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Fratus leva bronze nas Olimpíadas após depressão e quase aposentadoria

Beatriz Cesarini

Do UOL, em Tóquio

01/08/2021 02h59

A medalha de bronze conquistada por Bruno Fratus nos 50m livre nas Olimpíadas de Tóquio-2020, na noite deste sábado (31), é fruto da persistência do nadador e de quem o acompanha diariamente. Segundo o Fratus, ele esteve muito perto de não nadar no Centro Aquático de Tóquio e de desistir de tudo.

"Desde o Rio de Janeiro, em 2016, eu estava lidando com essa inquietude, com essa ansiedade. Dois meses depois do Rio, eu estava na pior depressão da minha vida, considerando sumir completamente da face da terra, se é que vocês entendem, de vez. Fui salvo pelo amor dos meus pais, fui salvo pelo amor da [esposa] Michelle, fui salvo pela amizade e pelo amor do [técnico] Brett Hawke", revelou Fratus, após conquistar o bronze em Tóquio.

A pressão que o nadador sentia era resultado de duas frustrações principais. Apesar de conseguir resultados expressivos nas mais diversas competições, incluindo Jogos Pan-Americanos e Campeonato Mundial, Fratus bateu na trave na Olimpíada de Londres, em 2012, quanto terminou em quarto. No Rio de Janeiro, em casa, a pressão era ainda maior. No fim das contas, o que cresceu foi o sentimento de frustração por ter terminado os 50m livre na sexta colocação.

"O que me ajudou foi querer me reerguer. O primeiro passo para querer ser ajudado é querer ser ajudado. Escreva isso, por favor, porque pode ser a diferença para alguém que não esteja conseguindo ser ajudado. Amor. Diálogo. Compreensão. Como eu falei, a Michelle, meus pais, meu técnico. Sou o atleta mais sortudo da face da terra, porque eu tenho pais que me incentivaram desde o começo da minha carreira, e sou treinado pela minha esposa e pelo meu melhor amigo. Mais uma cambada de gente que eu ficaria uma semana aqui falando nomes e que eu faço questão de ligar, encontrar pessoalmente, um a um, e agradecer todo mundo. Extremamente injusto que tenha subido nesse pódio sozinho e falar com vocês, sozinho. Eu tive um dos trabalhos mais fáceis, que é subir no bloco e dar o tiro", agradeceu Fratus.

Assim, com sua equipe/família, Fratus traçou a estratégia para chegar à terceira Olimpíada com chances reais de medalha. Se o ouro já tinha dono —uma vez que Caeleb Dressel, dos Estados Unidos, chegou à capital japonesa com amplo domínio na prova, e na final acabou pulverizando o recorde olímpico, que era do brasileiro Cesar Cielo—, sobravam duas medalhas. E Fratus faria tudo para ficar com uma delas.

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Bruno Fratus comemora a medalha de bronze nos 50m livre nos Jogos Olimpicos-Tóquio 2020
Imagem: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

"Menos de seis meses depois do Rio, estava decidido que eu iria arregaçar em toda e qualquer competição que aparecesse até Tóquio. Subi no pódio em todas. Na que eu não subi no pódio, eu me estourei treinando, fui vítima da minha própria vontade, da minha própria força de vontade. Sempre querendo puxar água mais forte, querendo carregar mais peso, sempre querendo aguentar 100 mil metros a mais no treino. Sempre querendo dormir uma hora a mais. Não dando mole em alimentação e dieta", diz Fratus, recordando os sacrifícios para se tornar o mais novo medalhista da natação brasileira.

De fato, após os Jogos do Rio-2016, Fratus foi aumentando seu desempenho. Incansável, foi emplacando bons resultados, como prata nos Mundiais de Budapeste, em 2017, e Gwangju, Coreia do Sul, em 2019. Mas após os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, novos problemas e muitas dúvidas.

"Não sei se eu devo falar para vocês que eu estava pronto para me aposentar saindo de Lima. E aí Michelle chegou para mim, o Jorge Bichara [diretor de esportes do Comitê Olímpico do Brasil], chegou para mim, e falaram para eu nadar mais um ano. E isso vale muito também. Falaram para mim, só mais um ano, mas aí veio a covid-19, né. O que foi bom, nadei em Lima com anti-inflamatório e remédio para dormir, porque estava doendo. Acabou sendo bom porque deu para recuperar bem", festejou Fratus que, no fim, conquistou a tão almejada medalha olímpica. Por 0s04, diferença de Fratus para o Florent Manadou, o brasileiro não levou a prata. Mas fica a certeza, enquanto Bruno Fratus tiver gás, a busca por medalha em Mundiais, Pan-Americanos e Jogos Olímpicos seguirá firme e forte.

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