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"Champions gastronômica" tem nº 1 nada novo e apenas um brasileiro na lista

Foto dos premiados do The World"s 50 Best Restaurants 2021 - Divulgação
Foto dos premiados do The World's 50 Best Restaurants 2021
Imagem: Divulgação

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa, da Antuérpia (Bélgica)

06/10/2021 10h51

Levou dois anos e três meses para que um novo "melhor restaurante do mundo" fosse conhecido e finalmente pegasse o bastão que, em 2019, ficou com o Mirazur, na França.

Se a pandemia afetou o funcionamento da restauração no mundo todo, também atrapalhou significativamente os planos dos maiores eventos gastronômicos, como é o caso do famoso (e controverso) The World's 50 Best, que reconhece os 50 melhores restaurantes de todo o mundo.

Este ano, quem lidera o topo do ranking já é um velho conhecido da lista: o Noma, restaurante em Copenhague que tem a frente o chef René Redzepi, conhecido por liderar o movimento da "nova culinária nórdica".

Nem tão novo ranking

Não é a primeira vez que o Noma alcança o posto máximo da gastronomia mundial: outras quatro vezes (2010, 2011, 2012 e 2014) o restaurante já tinha sido considerado o melhor do mundo.

Em 2019, em busca de maior alternância de nomes, os criadores do prêmio decidiram tornar inelegíveis aqueles eleitos em primeiro — e, assim, criar uma categoria especial para eles, chamada de The Best of the Best.

Equipe do premiado Noma, no The World's 50 Best Restaurant 2021 - Divulgação - Divulgação
Equipe do premiado Noma, no The World's 50 Best Restaurant 2021
Imagem: Divulgação

Mas o Noma, por ter se mudado para um espaço totalmente novo, com menu renovado (onde há apenas menu-degustação), voltou ao páreo graças à sua versão "2.0", se tornando apto a ganhar novamente o prêmio em 2021.

Na última edição (em 2019), o restaurante tinha ficado em segundo, o que já era uma pista que deveria ascender ao topo.

Acho que só a minha mãe deve acreditar que somos mesmo o melhor restaurante do mundo", brincou Redzepi, em seu discurso de agradecimento.

René Redzepi, chef dinamarquês e co-proprietário do restaurante Noma, na coletiva do The World's 50 Best Restaurants 2021 - Divulgação - Divulgação
René Redzepi, chef dinamarquês e co-proprietário do restaurante Noma, na coletiva do The World's 50 Best Restaurants 2021
Imagem: Divulgação

No palco do Flanders Meeting Center, na Antuérpia, que este ano recebeu a premiação — chamada por uma das representantes do governo de "Champions League da gastronomia" — o chef fez um discurso emocionado em que agradeceu à sua equipe.

"Nosso segredo de sucesso tem 79 ingredientes", voltou a dizer em coletiva à imprensa, em referência aos seus colaboradores. "Nesses tempos difíceis, saber que eu tinha uma equipe tão empenhada foi fundamental para me sentir seguro", desabafou para uma audiência de jornalistas, especialistas e chefs — cerca de 40 dos 50 restaurantes premiados estavam presentes com seus representantes.

Reinvenção

No começo da pandemia, Redzepi decidiu transformar seu restaurante em uma espécie de hamburgueria ao ar livre, se aproveitando da estrutura de jardins e áreas verdes de Holden, o bairro banhado por canais em Copenhague onde o Noma está localizado.

"Tivemos que nos adaptar de diversas formas. Minha cabeça funcionou como um jogo de pingue-pongue nos últimos meses. Quando eu achava que tinha alguma certeza, voltava pra mim mais uma dúvida".

Noma, o melhor restaurante do mundo

Hoje, o restaurante oferece seus menus por temporadas, como Caça, Frutos do mar e Vegetariano, nos quais os ingredientes vêm dos fiordes, florestas e outras paisagens nórdicas, em uma celebração da natureza (e sua sazonalidade) no prato. O menu custa cerca de R$ 2.300,00.

"É uma honra estar de volta a este palco. Na primeira vez que subi aqui, há mais de 10 anos, isso afetou o meu sistema nervoso, de certa forma o sistema de restaurantes da Dinamarca e, claro, nosso sistema de reservas", brincou.

Na coletiva de imprensa, Mauro Colagreco, o chef que detinha o prêmio desde então (dado em 2019, a última vez que a premiação ocorreu) confirmou: "ganhar este prêmio foi a maior loucura que nos aconteceu. De um dia para o outro, choviam pedidos de reserva", afirmou.

Geopolítica gastronômica

De uma maneira geral, todos os restaurantes da lista se beneficiam da publicidade que ela traz. Mesmo controverso (há quem diga que os parâmetros de voto, em que mais de mil especialistas ao redor do mundo fazem suas escolhas, não são tão justos), o ranking ajudou a criar o novo panorama geopolítico da gastronomia no mundo.

Massimo Bottura, que já teve seu Osteria Francescana como melhor do mundo, foi o animado host do evento de 2021 - Divulgação - Divulgação
Massimo Bottura, que já teve seu Osteria Francescana como melhor do mundo, foi o animado host do evento de 2021
Imagem: Divulgação

Ainda que a maioria dos restaurantes (neste ano, 26 deles) estejam na Europa, em um claro eurocentrismo da premiação, há restaurantes de outros continentes do planeta, como Ásia (9), América do Norte (8), África (1) e América do Sul (6).

Desta última, o Brasil teve representação com apenas um restaurante, A Casa do Porco (em São Paulo), que conseguiu a sua melhor posição na lista: ficou entre os 20 melhores, no número 17.

Ainda não estou acreditando, é uma felicidade imensa, difícil de descrever", confidenciou à Nossa a chef Janaína Rueda.

O seu marido e sócio, Jefferson Rueda, diz que vê o prêmio como uma grande conquista para a gastronomia brasileira, ainda que "faltem mais representantes brasileiros na lista".

"Nós temos muitos restaurantes incríveis, que mereciam estar aqui", disse. Entre os 51-100 colocados, uma espécie de "off-lista" que passou a ser divulgada há dois anos, o Brasil conta com outros três representantes: D.O.M. (em São Paulo), Lasai e Oteque (no Rio de Janeiro).

"Acredito que haja um potencial enorme de novos chefs e de chefs que já têm trabalhos sólidos há muitos anos que também merecem estar entre os melhores do mundo", acrescenta Janaína. "Torço por isso!"