Luciana Bugni

Luciana Bugni

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Davi campeão: um BBB previsível era tudo o que poderíamos suportar em 2024?

Eu não sei vocês, mas da pandemia para cá, passei a desviar do que chamo de filmes de susto. Não é nem terror sangrento, com espíritos que seguramente vão invadir meu sono — desses eu fujo desde que a máscara do Halloween apareceu uma madrugada na janela do meu quarto e tive que ir dormir na cama da minha mãe, aos 16 anos.

Filme de susto, para mim, são histórias imprevisíveis, que apresentam guinadas. No consumo de entretenimento no audiovisual, fui levando a máxima "de amarga basta a vida". Isso implicou em diversas comédias românticas muito ruins, com aquele roteiro absolutamente linear em que basicamente duas pessoas se odeiam, se apaixonam, se evitam, se pegam, brigam, ficam juntos, sobe crédito. Acho que nesse esquema de consumo da "sétima arte" na Netflix eu emburreci uns milhões de neurônios — tá tudo bem, pesquisei no google, temos bilhões.

O BBB 24 foi um oásis de previsibilidade nesse quesito: todo mundo sabia que Davi ia ganhar há meses. A gente só rumou para o fim esperado. Que delícia seria se todos os perrengues da minha vida fossem assim, eu pensei nos últimos anos. Atravessaria, sem tanto sobressalto, as dificuldades, contaria mortos e feridos e pronto, entregaria a taça pro campeão no fim. Foi assim que eu tentei viver desde 2020. Funciona? Claro que não, a vida não é um reality show.

Mas eu vou fazer o que se não suporto mais não saber o que vai acontecer com o mundo? É guerra atrás de guerra, é golpe atrás de golpe, é tanta bizarrice que eu queria que minha vida fosse apenas esperar o beijo de Matteus e Isabelle, aquele que eu tinha certeza que de fato ia acontecer. Esse tipo de tensão (a sexual) a gente aguenta o tempo que for e até torce para dar uma prolongadinha. Bom demais.

Ai, por que Yasmin foi julgada, por que Wanessa fez isso, por que Alane chorou... não importa. Davi será campeão, todo mundo pensava. Imagina remar adentro das adversidades da vida sabendo que um homem preto periférico vai levar o maior prêmio? Podia vem ser vida real, hein?

Porém, uma vida em que não importa o meio e a gente só foca no fim não existe. Ainda bem. É nos meandros que se encontra novos sentidos e ressignifica o que vinha ficando gasto.

Prometi inclusive fazer um detox de comédia romântica. Comecei por Aftersun e quase desidratei uma manhã dessas justamente por saber o fim de cor — não é fácil passar a vida buscando informações sobre seu pai em fitinhas VHS.

Não dá pra ficar na superfície de alienamento, eu sei. Mas vou te dizer: se a gente tiver que aprofundar desse jeito nesses meses sem BBB, não sei o que será de mim. Nem de vocês, caso queiram continuar lendo essas linhas que costumo escrever aqui. Boa sorte para nós.

Você pode discordar de mim no Instagram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes