Rafael Tonon

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E se restaurantes adotassem preço dinâmico como no Uber? Prepare-se: vem aí

O Uber fica mais caro quando chove. Os preços dos voos aumentam nos feriados. Os hotéis cobram o dobro aos finais de semana. Trata-se de uma das mais básicas leis do livre mercado, uma simples questão de oferta e demanda.

"Mas por que os restaurantes sempre devem cobrar o mesmo preço pelo menu?", pergunta o empresário e chef ítalo-dinamarquês Christian Puglisi em um vídeo em seu perfil do Instagram.

A ideia que ele defende parece simples: toda a indústria de serviços pratica preços dinâmicos. Nos dias mais concorridos, os preços sobem. Conforme a procura desce, os valores caem também.

Seria o caso de pensarmos em algo semelhante para os estabelecimentos que têm o serviço de comida como principal negócio.

Nas noites de segunda ou nas primeiras horas de uma quarta-feira, quando só estão lá um casal com filho ou duas amigas senhoras, por que os valores do menu não poderiam ser mais baratos, entre 10, 15 ou até 25%, como sugere Puglisi.

Pelos comentários (centenas) que o post rendeu, não parece ser uma ideia assim tão disparatada. Muitos donos de restaurantes ecoaram a ideia.

Na verdade, alguns serviços de reserva já testam a fórmula dinâmica: o Tock, por exemplo, permite reservar mesas e garantir um valor mais barato dos menus em dias concorridos.

Nos últimos dois anos, a porcentagem de restaurantes que preferem usar os preços variáveis através do sistema criado nos EUA cresceu para quase 40%.

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O TheFork, uma das mais conhecidas plataformas de reservas, também tem testado estratégias nesse sentido para alguns clientes.

Pubicidade do TheFork, plataforma que já está testando novos modos de precificação
Pubicidade do TheFork, plataforma que já está testando novos modos de precificação Imagem: Reprodução

A questão dos preços variáveis, se adotados em restaurantes, pode representar outro lado da história: nos dias muito concorridos (pense em Dia das Mães, por exemplo), os valores podem inclusive aumentar.

Uma prática, aliás, já levada a cabo de certa maneira por alguns restaurantes em celebrações como Dia dos Namorados.

Devido à enorme procura, muitos criam menus especiais para a data como forma de garantir um maior faturamento — e evitar o casal que quer namorar com uma garrafa de Coca-Cola como testemunha.

Neste caso, não seria necessário "inflacionar" os cardápios exclusivos para as datas: a própria alta procura já justificaria que os preços dos pratos correntes pudessem subir alguns reais.

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Enquanto o assunto ainda é visto como tabu por muitos, especialistas do mercado dizem que é uma das únicas maneiras possíveis de restaurantes se tornarem empresas verdadeiramente lucrativas.

Os altos custos dos alimentos, aliada à escassez de mão de obra, têm feito com que empreendimentos do setor passem a cogitar cada vez mais a ideia — ainda que ela pareça pouco popular aos clientes.

O CEO da rede Wendy's, uma das mais famosas nos EUA, afirmou que, a partir de 2025, a empresa começará "a testar recursos mais aprimorados, como preços dinâmicos e ofertas de períodos do dia, juntamente com mudanças de menu habilitadas para IA e vendas sugestivas.

Kirk Tanner se referia a um investimento de 20 milhões de dólares que permitiria que os menus das lojas da cadeia de fast food mudassem em tempo real, alterando os produtos e os preços com base na hora do dia e na procura.

As notícias que circularam sobre a estratégia renderam uma dor de cabeça para ele e para sua equipa de marketing, que teve que vir a público explicar que preços dinâmicos não seriam usados para aumentar os preços, mas sim "oferecer descontos e ofertas de valor aos nossos clientes com mais facilidade, especialmente nos horários mais lentos do dia".

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Falar de aumento de preços é algo que arrepia os pelos de qualquer consumidor, mas talvez isso seja mais comum no futuro, à medida que as pessoas se acostumem com a ideia.

Nick Kokonas, cofundador da Tock, acredita que os preços dinâmicos serão inevitáveis. "[Tudo] será delimitado geograficamente para nosso dispositivo móvel e o preço será baseado na demanda e disponibilidade. Parecerá estranho que o preço [dos menus] tenha sido alguma vez fixo", afirmou ele em entrevista ao MAD.

A questão é tentar entender se os clientes estariam dispostos a pagar por valores mais caros — ainda que a implantação dos "preços dinâmicos" possa significar que por vezes eles possam chegar a pagar mais barato em algumas ocasiões.

Ainda é estranho pensar que ir a um restaurante possa significar pagar 100, 200 ou 300 reais a depender se mais pessoas tiverem a mesma ideia naquela quinta-feira à noite.

Muitos especialistas, porém, defendem que deverá ser um caminho sem volta: como querer ir para a Disney nas férias de julho com a certeza que o preço estará, no mínimo, o triplo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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