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Reportagem

Acidente ou assassinato? Sumiço de velejadora há 3 anos ainda é um mistério

Na semana passada, o desaparecimento da inglesa Sarm Heslop, uma ex-aeromoça de 41 anos que vivia com seu namorado, o americano Ryan Bane, em um veleiro ancorado na ilha de St. John, no Caribe, completou três anos — sem nenhum sinal de que o misterioso caso possa, enfim, ser elucidado.

Na ocasião, a mãe da desaparecida, Brenda Street, de 67 anos, concedeu entrevistas aos jornais britânicos e voltou a pedir a ajuda do governo inglês para que pressione a polícia das Ilhas Virgens, a quem cabe investigar o caso, para que o principal suspeito (o próprio namorado da vítima, última pessoa com quem ela foi vista, na noite de 7 de março de 2021) seja, ao menos, interrogado, o que nunca aconteceu.

Nas entrevistas, ela também disse que a família agora está contando com a ajuda de um investigador voluntário — o ex-comandante aposentado da equipe de homicídios da polícia metropolitana da Inglaterra, e ex-membro da Scotland Yard, David Johnston —, e que ele tem feito algumas descobertas, apesar da total falta de colaboração da polícia da ilha.

E, pela primeira vez, Brenda Street disse estar convencida que sua filha foi assassinada e não vítima de um acidente no mar ou afogamento, como o namorado de Sarm Heslop sugeriu à Polícia, na época do desaparecimento.

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Imagem: Reprodução

Queremos que a classificação do caso mude de "desaparecimento" para "homicídio", e que o ex-namorado de milha filha, cujo nome nem consigo dizer, porque isso já me faz sentir mal, seja finalmente interrogado, já que ele nunca contou o que aconteceu naquela noite. E ele continua vivendo normalmente, enquanto minha filha está morta
Brenda Street

Principal suspeito segue livre

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Imagem: FindSarm

No mesmo dia da entrevista, Ryan Bane, principal suspeito pelo desaparecimento da velejadora, foi fotografado por um amigo de sua ex-esposa (que, no passado, chegou a colocá-lo na cadeia, por agressões domésticas) em uma academia em Michigan, nos Estados Unidos, onde voltou a morar, após vender o barco no qual aconteceu o caso.

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No encontro, ele ainda debochou do fotógrafo, perguntando se estava sendo fotografado "por ter matado alguém recentemente?"

"Direito de permanecer em silêncio"

Já a Polícia das Ilhas Virgens, que sempre alegou não poder forçar o americano a prestar depoimento porque, por ser americano, ele tem "o direito de permanecer em silêncio" (nem jamais vistoriou o barco porque não tinha um mandado de busca, e Bane também não permitiu isso), acaba de encaminhar o caso para o procurador-geral da ilha, sob o argumento de que "não há mais desenvolvimentos a serem feitos na investigação", como informou o porta-voz da entidade ao portal de notícias caribenhas Loop News.

O que disse a mãe da vítima

"Tem algo muito estranho nisso tudo", diz a mãe da vítima.

"Quando eu e meu marido fomos para a ilha, em busca de notícias de nossa filha, a polícia mal falou conosco, e se recusou a mostrar todas as imagens da câmera de segurança do restaurante onde eles jantaram naquela noite, antes de voltarem para o barco. Também nunca nos devolveram o celular e o Ipad de Sarm, que estava no barco, e que o advogado do namorado dela entregou à polícia, dias depois. E, agora, ignoram os pedidos de informação do investigador que está nos ajudando. Não sei se fazem isso por corrupção ou porque querem evitar más notícias que comprometam o turismo na ilha", diz a inglesa, nas entrevistas.

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Mas, e o que aconteceu com a minha filha? Será que nunca vamos saber?

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Imagem: Reprodução

"Agora, só quero justiça"

"Não falamos sobre inquéritos não concluídos", disse a polícia das Ilhas Virgens, na semana passada, ao mesmo tempo em que a mãe de Sarm Heslop desabafava com a imprensa inglesa.

"O que a Scotland Yard diria, se um investigador particular da nossa ilha fosse para a Inglaterra dar palpites em uma investigação em aberto?", contra-atacou a entidade, que sempre alegou que não pode vistoriar o barco de Bane no dia seguinte ao desaparecimento de Sarm porque a justiça da ilha exigia "um motivo" para expedir um mandado de busca — como se o fato de ele ter sido a última pessoa a ter estado com a inglesa não bastasse para isso.

"Agora que sei que minha filha está morta, só quero justiça", diz Brenda Street, entre seguidos ataques de choro, mesmo três anos após o desaparecimento da velejadora.

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"Ele não olhava nos meus olhos"

Na entrevista, Brenda Street também contou como ficou sabendo do desaparecimento da filha, através do próprio ex-namorado, dois dias depois.

"Ele mandou uma mensagem, pedindo que eu ligasse para ele. Estranhei, mas liguei, com vídeo, depois de tentar falar com minha filha. Ele só disse que ela havia caído no mar enquanto ele dormia, e que não a encontrou mais. Mas, apesar do vídeo, ele não olhava nos meus olhos, e logo desligou. Em seguida, bloqueou nossos números", contou a mãe da vítima, que, recentemente, através de carta, pediu a ajuda do atual ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, o ex-Primeiro Ministro do Reino Unido, David Cameron, para "interceder junto ao governo das Ilhas Virgens Americanas, para que uma investigação realmente séria seja conduzida".

No mínimo, o principal suspeito tem que ser ouvido pela Polícia
Brenda Street

Pessoa de interesse, mas não suspeito

Pelas leis dos Estados Unidos, já que é cidadão americano e, agora, residindo novamente no país, Ryan Bane pode, sim, ser classificado como "pessoa de interesse" em uma investigação, mas não como "suspeito", porque caberia a polícia das Ilhas Virgens apresentar, primeiro, provas contra ele. E isso a Polícia da ilha diz não ter.

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"A investigação inteira foi patética, pouco profissional e desanimadora", analisou o investigador particular inglês David Johnston, que está ajudando a família sem cobrar nada por isso.

"A Polícia até permitiu que ele fosse embora com o barco, que acabou sendo vendido em outra ilha, meses depois", diz o investigador, que já descobriu que, antes disso, Bane retirou alguns equipamentos do veleiro, como o freezer.

"Por que ele fez isso?", questiona.

Não pediu ajuda aos vizinhos

Também os demais velejadores que estavam ancorados na mesma baía onde o barco do casal estava naquela noite estranharam o fato de o americano não ter pedido ajuda para "tentar encontrar a namorada no mar", como ele disse à Polícia que fizera naquela madrugada.

"Eu sairia gritando de barco em barco, pedindo ajuda, mas não foi isso que ele", contou, recentemente, o dono de um veleiro que estava ancorado a menos de 30 metros de distância do barco do casal — e que tampouco diz ter ouvido movimento algum no mar naquela noite.

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O que diz a defesa do suspeito

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Imagem: FindSarm

"O Sr. Bane segue com o coração partido pelo desaparecimento de sua namorada", disse, protocolarmente, o advogado do americano, David Cattie, sobre os três anos do caso sem nenhuma solução. E finalizou:

"Entendemos e somos solidários com a dor e frustração da família".

O que a família busca agora

Enquanto isso, no site criado três anos atrás para reunir todos os (poucos) avanços do caso, o #justiceforsarm, os familiares e amigos da velejadora desaparecida ainda listam o que gostariam que ainda fosse feito:

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  • Pressão intensa sobre a polícia das Ilhas Virgens para uma conclusão do inquérito.
  • Divulgação, pela própria polícia da ilha, da íntegra da gravação da câmera de segurança que filmou o casal no restaurante na véspera do suposto desaparecimento.
  • Devolução aos familiares do celular e tablet da vítima.
  • Acima de tudo, que o principal suspeito seja ouvido, o que já deveria ter sido feito há três anos.

Não desistiremos enquanto não for feita justiça pela morte de Sarm Heslop. E enquanto o principal suspeito não for ouvido pela polícia
Frase do site #justiceforsarm

Para entender o caso

A última notícia que se teve de Sarm Heslop foi na madrugada do dia 8 de março de 2021, quando o seu namorado ligou para o Serviço de Emergência dos Estados Unidos (embora estivesse no Caribe), dizendo que havia despertado e constatado que ela havia "desaparecido do barco", então ancorado a menos de 100 metros da praia da ilha de St. John.

Mas, estranhamente, só na manhã seguinte, Ryan Bane avisou a polícia da ilha, que, desde então, aparentemente, nada fez para investigá-lo, embora ele seja o principal suspeito pela morte da inglesa — clique aqui para conhecer mais detalhes deste misterioso caso, que acaba de completar três anos sem nenhuma solução.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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