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Flavia Guerra

REPORTAGEM

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Seu Jorge e Wes Anderson, a amizade que ultrapassa a tela: 'Alguém que amo'

Wes Anderson e Seu Jorge em encontro realizado em junho de 2017 - Reprodução/Instagram
Wes Anderson e Seu Jorge em encontro realizado em junho de 2017 Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

24/05/2023 13h03

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Seu Jorge não está presente em Cannes, mas ele ganhou um elogio especial de Wes Anderson durante entrevista sobre "Asteroid City", novo filme do diretor que foi apresentado esta semana no festival, e que mais uma vez tem o cantor brasileiro fazendo uma participação.

"Ele é alguém que eu amo. Eu o vi em 'Cidade de Deus' antes de a gente filmar 'A Vida Marinha com Steve Zissou'. A gente o contatou e ele disse que aceitaria trabalhar no filme e veio para a Itália. Ele é uma pessoa extremamente carismática, simpática", completou, citando filme que lançou em 2004 em que Seu Jorge interpreta canções de David Bowie em português.

Anderson rasgou elogios ao talento de Seu Jorge ao comentar o que o cantor fez com as canções de Bowie em "A Vida Marinha", um dos filmes mais festejados do diretor. "Eu não sabia que ele reinventou as músicas do Bowie. E isso foi totalmente algo que partiu dele. Ele nem sabia a maioria das canções e fez as versões dele. [...] Durante o processo, eu entendi que ele estava fazendo novas versões porque realmente achei que ele estava só traduzindo. E ele não estava."

"A gente mantém contato. Eu vou aos shows dele. Fui no show em Nova York, em Paris. Eu o convidei para 'Asteroid City' e ele estava com tempo para fazer esta participação. O bônus para nós foi o fato de que toda noite ele pegava o violão para cantar para a gente, depois do jantar. Isso é incrível", contou o cineasta, que concorre à Palma de Ouro com o novo filme.

Wes Anderson é daqueles diretores que, mesmo realizando filmes que não ousam nada além do seu estilo habitual, sempre causa alvoroço por onde passa. Isso porque o elenco de seus filmes é sempre uma constelação de estrelas capaz de mobilizar os mais diferentes fãs deste ou daquele astro de Hollywood.

Com "Asteroid City", que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023, Wes e sua trupe causaram um pequeno tumulto tanto na noite de terça, dia da première do filme, quanto na manhã de quarta, dia do encontro da equipe com a imprensa. O trânsito na Croisette, a avenida que margeia a praia de Cannes, parou para ver Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Maya Hawke, Bryan Cranston, Stephen Park, Jeffrey Wright and Rupert Friend passarem em direção ao Palais des Festivals, o centro nervoso do festival.

O filme conta ainda com estrelas como Margot Robbie, Tilda Swinton, Tom Hanks, Adrien Brody, Ed Norton, Steve Carell and Jeff Goldblum.

"Asteroid City" conta a história da comunidade de uma pequena cidade fincada no meio do deserto no sudoeste dos Estados Unidos: Asteroid City. Esta pequena cidade, famosa por abrigar uma cratera de meteoro e ter um observatório astronômico, está se preparando para receber a convenção Junior Stargazer, em 1955. A população está em polvorosa, com seus cientistas, soldados e famílias de todo o país, que querem descobrir as invenções espetaculares de alunos superdotados.

Mas a festa é arruinada, ou melhorada, quando ETs invadem a cidade. Em meio a isso, histórias quase episódicas interligam todos os personagens, como em todo filme de Wes, em uma teia complexa e criativa. Atenção especial para Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) e para a atriz Midge Campbell (Scarlett Johansson), destaques desta grande confusão.

Com aspecto de animação, calcado na tradicional paleta de cores forte e marcante em todos os trabalhos de Anderson, "Asteroid City" algumas vezes beira a animação e não por acaso o diretor preparou um storyboard (caderno com as cenas desenhadas) completo e complexo do filme.

Sobre o cuidado meticuloso que Anderson tem com todos seus trabalhos (em "Asteroid City", há até cenas em slow motion que aumentam a sensação de animação), Stephen Park, comentou que "se tivéssemos visto o storyboard, teria sido tão divertido e brilhante" quanto ver o próprio filme.

É este tom cartunesco que faz de "Asteroid City" mais um típico filme de Anderson, junto com a direção de arte primorosa, os movimentos de câmera bem marcados, em direção horizontal quase mecânica, a atuação também sempre calcada em "menos é mais". Isso pode ser bom, pois o diretor cada vez mais marca mais sua assinatura, mas pode também sinalizar uma certa estagnação, sem personagens que marcam o público com suas trajetórias.

Assim como seu filme exibido anteriormente em Cannes, "The French Dispatch", o jogral de vozes deixa a sensação de se ver uma grande crônica, mas não necessariamente engaja e emociona o público.