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Semifinalista largou atletismo para estudar e quer esporte como networking

Rafael Pereira, semifinalista dos 110m com barreiras - Wagner Carmo/CBAt
Rafael Pereira, semifinalista dos 110m com barreiras Imagem: Wagner Carmo/CBAt

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Tóquio

04/08/2021 04h00

Um dos poucos brasileiros a passar de fase nas provas de atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Rafael Pereira parou na semifinal dos 110m com barreiras. Ele foi o sexto colocado em sua bateria e terminou a competição na 17ª posição geral, sendo que apenas oito avançaram à final.

Estar em Tóquio, porém, já é uma conquista para Rafael que, apesar de já ter 24 anos, está na seleção brasileira apenas pela segunda vez. A estreia dele foi no Campeonato Sul-Americano, que aconteceu em maio. Foi a primeira vez que competiu contra atletas de primeiro nível.

"Me senti super confortável, não estava nervoso, super a fim de correr. Fiquei muito feliz com os resultados, por estar aqui, em uma semifinal olímpica, ainda mais depois de tudo o que eu tive de enfrentar para chegar aqui", disse ele ao UOL.

Rafael, que teve algum destaque nas categorias de base, chegou a largar o atletismo antes de vir a Tóquio. Então estudante de fisioterapia, o barreirista mineiro teve dificuldades em conciliar os estudos e os treinos. Faltava às atividades na pista, dormia mal, não conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Por um ano e meio, seguiu no atletismo sem a dedicação necessária.

Depois de se formar, no fim de 2019, largou de vez o esporte. Mas mudou de ideia depois que os Jogos de Tóquio foram adiados.

"Pedi dispensa de alguns empregos, dei alta para alguns pacientes, passei pacientes para outros profissionais. Isso me prejudicou um pouco financeiramente, mas, assim, estar aqui não vale dinheiro, é a realização de um sonho, acho que a minha ficha nem caiu ainda. Preciso digerir isso tudo, mas o meu sentimento é de muita felicidade de ter abdicado de muita coisa que estaria certa, por um sonho que, talvez, estivesse muito longe", contou.

Quando abdicou da fisioterapia, Rafael nem aparecia no ranking mundial de pontos, que acabou por classifica-lo aos Jogos pela média de seus cinco melhores resultados. Sem status para ser convidado para provas internacionais que ofereciam mais pontos, teve de se virar no restrito calendário brasileiro.

Depois de conseguir a vaga olímpica e chegar à semifinal em Tóquio, Rafael pretende seguir no atletismo. E não se preocupa com seu futuro na fisioterapia.

"Esses profissionais que me deram essas oportunidades me falaram que o que estou fazendo é o meu maior networking. Pretendo, sim, dar sequência na fisioterapia, mas não agora. Entendo que ainda tenho muita coisa a evoluir na minha corrida. Tem mais um ciclo de três anos, eu sei que eu vou dar mais do que dei neste ciclo, e vão vir bons frutos. Fisioterapia vai ficar mais para frente."