Rafael Tonon

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Por que pediremos menos delivery em 2024? Veja esta e mais apostas à mesa

Já é uma tradição de final de ano, tal como as músicas da Simone e da Mariah Carrey no talo nos alto-falantes das lojas e a correria para encontrar vagas nos shoppings.

Tentar prever como vamos comer no ano seguinte se tornou um exercício muito habitual nessa época — e muito lucrativo.

Empresas de pesquisas de mercado e de tendências trabalham o ano todo para criar relatórios que são vendidos por muitos dólares para empresas do setor.

Nessa corrida de apostas (afinal, não se trata de uma ciência exata) para tentar antever o comportamento do consumidor à mesa, um acerto pode indicar excelentes taxas de lucro.

Mas nem sempre a "bola de cristal" está bem sintonizada: listas do ano passado previam o fim dos restaurantes fine dining e um aumento de receitas feitas com cannabis.

Os restaurantes de luxo continuam aí e os componentes da maconha (como o CBD e o THC) não parecem ter encontrado um caminho muito bem sucedido nos pratos.

Receitas com cannabis eram uma aposta para 2023, mas não vingaram
Receitas com cannabis eram uma aposta para 2023, mas não vingaram Imagem: Boston Globe via Getty Images

Mas um apelo por produtos mais sustentáveis, por um protagonismo dos produtores e por alimentos mais acessíveis — em tempos de crises econômicas — parecem mesmo ter entrado no radar dos consumidores, como muitos previam.

Uma das empresas mais respeitadas nesse setor de projeções de mercado, a Mintel aposta que "os alimentos e bebidas devem ser saborosos, valer a pena e ter impacto ambiental e/ou ético reduzido, de preferência sem preço mais elevado".

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O relatório da empresa aponta mudanças dos consumidores a partir dos efeitos persistentes da pandemia da covid-19, a instabilidade económica flutuante, a crescente agitação política e a nova inteligência artificial em cada esquina.

Muitos consumidores sentem-se sobrecarregados e distraídos, resultando em mudanças comportamentais interessantes Jenny Zegler, diretora de Alimentos e Bebidas da Mintel

A empresa selecionou três macrotendências para 2024. A primeira delas é a que chama de "confiar no processo", ou seja, criar uma relação de maior comunicação com o consumidor, principalmente nas embalagens.

Isso para ajudá-lo "a tomar decisões informadas sobre como os alimentos e bebidas processados e ultraprocessados se enquadram nas suas dietas". Outra tem a ver com alimentos que podem nos ajudar a envelhecer melhor.

De olho nas embalagens: rótulos mais detalhados ajudarão nas decisões
De olho nas embalagens: rótulos mais detalhados ajudarão nas decisões Imagem: Getty Images

Isso significa desde supermercados que possuem consultores para indicar alimentos que ajudem a conter os efeitos da menopausa até bebidas (como sucos e leites de vegetais) que contenham antioxidantes e nutrientes capazes de melhorar o sistema imunológico.

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A última tem a ver com comer de maneira mais otimizada: usar a tecnologia como forma de conveniência para simplificar o planejamento de refeições, compras e culinária.

Com menos tempo e mais confiança na tecnologia, aplicativos que usam a inteligência artificial para criar receitas com o que há na geladeira estão em voga — no Brasil, a Folha acaba de lançar o seu, na carona de outros canais, como Buzzfeed e até marcas, como Hellmann's.

Dados da Mintel também mostram que queremos mais tecnologia: segundo a empresa, 43% dos consumidores norte-americanos dizem que estariam interessados em poder navegar nas vitrines virtuais dos supermercados para montar seus pedidos.

Ao mesmo tempo, 38% dos consumidores italianos estão abertos ao uso de realidade aumentada (como fones de ouvido e óculos) para aprimorar suas experiências de comer e beber.

A inteligência artificial será uma aliada na cozinha
A inteligência artificial será uma aliada na cozinha Imagem: Getty Images

Isso explica a tendência de termos mais máquinas de venda automáticas espalhadas em espaços públicos (como aeroportos) que podem assar perfeitamente uma pizza congelada em três minutos.

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Em termos de ingredientes e produtos, uma das listas mais esperadas é a do Whole Foods, rede de mercados americana que aposta em orgânicos e comidas mais saudáveis.

Segundo a lista divulgada por eles, teremos (finalmente!) o ano de que os pratos a base de planta vão se tornar mainstream de verdade e que mais produtos à base de cacau (da mucilagem à polpa, antes descartada) estarão mais presentes.

Um dos ingredientes do ano deve ser o trigo sarraceno, que está ganhando popularidade como um superalimento que contém proteínas, carboidratos e fibras.

Muito comum em receitas como o macarrão japonês soba, a rede prevê que, em breve, esta espécie de trigo estará em tudo, de leites vegetais até granola.

A febre dos peixes e mariscos em conserva — que tomou até mesmo redes sociais, como o TikTok — deve ser substituída por, uhn, ingredientes substitutos para rivalizar com peixes reais.

De cenouras orgânicas no lugar do salmão defumado, cogumelos de todos os tipos no lugar das vieiras e a cada vez mais popular raiz vegetal konjac em latas lindas para comprar e conservar.

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Tamarindo picante foi considerado o 'sabor do ano' pela marca de especiarias McCormick's
Tamarindo picante foi considerado o 'sabor do ano' pela marca de especiarias McCormick's Imagem: Getty Images

A marca de especiarias McCormick's escolheu o tamarindo picante como o Sabor do Ano de 2024 em sua Previsão de Sabor anual, enquanto acredita que outras frutas como calamansi, laranja azeda, ameixa (especialmente fermentada) estarão na boca de todos nós.

Mas nem tudo é tão corriqueiro quanto uma fruta cítrica: a Yelp prevê mais caviar nos cardápios dos restaurantes e smoothies (de 20 dólares) com produtos exclusivos à venda nos balcões de cafeterias e redes de comida saudável.

Exclusividade que também deve ser percebida em restaurantes, já que teremos mais private clubs — ou seja, restaurantes em que é preciso ser sócio para conseguir acesso, refletindo a tendência de que há pessoas "mais propensas a buscar experiências premium", segundo a Datassential.

Mas há pessoas que precisam economizar: a mesma empresa diz que muitos de seus entrevistados confessam que estão abandonando o delivery pelo valor das taxas cobradas — e que "restaurantes e plataformas de entrega terão que ir além para atrair os clientes a gastarem seu dinheiro cada vez menor".

Será um ano de restrição de orçamento para muitos, em que a comida terá um papel mais essencial nas decisões das pessoas. Com menos poder de compra, muitos terão que escolher melhor o que vão comer.

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Talvez seja essa a tendência mais presente em 2024, com crises climáticas, guerras e crises na economia global. A ver se os prognósticos se confirmam.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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