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Doping por anabolizante exigiu suspensão de Tandara em dia de semi olímpica

Tandara durante os Jogos Olímpicos de Tóquio - ANGELA WEISS / AFP
Tandara durante os Jogos Olímpicos de Tóquio Imagem: ANGELA WEISS / AFP

Beatriz Cesarini e Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Tóquio

06/08/2021 12h27

A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), que raramente se posiciona publicamente sobre casos de doping, atualizando apenas a lista no site de atletas suspensos quando é o caso, desta vez soltou uma nota oficial para comentar a suspensão provisória da jogadora de vôlei Tandara. Ela recebeu o gancho no mesmo dia em que disputaria a semifinal da Olimpíada. Sem ela, o time do Brasil venceu a Coreia do Sul e está na final dos Jogos de Tóquio.

Na nota, a ABCD informou que, em exame antidoping realizado no dia 7 de julho, foi constatada a presença da substância ostarina, um anabolizante, que a autoridade antidoping lembra que, pelo Código Brasileiro Antidopagem, implica na aplicação obrigatória de uma suspensão provisória. "A ostarina é uma substância não especificada, proibida em competição e fora de competição", reforçou. Quando a substância é especificada, a suspensão pode ou não ser aplicada.

O caso vinha sendo tratado com a máxima discrição pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que soltou uma nota na manhã desta quinta-feira (5) no Japão para informar que Tandara havia sido suspensa por uma "possível infração" no código antidoping e que voltaria ao Brasil. O COB, porém, sequer informou que essa infração era um resultado analítico adverso. Ou seja: que Tandara testou positivo para uma substância proibida.

Na falta de maiores informações, as especulações começaram. E o que circulou em Tóquio foi que Tandara responsabilizou a equipe médica da seleção de vôlei por um remédio para controle de ciclo menstrual que, segundo ela, teria sido culpado pelo resultado positivo para uma substância proibida. Essa tese, porém, foi rejeitada pela comissão e pelos médicos do COB. Tandara informou, via assessoria, que não vai comentar o caso.

A jogadora ficou sabendo da suspensão assim que acordou, olhou o celular, e leu um e-mail enviado pela ABCD por volta da 1h30 da manhã de Tóquio, 13h30 de Brasília. Antes, o diretor de Esportes do COB, Jorge Bichara, também havia recebido o mesmo e-mail e o lido. Preocupado, ele não dormiu.

Ainda durante a madrugada, muita gente foi mobilizada, incluindo a chefe de equipe do vôlei, Julia Silva, e o técnico da seleção brasileira, José Roberto Guimarães. Eles e o chefe de missão, Marco La Porta, ficaram esperando Tandara acordar para conversar com ela. Mas, quando a oposta apareceu no andar onde fica a área administrativa do COB no prédio ocupado pelo Time Brasil na Vila dos Atletas, ela já chorava muito.

De acordo com relatos, Tandara chorava tanto que urrava. Inconformada, ela foi comunicada que, por causa da suspensão, precisaria deixar a Vila dos Atletas no mesmo dia. Zé Roberto, Julia e o COB já tinham definido que, por mais que Tandara fosse importantíssima para o grupo, a suspensão dela, e toda a dor sofrida por ela, não poderiam afetar a equipe. "A Tandara era uma prioridade, mas o time também era uma outra prioridade", resumiu o treinador, em entrevista coletiva.

Chorou muito, muito triste. Estava devastada, muito. Eu a esperei respirar, porque estava difícil, mas aí foi se acalmando e o tempo foi passando. E aí falamos sobre os procedimentos e ela disse que estava limpa. Tandara não sabia de nada antes, porque enviaram um email para ela. O email também foi enviado para ela de madrugada. E para o COB, ponto. Eu estava dormindo, me acordaram e aí de manhã cedinho começamos a conversar sobre isso", disse Zé Roberto.

Ele mostrou descontentamento pelo fato de Tandara ter realizado o exame no dia 7 de julho, há quase um mês, mas a suspensão só ter sido notificada agora, no dia de uma semifinal olímpica. A reportagem do UOL apurou que o atraso aconteceu no Ladetec, o único laboratório antidoping brasileiro credenciado pela Wada, e que fica na UFRJ, no Rio.

O laboratório tem trabalhado com um número menor de funcionários, por causa da pandemia, e por isso tem atrasado a entrega de resultados, exceto quando há um pedido expresso por pressa, o que não era o caso dos exames da seleção de vôlei, modalidade que raramente tem casos de doping.

Só por volta da hora do almoço de quarta (5) no Brasil, madrugada de quinta no Japão, é que a ABCD recebeu a notificação do resultado analítico adverso do teste de Tandara, e a suspensão provisória, que é obrigatória para a ostarina, saiu na sequência. Daí o e-mail a 1h30 de Tóquio.

Caso venha a ser suspensa de forma definitiva, Tandara deve perder os resultados obtidos a partir do dia 7 de julho, até o fim da suspensão, o que inclui os jogos da Olimpíadas. Com isso, caso ela seja de fato punida, ela não receberá medalha olímpica. O time não corre riscos de perder resultados.