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Os vários carnavais da Argentina, um mosaico de culturas, paixão e altitude

Os desfiles de Carnaval 2022 em Corrientes, na Argentina, iniciados nesta quarta (23) - Reprodução/Twitter
Os desfiles de Carnaval 2022 em Corrientes, na Argentina, iniciados nesta quarta (23) Imagem: Reprodução/Twitter

da EFE, em Buenos Aires

24/02/2022 11h11

Em seu vasto território, a Argentina reúne um sem-fim de carnavais que valorizam a cultura local e a influência dos países vizinhos; um leque de celebrações que, rodeado de alegria, e em pleno verão, assume formas diferentes de acordo com cada região, mas sempre com a paixão como denominador comum.

De Jujuy, na fronteira com a Bolívia, a Tierra del Fuego, porta de entrada para a Antártida, o oitavo maior país do planeta celebra uma tradição que logo adota as cores andinas em Humahuaca ou em um dos carnavais mais altos do mundo, em Salta; assim como toma a forma de brilhantes blocos em Corrientes e Entre Ríos ou dança ao ritmo da murga em La Rioja ou Buenos Aires.

Em 2011, a Argentina voltou a decretar feriado na segunda e na terça-feira de Carnaval, depois de ter a festa sido abolida pela última ditadura em 1976, o que torna este fim de semana prolongado um dos mais turísticos do ano. E, nesta ocasião, a alegria para os amantes do carnaval é dobrada após a ausência de comemorações em 2021 por conta da covid-19.

Corrientes

"A convicção, o compromisso, o sentimento que há com o carnaval é muito forte. Aqui as pessoas estão dispostas a dar a vida com seu bloco, e de fato dão todas as noites que vêm dançar, e é um sentimento que vem do berço", contou à Agência Efe Sebastián Slobayen, ministro do Turismo da província de Corrientes, cuja cidade de mesmo nome é considerada a Capital Nacional do Carnaval.

Mais de 30 carnavais fazem desta província, que faz fronteira com Brasil, Paraguai e Uruguai, um autêntico templo carnavalesco, com mais de 5 mil trabalhadores ligados à confecção e desenvolvimento de figurinos e preparativos e quase 40 mil integrantes e dançarinos dos diferentes grupos artísticos, segundo dados fornecidos por Slobayen.

Na cidade de Corrientes, além das festas de rua, o destaque é seu corsódromo (o equivalente ao nosso sambódromo), com capacidade para milhares de pessoas, onde explodem a música e o brilho dos blocos: grupos com figurinos impressionantes e carros alegóricos que desfilam, dançam, animam, tocam instrumentos e competem entre si.

"Todos os blocos estão trabalhando ao longo do ano para desenvolver suas fantasias. Por exemplo, se alguém da família participa, toda a família está trabalhando para isso... As mães, as avós, os tios, os sobrinhos bordando as penas, pedrinhas... e quem participa passa o ano inteiro treinando as coreografias", detalhou o ministro.

"São muitos blocos, na primeira categoria acho que são cinco na capital de Corrientes e depois há cerca de mais 30 entre grupos musicais e de bairros, e isso é multiplicado por pelo menos 20 porque em toda a província existem cidades que têm grandes carnavais (...) O carnaval de Corrientes tem muito do carnaval brasileiro", comentou.

As raízes do carnaval de Corrientes remontam ao século 19, à festa de San Baltasar, ligada às correntes migratórias, segundo Slobayen. Neste ano, porém, a alegria está abafada pelos incêndios que assolam a província e que já fizeram as autoridades cogitarem a suspensão de algumas das festas.

Entre Ríos

Também na fronteira com o Uruguai, a província de Entre Ríos surge como a outra joia carnavalesca por excelência da Argentina, com 20 festas em seu território, que vão desde influências brasileiras e uruguaias até uma identidade puramente entrerriana.

A festa de Gualeguaychú, por exemplo, com seus mais de 120 anos de história, é conhecida como "O Carnaval do País".

"É reconhecida por todos e acho que faz jus a todo o trabalho de muitas pessoas que o fazem silenciosamente, desinteressadamente, com muita paixão", declarou Gastón Irazusta, secretário de Turismo de Entre Ríos.

Durante dez noites, do início de janeiro ao final de fevereiro, os mais de 500 metros do corsódromo da cidade — inaugurado há 25 anos — tornam-se o centro das atenções, com os desfiles de cinco blocos e 15 carros alegóricos impressionantes, com mais de mil pessoas e 70 mil plumas.

Noites mágicas, com os blocos disputando o título de campeão após um ano inteiro de intenso trabalho — nesse sentido, o secretário destaca a fortíssima indústria cultural gerada em torno do carnaval —, às quais se somam, todas as sextas-feiras, os coloridos desfiles populares que tomam as ruas da cidade.

Além de Gualeguaychú, localizada a apenas 240 quilômetros de Buenos Aires, em Entre Ríos também se destacam os carnavais de Concordia, Gualeguay e Concepción del Uruguay.

"Cada um tem sua diversidade e o bom disso tudo é que não são exatamente iguais. Cada um tem seus ingredientes", destacou Irazusta.