusive, foi premiado com o Leão de Ouro na categoria Entretenimento no Festival Internacional de Criatividade de Cannes. Dessa vez, os Santos aparecem novamente - menos Milton Gonçalves, com saúde debilitada - e a menina Letícia (Gabriely Mota), amiga de Caio, vai ajudá-lo nessa busca.

Ver um Papai Noel negro e aquela família toda, como as da maioria do nosso cotidiano, fez eu me enxergar ali. Parecia que eu já fazia parte daquela família", afirma o ator.

É representatividade que fala, não é mesmo? Pedro Guilherme, portanto, sabe desde cedo a força que ela tem.

Família como a do especial são muito comuns e a maioria no Brasil. E não temos referência em nenhum programa de TV. A gente precisa se ver mais", constata o rapazinho, animado com o fato de ser um espelho para outras crianças.

Eu fico muito feliz! Eu não tive essa referência, mas agora estou aqui, podendo ser para aqueles que estão vendo meus trabalhos. Além de mostrar a nossa beleza afro. Quero é que cada vez mais possamos nos ver não só na TV, mas em todas as profissões, independentemente de cor."

Altivo, Pedro Guilherme sabe de seu potencial e, apesar de ter passado por situações lamentáveis, segue seu caminho.

Não me abalo. Vou em frente. Quero ser reconhecido pelo meu talento e acho que está dando certo. Essa carinha aqui está em todas", brinca.

Filme, série, novela e futebol

Pedro Guilherme não deixa de ter razão. Desde que surgiu em "Aruanas" (2019), ele vem emendando trabalhos. No cinema já fez "O Novelo" e "Doutor Gama". Está na segunda temporada de "Aruanas", no Globoplay, e ainda tem a novela "Além da Ilusão", a próxima das 18h. Os diferentes papéis não passam apenas pela vida do ator. Ele afirma que os personagens trazem reflexão, como Luiz Gama, vendido como escravo, ainda menino, pelo pai para pagamento de uma dívida, se tornou um dos mais respeitados advogado e abolicionista do país.

Todo trabalho para mim é válido. Quando eu interpretei Tiago, foi muito especial e vai ficar pra sempre no meu coração. Mas acho que Luiz Gama mudou meu modo de pensar em várias coisas. Pude entender de onde veio a minha força. Foi como eu tivesse sido o Pantera Negra", diz Pedro Guilherme.

Enquanto se desloca entre uma trabalho e outro na dramaturgia, o menino que se diz tímido quando é abordado nas ruas com elogios a seu trabalho, tem uma outra paixão: o futebol. Olha que a força da bola pode tirar o menino da atuação. Será, Pedro Guilherme?

Futebol é minha paixão mesmo. Eu fico dividido, tento conciliar as duas coisas. Apesar que uma hora saber que terei que escolher... Mas, por enquanto, vou seguindo assim, sendo um Neymar das telas", diverte-se.