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Reportagem

Ex-iate milionário de Saddam Hussein virou sucata abandonada no Iraque

Os não muitos visitantes da cidade de Basra, a terceira maior do Iraque, costumam ficar intrigados quando veem um grande iate enferrujado e semiafundado, deitado na água, na confluência dos rios Tigre e Eufrates, que banham a cidade.

O que teria acontecido com aquele que parecia ter sido, um dia, um lindo barco?

Mas, impressionados mesmo eles ficam quando descobrem que aquele barco de linhas ainda elegantes, embora reduzido a uma carcomida sucata enferrujada, é o que restou do Al-Mansur ("Vitorioso", em árabe), um dos ex-iates particulares de Saddam Hussein, o ex-todo-poderoso ditador iraquiano, que, com a ajuda dos americanos, foi deposto em 2003 — mesma época em que o seu maior barco foi atacado e destruído por aviões de caça do Estados Unidos, durante uma desesperada tentativa de esconder e proteger o imponente barco, no porto de Basra.

Foi bombardeado

Até então, o Al-Mansur, que mais parecia um palácio flutuante, com 120 metros de comprimento, talheres de prata e muitos mobiliários folheados a ouro, ficava ancorado no mar do Golfo Pérsico.

Mas, semanas antes da invasão americana ao país, Hussein ordenou que o iate fosse levado para Basra, através do rio Shatt al-Arab, para protegê-lo dos iminentes ataques. Não deu tempo.

Localizado pelos aviões americanos quando navegava já nas proximidades da cidade, o Al-Mansur foi bombardeado três vezes. Mas não afundou.

Começou, no entanto, a pegar fogo, e em seguida a inclinar, até que deitou sobre o rio, de onde nunca mais saiu.

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Imagem: PA Images via Getty Images
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Quase tudo foi roubado

Com a prisão do ditador — que, três anos depois, acabaria sendo condenado a morte, por enforcamento, por um tribunal do Iraque, por crimes contra a humanidade —, o outrora imponente iate, um dos principais símbolo da riqueza e megalomania do ex-líder iraquiano, foi totalmente saqueado pelos moradores da cidade, como uma espécie de vingança contra os anos de atrocidades que o país havia passado.

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Imagem: PA Images via Getty Images

Quase tudo foi roubado do barco, que jazia a poucos metros da margem. Equipamentos, mobiliário, peças de mármore, lustres, revestimentos de parede, estofados de veludo, pisos, poltronas e palco do seu teatro, janelas à prova de balas, com vidros de cinco centímetros de espessura, e até o mini-hospital que havia a bordo.

Mas a gota d'água foi a retirada dos motores, o que fez o casco encher de água e adernar, para sempre, na margem do rio, mesmo local onde sua carcaça se encontra até hoje, como pode ser vista nesta imagem do Google Earth.

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Imagem: Google Earth
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Até mesmo pedaços de aço do casco foram cortados e vendidos como sucata.

Saddam nunca usou o barco

O mais curioso, no entanto, é que embora tenha sido construído a mando do próprio Saddam, em um estaleiro da Finlândia, em 1983, o ex-líder iraquiano jamais usou o Al-Mansur.

Saddam Hussein preferia outro de seus iates particulares, o Basrah Breeze ("Brisa de Basra", que homenageava a cidade, mas com um nome em inglês, e não em árabe, o que não deixava de ser uma contradição para quem dizia odiar os americanos), de 82 metros de comprimento e 13 quartos, que, entre outras excentricidades, tinha um lançador de mísseis e um corredor secreto que poderia conduzir a um submarino, caso o seu dono precisasse fugir sem ser visto.

Virou símbolo da queda do ditador

Ao contrário do Al-Mansur, o Basrah Breeze sobreviveu à derrubada de Saddam do poder, e hoje, após uma frustrada tentativa de venda do barco na Europa, logo após a morte do ditador (nenhum comprador se interessou em pagar o equivalente a R$ 125 milhões pelo ex-iate de uma figura tão abominável), está aberto a visitações, como uma espécie de museu, atracado no porto da cidade.

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Mas, o que realmente chama a atenção dos poucos turistas que o visitam é mesmo aquele outro barco, bem ao lado, destruído e abandonado: o ex-todo-poderoso Al-Mansur, o iate que melhor simbolizou a ascensão e queda de um dos mais abjetos ditadores dos tempos modernos: Saddam Hussein.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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