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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tirullipa fora da Farofa: violência é diferente de brincadeira de mau gosto

Tirullipa perde perdão após expulsão da Farofa da Gkay por assédio - Divulgação
Tirullipa perde perdão após expulsão da Farofa da Gkay por assédio Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

07/12/2022 11h44

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Como é que a gente explica para um homem a diferença entre brincadeira e violência? Tirullipa achou que estava brincado na Farofa da Gkay e puxou a cordinha de biquínis de várias influencers que estavam em uma banheira — um tipo de releitura da banheira do Gugu dos anos 90. Ele achou que seria engraçado deixar as moças nuas. Elas não acharam.

Ele foi expulso pela anfitriã, sua amiga Gkay, por ter cometido assédio. Nem assim o humorista entendeu: foi às redes sociais pedir desculpas pelo que chamou de "brincadeira de mau gosto".

Desde a infância, meninos violentam outros meninos com tentativas de desnudá-los. Acontecia na quinta série, você lembra? Abaixar a calça do outro era o conceito máximo do bufão em sala de aula. A vítima, entre constrangida e raivosa, se apressava para levantar a calça e se cobrir, antes de correr enfurecida atrás do agressor. Há quem diga que era engraçado. Eu só via violência e vergonha. Na vida adulta, desnudar o outro à força é assédio. É vexatório para o agressor.

A atitude de Tirullipa resume uma série de assédios que estamos acostumadas a ver. Um grupo de mulheres se esfregando de biquíni está pedindo para ter seus trajes de banho arrancados à força? Não.

O sexo é livre, a bagunça parece generalizada, a pegação deixa tudo com cara de terra sem lei... mas mesmo nesse contexto, só é possível fazer com o outro o que o outro deixa que façam. O nome disso é consentimento.

Tirullipa é um humorista que ainda vive nos moldes do humor dos anos 90, talvez. Viu uma banheira com mulheres seminuas e espuma e achou que estava em algum lugar do passado, no domingo à tarde, na TV aberta. Numa nem tão fictícia realidade paralela, há 30 anos, eu e outras mulheres enfrentaríamos a violência como fato casual. Teríamos medo de andar de biquíni no dia seguinte. Não hoje. A Gkay do presente faz o difícil papel de expulsar um amigo de sua própria festa e coloca todo mundo em alerta. Se esfregar é uma delícia, desde que eu deixe você se esfregar em mim. Caminhamos.

Você vai poder ver nos comentários desse texto homens raivosos contestando o irracional: "então mulher pode fazer putaria quando quer e o homem não pode tirar vantagem disso?" A resposta é: isso mesmo. A putaria só é vantajosa quando é legal para todo mundo. Taí um modo de vida democrático de verdade. O resto é violência.

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