E se restaurantes adotassem preço dinâmico como no Uber? Prepare-se: vem aí
O Uber fica mais caro quando chove. Os preços dos voos aumentam nos feriados. Os hotéis cobram o dobro aos finais de semana. Trata-se de uma das mais básicas leis do livre mercado, uma simples questão de oferta e demanda.
"Mas por que os restaurantes sempre devem cobrar o mesmo preço pelo menu?", pergunta o empresário e chef ítalo-dinamarquês Christian Puglisi em um vídeo em seu perfil do Instagram.
A ideia que ele defende parece simples: toda a indústria de serviços pratica preços dinâmicos. Nos dias mais concorridos, os preços sobem. Conforme a procura desce, os valores caem também.
Seria o caso de pensarmos em algo semelhante para os estabelecimentos que têm o serviço de comida como principal negócio.
Nas noites de segunda ou nas primeiras horas de uma quarta-feira, quando só estão lá um casal com filho ou duas amigas senhoras, por que os valores do menu não poderiam ser mais baratos, entre 10, 15 ou até 25%, como sugere Puglisi.
Pelos comentários (centenas) que o post rendeu, não parece ser uma ideia assim tão disparatada. Muitos donos de restaurantes ecoaram a ideia.
Na verdade, alguns serviços de reserva já testam a fórmula dinâmica: o Tock, por exemplo, permite reservar mesas e garantir um valor mais barato dos menus em dias concorridos.
Nos últimos dois anos, a porcentagem de restaurantes que preferem usar os preços variáveis através do sistema criado nos EUA cresceu para quase 40%.
O TheFork, uma das mais conhecidas plataformas de reservas, também tem testado estratégias nesse sentido para alguns clientes.
A questão dos preços variáveis, se adotados em restaurantes, pode representar outro lado da história: nos dias muito concorridos (pense em Dia das Mães, por exemplo), os valores podem inclusive aumentar.
Uma prática, aliás, já levada a cabo de certa maneira por alguns restaurantes em celebrações como Dia dos Namorados.
Devido à enorme procura, muitos criam menus especiais para a data como forma de garantir um maior faturamento — e evitar o casal que quer namorar com uma garrafa de Coca-Cola como testemunha.
Neste caso, não seria necessário "inflacionar" os cardápios exclusivos para as datas: a própria alta procura já justificaria que os preços dos pratos correntes pudessem subir alguns reais.
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Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberEnquanto o assunto ainda é visto como tabu por muitos, especialistas do mercado dizem que é uma das únicas maneiras possíveis de restaurantes se tornarem empresas verdadeiramente lucrativas.
Os altos custos dos alimentos, aliada à escassez de mão de obra, têm feito com que empreendimentos do setor passem a cogitar cada vez mais a ideia — ainda que ela pareça pouco popular aos clientes.
Been parked outside of Wendy?s for the past 6 hours trying to time the perfect entry price for a Big Bacon Classic ($1.20 to $1.60) pic.twitter.com/L9qmfM7NcQ
? Trung Phan (@TrungTPhan) February 29, 2024
O CEO da rede Wendy's, uma das mais famosas nos EUA, afirmou que, a partir de 2025, a empresa começará "a testar recursos mais aprimorados, como preços dinâmicos e ofertas de períodos do dia, juntamente com mudanças de menu habilitadas para IA e vendas sugestivas.
Kirk Tanner se referia a um investimento de 20 milhões de dólares que permitiria que os menus das lojas da cadeia de fast food mudassem em tempo real, alterando os produtos e os preços com base na hora do dia e na procura.
As notícias que circularam sobre a estratégia renderam uma dor de cabeça para ele e para sua equipa de marketing, que teve que vir a público explicar que preços dinâmicos não seriam usados para aumentar os preços, mas sim "oferecer descontos e ofertas de valor aos nossos clientes com mais facilidade, especialmente nos horários mais lentos do dia".
Falar de aumento de preços é algo que arrepia os pelos de qualquer consumidor, mas talvez isso seja mais comum no futuro, à medida que as pessoas se acostumem com a ideia.
Nick Kokonas, cofundador da Tock, acredita que os preços dinâmicos serão inevitáveis. "[Tudo] será delimitado geograficamente para nosso dispositivo móvel e o preço será baseado na demanda e disponibilidade. Parecerá estranho que o preço [dos menus] tenha sido alguma vez fixo", afirmou ele em entrevista ao MAD.
A questão é tentar entender se os clientes estariam dispostos a pagar por valores mais caros — ainda que a implantação dos "preços dinâmicos" possa significar que por vezes eles possam chegar a pagar mais barato em algumas ocasiões.
Ainda é estranho pensar que ir a um restaurante possa significar pagar 100, 200 ou 300 reais a depender se mais pessoas tiverem a mesma ideia naquela quinta-feira à noite.
Muitos especialistas, porém, defendem que deverá ser um caminho sem volta: como querer ir para a Disney nas férias de julho com a certeza que o preço estará, no mínimo, o triplo.
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