Joyce Pascowitch

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Opinião

Problemão para a Globo: afinal, o que querem os novos noveleiros?

Essa é realmente uma pergunta difícil de responder. Principalmente para os altos executivos da TV Globo que têm tentado arduamente resolver esse enigma, alavancando assim as audiências de suas três novelas atualmente no ar. A tarefa me parece bastante inglória por vários motivos, entre eles o fato de as novelas realmente não estarem atraindo mais o tanto que deveriam atrair e principalmente porque a nova geração não parece nem um pouco interessada nesse tipo de conteúdo nesse formato.

Talvez aquela dependência que o brasileiro tinha - eu incluída - em epopeias que duravam meses, isso não existe mais. Os tempos são outros e uma agilidade maior tanto no conteúdo quanto na edição seria necessária: mais movimento, mais recortes em menos capítulos. Afinal, para que servem as novelas mesmo? Pra fazer a gente sonhar, pra fazer a gente sair um pouco da nossa realidade, naqueles 50 minutos de sonho.

Como é bom viver a história dos outros, a saga, os perrengues e os amores de gente com quem aprendemos a conviver no dia a dia. Sim, todo mundo diz que o modelo antigo de novelas está arcaico, ultrapassado, mas quando a gente vê sucessos tipo "Succession" e "White Lotus" no streaming, a gente percebe que ainda tem espaço para muita coisa boa: uma saga, uma pequena epopeia bem escrita, bem produzida, bem dirigida.

Ficção é bom e todo mundo precisa. Não sei por que, desde que pensei neste texto, me veio na cabeça Bráulio Pedroso, na minha opinião um dos melhores autores de novela de todos os tempos, um pré-Gilberto Braga com qualidades nunca mais vistas. São coisas que ficaram lá atrás no passado, mas sinto muita falta de conteúdos como os dele, que misturavam crimes, histórias de amor, traições, alta sociedade, tudo na medida certa com atores incríveis.

É fato que os criadores vão mudando assim como a audiência. Mas o que será feito desses horários fixos tipo novela das seis, novela das sete, novela das nove? Como mudar esse hábito dentro da velha audiência, que não pode ser ignorada, e nem a nova, que exige mudanças urgentes? Como a gente falou, a audiência não é mais a mesma e por que então essa resistência em ser readaptar aos tempos de hoje? Millennials não assistem à TV, muito menos aberta. A geração que tem hoje entre 40 ou 50 anos não parece estar aceitando também esse tipo de produtos.

Se novelas antigas revisitadas e repaginadas, na maioria das vezes, também não estão rolando, o que vai ser de nós, noveleiros antigos e modernos? Que fique claro que "Pantanal" foi uma exceção, mas o que será de "Vale Tudo", prevista para logo mais? Sempre acho que tem espaço para a criação de novos produtos, mesmo num formato preestabelecido. Prova disso foi a novela "Vai na Fé", de Rosane Svartman, que trouxe o mundo evangélico pro horário das sete misturado com funk e muito sucesso. Eu assisti do começo ao fim e garanto, que novela bem escrita, bem pensada, lançada na hora certa com temas atuais e necessários tola. A audiência não me deixa mentir.

Mas essa conjunção toda raramente acontece e eu me pergunto: será que esses autores todos, esses gênios, vão conseguir se reinventar? E onde estão os novos talentos? Será que a TV Globo vai querer arriscar? Eu por aqui só fico sonhando em ter o mais breve possível uma novela que me faça ligar a televisão todos os dias naquele horário, que me faça ficar grudada na tela e que me faça ter vontade de discutir no dia seguinte tudo o que aconteceu no capítulo anterior.

Não sei se vocês concordam, mas a TV é uma grande ferramenta e é realmente uma grande pena que esse formato não seja resgatado, revistado segundo o paladar do século 21. A vida sem ficção se torna ainda mais difícil. Que os deuses iluminem as mentes dos criadores para que a gente tenha dias melhores e noites que ajudem a vitaminar nossas almas. Amém.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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