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Por que Super Bowl pode coroar astro marrento como substituto de Brady

Joe Burrow, quarterback do Cincinnati Bengals - Jamie Squire/Getty Images/AFP
Joe Burrow, quarterback do Cincinnati Bengals Imagem: Jamie Squire/Getty Images/AFP

Rafael Belattini

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

13/02/2022 04h00

A aposentadoria de Tom Brady colocou fim em uma era da NFL e disparou a disputa pelo trono de grande astro da NFL. Apontado como o "herdeiro natural", Patrick Mahomes, do Kansas City Chiefs, ganhou, logo de cara, um adversário talentoso e cheio de personalidade.

O Super Bowl LVI, que será disputado hoje, às 20h30 (de Brasília), pode consagrar definitivamente Joe Burrow, quarterback do Cincinnati Bengals que tentará vencer o Los Angeles Rams, segundo time da história a disputa a decisão em sua casa.

Aos 25 anos, Burrow disputa apenas a segunda temporada de sua carreira, sendo que é a primeira completa. Quem o vê falar e jogar, contudo, tem a impressão de que se trata de um veterano.

E para provar que não é loucura fazer qualquer comparação entre Burrow e Brady, nada melhor do que as palavras de um veterano jogador que será rival neste domingo.

"É o show do Joe Burrow. Não se esqueça disso. Este cara é para valer. Eu não gosto de fazer comparações com os outros. Jow Burrow é ele mesmo, mas você definitivamente vê toques de Tom Brady nele", disse Von Miller, defensor dos Rams, em coletiva na semana do Super Bowl.

Fenômeno vencedor

Caso vença neste domingo, Burrow garantirá mais do que um anel de campeão do Super Bowl.

Ele tem a chance de se tornar o primeiro atleta a ser campeão nacional no futebol americano universitário, ganhar o Heisman Trophy de melhor jogador em uma temporada universitária, ser a primeira escolha de um draft e conquistar um Super Bowl. Isso tudo ainda no intervalo de apenas três anos.

Burrow, de qualquer forma, já conseguiu ser o primeiro quarterback escolhido como número um de um recrutamento e levar sua equipe para um Super Bowl logo na segunda temporada.

Para quem não está muito acostumado com o futebol americano, vale lembrar que para ter a primeira escolha de um draft a equipe deve ser a pior da temporada anterior. Os Bengals tiveram apenas duas vitórias em 2019, quatro no ano passado, e agora sonham com seu primeiro título.

Gelo nas veias

A camisa 9 dos Bengals traz o nome do Burrow acima, mas muitos preferem chamá-lo de "Joe Brrr", devido a sua frieza.

Nesta temporada, não faltaram motivos para acreditar que corre gelo nas veias do quarterback. Pela primeira vez disputando os playoffs da NFL, ele esbanjou tranquilidade contra o Las Vegas Raiders, não se incomodou a ser derrubado nove vezes contra o Tennessee Titans, e teve um jogo especial contra os Chiefs.

No duelo direto com Mahomes, valendo a vaga no Super Bowl, o começo lento dos Bengals permitiu que a equipe do Missouri, jogando em casa, abrisse uma vantagem de 21 a 3 no primeiro tempo. Mas a classificação veio com um segundo tempo memorável e a vitória na prorrogação.

Estilo de sobra

Outro apelido que cai muito bem para o jogador é de "Joe Cool", e isso se deve ao seu estilo e personalidade antes e depois das partidas.

"Eu acho que se você procurar a palavra 'descolado' no dicionário vai ter a foto dele com os óculos da Cartier", disse Odell Beckham Jr., wide receiver que estará do lado rival neste domingo.

Antes da final da AFC contra os Chiefs, ele apareceu no Arrowhead Stadium abusando do estilo e ostentando com uma corrente com um pingente bastante chamativo. Questionado depois do jogo sobre se os diamantes da jóia eram reais, ele não se furtou. "Eles definitivamente são reais. Eu ganho muito dinheiro para usar falsos", respondeu enfaticamente.

E a personalidade não surgiu apenas com a fama na NFL, pois já estava escancarada na sua época de universitário. Após o título de 2019, Burrow viralizou com sua imagem fumando um charuto, indo parar na capa da Sports Illustrated.

O charuto, aliás, virou uma das marcas das comemorações do quarterback, e pode dar as caras novamente neste domingo, no vestiário do SoFi Stadium.

Superações

Burrow não vai compartilhar a superação de Tom Brady no aspecto do draft, já que o astro ex-Patriots e Bucs entrou na NFL como escolha de número 199 em 2000. Mas isso não quer dizer que Burrow teve vida fácil.

Natural do estado de Ohio, Burrow se destacou no futebol americano colegial e foi recrutado pela universidade local. Porém, nunca conseguiu brilhar por lá. Em 2017, Burrow era o reserva da posição, mas fraturou a mão e abriu espaço para Dwayne Haskins, que brilhou ao substituir J.T. Barrett, então titular que teve uma lesão no joelho.

Urban Meyer, então treinador de Ohio, promoveu uma competição pela vaga, mas Burrow entendeu que era melhor para ele se transferir após a graduação, buscando uma chance em LSU.

Não era uma questão de falta de talento, mas sim uma situação de "lugar certo, hora certa". Tanto é que um colega de faculdade em Ohio, o running back Mike Weber, em 2017 fez uma postagem que hoje ganha ares de profecia.

Tendo a chance de disputar mais duas temporadas antes de tentar ingressar na NFL, o quarterback sofreu um pouco no primeiro ano pela nova universidade, mas mudou o jogo no segundo ano.

Se 2019 era visto como o ano para Tua Tagovailoa brilhar em Alabama, Burrow não deu chances para ninguém, levou os prêmios, o título e se tornou a escolha óbvia de Cincinnati no draft de 2020.

Já na NFL, jogando naquele que ainda era um dos piores times da NFL, ele teve a chance de disputar apenas 10 partidas antes de romper os ligamentos do joelho.

Tudo isso ficou para trás. Na quinta-feira, Burrow ganhou o prêmio de melhor jogador da temporada entre aqueles que voltaram de lesão, mas sequer quis tocar no troféu que lhe foi entregue. A ideia dele é só comemorar alguma coisa nesta noite.