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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Casa de vidro: Brasil respira aliviado no início da alienação de outro BBB

Colunista do UOL

11/01/2023 04h00

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Nunca foi fácil ser brasileira, mas em tempos em que até a democracia leva pedrada, dá um certo amargor de ver as notícias.

Isso até a tarde de terça (10), quando quatro marmanjos aleatórios entraram em uma caixa de vidro construída num shopping do Rio de Janeiro — parece que dois deles entrarão no Big Brother na próxima semana.

O Big Brother, lembra? Aquele programa que existe há 23 anos e que tem como premissa gente bonita em trajes sumários na beira de uma piscina trocando picuinhas para ver quem sai da casa antes. Digo, para resistir até o final e ganhar uma bolada. Digo, para tentar não ser cancelado. Bem, na verdade tudo é. para conseguir mais seguidores do que a Juliette em 2021. Se alcançar metade do carisma de Gil do Vigor, melhor ainda.

O BBB é o oásis do não pensar em nada. O que me importa não gostar mais dos brasileiros aqui fora, se posso passar 90 dias com gente que nem conheço via GloboPlay? De que adianta sofrer tanto com tudo que está errado nesse país, enquanto vai ter gente ficando com uma e depois pegando a amiga da uma escondido embaixo do lençol? E vai ter gente chorando apaixonada e traída — e não serei eu! Por que raios eu ficaria nervosa porque alguém aqui em casa almoçou e não lavou a concha de feijão, se posso, feliz da vida, julgar quem não lava a louça num programa de TV? E a louça nem sobra para mim!

O reality é o capitalismo em estado puro. Até edredon a gente quer comprar. E o marketing mostra seu poder diariamente. Lá vamos nós ter vontade de comer Mc Donalds em uma quarta à noite mesmo que o jantar esteja prontinho na geladeira esperando para entrar no micro-ondas. É a gente salivando por uma garrafa de Coca-Cola logo 17 dias depois do réveillon em que prometemos não tomar refrigerante por 365 dias.

E tem a festa, né? Quando a gente fecha o computador cansado em uma sexta-feira à noite, sem vontade nenhuma de sair, lembra que tem show do Thiaguinho, seis cervejas na geladeira e pronto: é só dar a largada.

Dá para entender a mulher chorando sentada no chão em frente à casa de vidro, emocionada. Teve eleição, teve Copa do Mundo, teve gente acampada em quartel, teve Natal, teve ano-novo, teve chuva na praia de todo mundo, teve até tentativa de derrubar a democracia e destruir nosso patrimônio público. Se tem algo que a gente merece é não pensar em nada disso.

Quem sabe a solução para nossa saúde mental seja fingir que está deitada em volta de uma piscina fofocando com gente que acabou de conhecer. E preocupada que a marquinha do biquíni fique no lugar certo — você acha que a vida é fácil? Cada um sabe a dimensão dos problemas que aguenta enfrentar.

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