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Ela descobriu tarde as viagens e não parou: aos 69, faz trekking pelo mundo

Trekking ao Mera Peak, no Nepal, um dos mais desafiadores de Beatriz Pianalto de Azevedo - Arquivo pessoal
Trekking ao Mera Peak, no Nepal, um dos mais desafiadores de Beatriz Pianalto de Azevedo Imagem: Arquivo pessoal

Gisele Rodrigues

Colaboração para Nossa

21/02/2022 04h00

Carregando na mochila uma coleção de histórias e muitas aventuras, a aposentada Beatriz Pianalto de Azevedo, 69, mora hoje em um sítio na região do Jalapão, no Tocantins. Mas foi aos quase 50 anos que a andarilha começou a descobrir a felicidade de viajar.

Ex-assessora de juiz e mãe de um menino, foi depois de uma depressão profunda que ela encontrou no esporte de aventura uma nova paixão. O primeiro trekking foi em 2005, em Machu Picchu, e longe de ser tranquilo.

"Foi bem pesado, porque tem trajetos onde você tinha encostas de montanhas de mais de 3 mil metros alcançando um passo de 4.100 metros", lembra. Depois da viagem, Beatriz ficou muito doente, e 10 dias em um hotel, sem poder se locomover.

Trekking ao Condoriri, na Bolívia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Trekking ao Condoriri, na Bolívia
Imagem: Arquivo pessoal
Deserto do Saara, no Marrocos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Deserto do Saara, no Marrocos
Imagem: Arquivo pessoal

Depois dessa viagem ela começou a praticar outros esportes, como o canoísmo, ciclismo, escalada e hoje em dia o remo.

Viajar é muito visceral. Quando me estabilizei depois dos 50 é que eu comecei a viajar, e foi mesmo na aposentadoria aos 64 anos que eu comecei a fazer tudo o que eu queria".

Caçadora de grandes montanhas

A esportista começou a ficar fascinada pelas montanhas, e embarcou em seus grandes trekkings em altas altitudes, como no Nepal. E foi lá que ela fez uma de suas viagens mais desafiadoras e até mesmo perigosas, ao subir para o Mera Peak, considerado o mais alto "trekking peak" do país, com 6.476 metros de altitude.

Foram sete dias de caminhada até o meio do glaciar, mas quando restava apenas 600 metros para chegar ao cume, eu estava muito cansada, e começou um nevoeiro que me impedia de conseguir enxergar, resolvi desistir e voltar".

Topo do Jbel Toubkal, em Marrocos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Topo do Jbel Toubkal, em Marrocos
Imagem: Arquivo pessoal

Apesar de não chegar ao cume, a aposentada subiu 5.800 mil metros de altitude de uma das montanhas mais altas do país, e a tempestade de neve também bloqueou o aeroporto da cidade onde ela retornaria ao Brasil. Mas esse foi só o início de uma jornada pelo país, onde ela depois chegou a fazer outros dois trekkings.

"Já fiz cumes de até 6.000 metros, no máximo. Mas agora meu limite é 4.000 metros. A última montanha que eu subi foi no Marrocos, Jebel Toubkal, segunda maior montanha da África, em 2018", relata.

Thimpu, no Butão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thimpu, no Butão
Imagem: Arquivo pessoal

De remo e bike

A aposentada já fez montanhismo na América do Sul (Peru, Bolívia e Chile) e na Ásia (Nepal, Paquistão e Butão). Já aqui no Brasil, ela percorreu as travessias na Mantiqueira, como Serra Fina, além dos Marins-Itaguaré e Trilha do Segredo.

Em outra aventura mais ousada, ela chegou ao Pico da Neblina e os picos Caratuva e Paraná, no Paraná. Já no Rio de Janeiro, ela subiu a montanha de Petro-Teresópolis, a Pedra da Gávea, e os mais famosos picos da Tijuca e do Papagaio.

Trekking na Serra da Canastra, Minas Gerais - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Trekking na Serra da Canastra, Minas Gerais
Imagem: Arquivo pessoal

Além do trekking, a aposentada também vem praticando e descobrindo outros esportes nos últimos anos, como o remo e o pedal. Em 2015, Beatriz percorreu 480 quilômetros durante sete dias o roteiro do Chuí, Rio Grande do Sul, até Montevideu, no Uruguai.

Uma das viagens mais incríveis foi ter atravessado o Brasil até o Uruguai com três amigas, sem nenhum carro de apoio, só com alforges. Conhecer vários lugares, e pessoas pelo caminho. É durante esses pedais que eu acabo aprendendo ainda mais sobre o esporte e melhorando as minhas condições".

Sozinha pelo Brasil

Beatriz adquiriu um bloqueio de dirigir carro após um acidente na juventude e o medo a impedia de realizar o seu sonho de explorar o Brasil de carro sozinha, mas foi quando parou de trabalhar que resolveu se desafiar, começando pelo Rio Grande do Sul e passando por Cuiabá, Brasília, até a Chapada dos Veadeiros.

Da Chapada, fez expedição até Palmas e Jalapão. "Me apaixonei por lá, e comprei um sítio nessa região, que hoje é a minha casa", conta.

Depois, seguiu sozinha até o Maranhão, conheceu o Delta do Parnaíba, desbravou a costa do Nordeste, Paraíba, Piauí — onde explorou o Parque Nacional das Sete Cidades e o Parque Nacional da Capivara. Também passou por Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

"Bea", como carinhosamente é chamada pelos amigos e familiares, hoje tem um neto e afirma que, depois de da sua mudança de vida, a relação com o filho ficou ainda mais próxima.

Quando eu viajo fico com saudades, mas sei que volto em breve. Eu sempre vou ter uma base, não tenho medo de ficar longe da família. Agora estou reconstruindo a minha família."