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Tinha ouro do Brasil? Mistério do navio alemão 'auto-afundado' na 2ª Guerra

Quando a Segunda Guerra Mundial estourou, em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha, o navio cargueiro alemão SS Minden estava iniciando a travessia do Atlântico Sul, entre a Argentina e a África do Sul, bem longe daquele cenário de pré-guerra na Europa.

Mesmo assim, seu comandante recebeu ordens de retornar à América do Sul e buscar um porto neutro, para que o navio não corresse o risco de ser confiscado.

Todos os capitães de embarcações navegando sob bandeira alemã receberam a mesma instrução.

Mas a do comandante do Minden veio acrescida de outra ordem: a de que ele rumasse para o porto do Rio de Janeiro, onde o navio receberia um carregamento de resinas, destinado às indústrias alemãs, e outras mercadorias.

Entre elas, um suposto carregamento de cerca de quatro toneladas de ouro (que, por razões de segurança, não constavam nos manifestos de carga), que seriam transferidas da sede do Banco Germânico, filial brasileira do banco alemão Dresden, para a Alemanha - que, antevendo as extensões do conflito, sabia que necessitaria de recursos para financiá-lo.

Foi afundado pelo próprio capitão

Cinco dias depois, após ser abastecido e carregado, o cargueiro alemão partiu do porto brasileiro, com destino ao seu país de origem. Mas nunca chegou lá.

Quando navegava a cerca de 190 quilômetros da costa da Islândia, em uma rota propositalmente incomum para os navios que vinham da América do Sul, o Minden foi avistado pelos cruzadores da marinha britânica Calypso e Dunedin, e seu capitão recebeu ordens de parar. E parou.

Mas apenas para executar outra ordem que recebera, assim que informou sua base na Alemanha sobre a iminente abordagem dos navios ingleses: a de que afundasse o próprio navio, para que o seu conteúdo não caísse nas mãos do inimigo.

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O capitão alemão mandou sua tripulação abrir todas as válvulas do casco e passar para os botes salva-vidas (que, mais tarde, seriam resgatados por um dos próprios cruzadores ingleses), antes que o navio afundasse com toda a sua carga - inclusive aquele suposto carregamento de ouro brasileiro, que a Alemanha não queria que caísse nas mãos dos ingleses.

A ordem teria vindo do próprio Hitler

Consta que a ordem de afundamento teria vindo do próprio Hitler, o que só faria sentido se houvesse realmente algo de muito valioso naquele insignificante navio.

Mas, com o desenrolar da guerra e as dimensões mundiais que o conflito foi ganhando, o intrigante naufrágio proposital do Minden logo foi abafado por inúmeros outros casos. Mas não esquecido.

A operação de resgate

Quase oito décadas depois, com base em documentos da época, uma recém criada empresa inglesa de exploração de naufrágios, a Advanced Marine Services, decidiu trazer o caso novamente à tona, promovendo uma expedição particular para tentar localizar os restos do cargueiro alemão no fundo do mar.

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E os encontrou, com a ajuda de um navio especial de prospecção, o Seabed Constructor, alugado por cerca de 100 000 dólares ao dia, em abril de 2017, a 2 240 metros de profundidade.

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Imagem: Divulgação

Na época, o achado (do navio, não do seu eventual conteúdo milionário) foi notícia no mundo inteiro.

Por dois motivos: a detenção do navio de pesquisa e de toda a sua equipe, por não haver autorização do governo da Islândia para aquela prospecção em sua zona exclusiva de exploração marítima, e porque aquela custosa operação só se justificaria se houvesse, de fato, algo muito valioso a bordo daquele velho cargueiro - o que a empresa inglesa acreditava piamente ser verdade.

Voltaram no ano seguinte

A detenção da equipe pela polícia islandesa durou apenas alguns dias, e a empresa foi autorizada a repetir a operação no ano seguinte, desta vez sob a vigília da Marinha da Islândia.

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Em 2018, os técnicos da Advanced Marine voltaram ao local do naufrágio, e, durante três dias, vasculharam, com robôs submarinos, os escombros do navio.

Até que o prazo concedido pelo governo islandês se esgotou, ao mesmo tempo em que o mau tempo obrigou a equipe a suspender a varredura que vinha fazendo no interior do Minden, o que implicava até em cortar pedaços do casco.

Novamente, a equipe inglesa teve que abandonar a área, desta vez, porém, sem pleitear uma nova expedição. E nunca mais voltou a explorar os restos do SS Minden.

Teriam conseguido o que queriam?

Três anos depois, a Advanced Marine Services (que, se supõe, era apoiada pelo milionário inglês Anthony Clake, suspeito de financiar saques ilegais em diversos naufrágios mundo afora) foi dissolvida e deixou de existir.

Mas nunca ficou claro se a empresa foi fechada porque desistira de vez do resgate do eventual ouro que SS Minden transportava (hoje avaliado em algo em superior a 100 milhões de dólares), ou porque já havia atingido o seu objetivo.

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Restou um mistério dentro do outro.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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