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O que faz do Tan Tan, em São Paulo, um dos 100 melhores bares do mundo

Thiago Bañares e a premiada equipe de bartenders do Tan Tan - Tati Frisson/Divulgação
Thiago Bañares e a premiada equipe de bartenders do Tan Tan
Imagem: Tati Frisson/Divulgação

Sergio Crusco

Colaboração para Nossa

10/10/2022 04h00

O Tan Tan Bar começou pequenino, em 2015, num imóvel estreito de Pinheiros, servindo massas asiáticas em poucas mesas e coquetéis num balcão munido com apenas três banquetas. A fama do então noodle bar foi avassaladora desde os primórdios.

Quem passava em desaviso pela calçada da Fradique Coutinho, quase esquina com Arthur Azevedo, podia imaginar que uma rave acontecia por ali, tamanha era a multidão que se espremia à espera de uma mesa.

O chef Thiago Bañares, fundador do Tan Tan, procurava um lugar maior, que pudesse suprir a fome do público por suas massas servidas no ponto, com caldos e molhos cheirosos. Em 2018, teve a sorte de conseguir alugar o imóvel vizinho, botou paredes abaixo e realizou o sonho que perseguia. Viajado, fã de bares e restaurantes pelo mundo, viu ali a chance de equiparar o conceito da coquetelaria ao da gastronomia na casa.

Bebidas da melhor qualidade e receitas originais executadas com técnica impecável fizeram o Tan Tan, repaginado, ser reconhecido como um dos mais interessantes endereços para beber em São Paulo. Em breve, a fama ganharia âmbito latino-americano e mundial, em forma de premiações.

Fachada do Tan Tan - Rubens Kato @kato78 - Rubens Kato @kato78
Fachada do Tan Tan
Imagem: Rubens Kato @kato78

Em 2020, o bar ganhou menção no ranking 50 Best Discovery, espécie de radar dos bares postulantes à lista The World's 50 Best Bars (que, na verdade, pontua 100 estabelecimentos). Em 2021, ficou entre os melhores da América Latina na premiação da Tales of the Cocktail Foundation, de Nova Orleans. No mesmo ano, apareceu em 85º na lista do 50 Best, subindo para a 62º posição entre os melhores do mundo no ranking de 2022, anunciado em 4 de outubro.

Por que beber no Tan Tan

O balcão do Tan Tan é grande, confortável e é numa de suas oito banquetas que você deve fazer a reserva, se gosta de ver a dança dos bartenders agitando coqueteleiras e copos de mistura.

Impressiona a cristaleira refrigerada em que descansam copos e taças, para manter a temperatura ideal dos líquidos. A rara coleção de bebidas e bitters é capaz de maravilhar quem busca sabores diferentes ou quer revisitar um clássico esquecido.

Interior do Tan Tan - Divulgação - Divulgação
Interior do Tan Tan
Imagem: Divulgação

A equipe é bem treinada, comunicativa, conhece com propriedade os coquetéis que prepara, sabe explicá-los em detalhes. Os cocktail geeks vão se deliciar em conversas sobre os pontos exatos de diluição do gelo, a alquimia de bases destiladas com amaros, xaropes e outros ingredientes, se o drinque fica melhor batido ou mexido — e qual a razão de tudo isso.

Quem não está nem aí para papos técnicos fará a cabeça com drinques balanceados, muito bem estruturados, que percorrem uma longa trilha de aromas, sabores e graduação alcoólica. O grau de drinkability da carta autoral está organizado em uma linha que vai do mais leve ao mais pancadão.

O que beber no Tan Tan

Duality, a nova carta criada por Thiago e pelo bartender parceiro Alex Mesquita, facilita a escolha com algumas palavras-chave sobre o sensorial de cada receita. O herbáceo, refrescante e carbonatado Herb*Ball (vodca, xarope de shissô, cordial de yuzu e água com gás) é o mais leve da turma, sutil e facílimo de beber. Encorpado, tostado e amargo, Bad Copy (vodca com infusão de gergelim tostado, tequila, café e xarope de açúcar) é o bate-estaca da casa.

Herb Ball - Tati Frisson/Divulgação - Tati Frisson/Divulgação
Herb Ball
Imagem: Tati Frisson/Divulgação
Bad Copy - Tati Frisson/Divulgação - Tati Frisson/Divulgação
Bad Copy
Imagem: Tati Frisson/Divulgação

Os novos coquetéis do Tan Tan puxam ingredientes da cozinha para a taça e estão baseados em cinco ingredientes (e não em bases alcoólicas): gergelim, framboesa, cumaru, o limão oriental yuzu e a erva shissô. Cada um desses elementos é tratado em duas técnicas: xaropes e infusões, formando pares de coquetéis. Em cada receita, uma interpretação diferente para o produto.

A dualidade fica fácil de ser entendida na comparação entre dois preparos com o yuzu kosho, pasta da fruta macerada com sal e especiarias. Yellow Rocket tem gim infusionado com yuzu, rum envelhecido, xarope de lichia e limão siciliano. É um drinque solar, refrescante, cítrico, de aromas abertos, refrescante.

Yellow Rocket - Tati Frisson/Divulgação - Tati Frisson/Divulgação
Yellow Rocket
Imagem: Tati Frisson/Divulgação

Yuzu Martini tem a mesma pasta, só que dessa vez processada em xarope. A base também é de gim, mais saquê licoroso e siciliano. É um trago elegante, absurdamente delicado e bastante complexo. Toques salinos, cítricos e um discreto dulçor misturam-se no paladar. Seu equilíbrio esconde qualquer sensação alcoólica na boca, o que faz dele um drinque "perigoso" — não nos damos conta de sua potência.

Sobrevivem no menu algumas opções de cardápios antigos do Tan Tan, como o intrigante Dirty Collins, com gim, água de azeitona, limão siciliano e água com gás, alquimia ultrarrefrescante e salina herdada do período em que o bartender Douglas Peres chefiou a barra. Da carta passada, já com consultoria de Alex, o adocicado Cantaloupe Island é um dos mais pedidos, com bourbon, ginger ale, melão cantaloupe, limão-taiti e Angostura. Sai que nem pipoca em porta de circo.

A seção de clássicos traz receitas tradicionais como Daiquiri, Sazerac, Paper Plane, Rabo de Galo e Dry Martini. Também tem drinques obscuros, aqueles que só os nerds do bar conhecem: Mark Twain, Fanciulli, Old Hickory, Tuxedo #4 e Bitter Giuseppe. Dependendo da disponibilidade de ingredientes, a equipe pode executar clássicos que não estejam listados - basta pedir ou aceitar sugestões.

Thiago Bañares e a equipe do Tan Tan em ação - Tati Frisson/Divulgação - Tati Frisson/Divulgação
Thiago Bañares e a equipe do Tan Tan em ação
Imagem: Tati Frisson/Divulgação

Thiago Bañares, evidentemente radiante com a segunda inclusão do Tan Tan no 50 Best, acredita que a lista sirva como um bom parâmetro para quem viaja o mundo em busca do coquetel perfeito.

"É difícil ter uma péssima experiência nos bares do 50 Best e também mostra como bares de conceitos bastante diferentes podem coexistir. A pessoa pode querer ir ao Connaught, em Londres, um bar de hotel clássico e fancy, ou ao Two Schmucks, em Barcelona, um lugar informal, underground e mais barulhento. Temos momentos em que queremos beber de acordo com nosso humor, nosso estado de espírito, e é isso que vale", diz.