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Ex-bad boy Thiago Silva não esquece marra e promete cinturão do UFC em 2014

Maurício Dehò

Do UOL, em Boca Raton (EUA)

08/10/2013 06h00

É manhã de sábado e Thiago Silva conclui um forte treino, ensopado de suor. Com as malas quase prontas para embarcar para o Brasil e lutar o UFC Barueri dez dias depois, ele não vai embora. Faz hora extra na academia. Fica mais quase uma hora dentro da jaula: ajuda nos movimentos de wrestling e passa longos minutos com Vitor Belfort e Gilbert Durinho, demostrando como um professor movimentos e mais movimentos de kickboxing, lentamente.

A cena aconteceu no último dia 26, em Boca Raton, na Flórida (EUA), já na fase final de preparação do meio-pesado. E ela mostra um lado bem diferente do “marrento” que ele transparece ser em outros momentos. Nesta quarta-feira, porém, a faceta malvada retorna e, se possível, com direito ao gesto de cortar garganta que faz após cada vitória. Thiago encara Matt Hamill em busca de sua segunda vitória seguida no Ultimate e da meta de lutar pelo cinturão da categoria já em 2014.

Mesmo mais "bonzinho" ao lado dos companheiros de treinos, a marra está lá. Questionado por Belfort, fala que a polêmica com Pezão é por inveja do ex-companheiro de treinos. Ao falar do triunfo contra Feijão, dispara: "ele enfrentou o cara errado". Dentro do octógono, o jeito bad boy de ser não é o que faz o resultado, mas suas atitudes polêmicas acabaram influenciando sua carreira.

Thiago Silva é um showman, um nocauteador nato. Mas derrapou duas vezes com o UFC e pagou o preço: em 2011 se envolveu numa confusão de adulteração de urina e foi suspenso por doping e em 2012 pegou um gancho por uso de maconha. Agora, faz questão de agradecer ao UFC por não ter sido cortado pelo facão da demissão e diz que se endireitou para tentar brigar para ser o nº 1 dos meio-pesados.

“Eu luto no UFC desde 2007 e nunca tive problema com eles. Eles sempre me trataram muito bem, e fui eu quem deu problema para eles”, admitiu Thiago, em papo com o UOL Esporte na sede da academia Blackzilians. “Acabei caindo em dois dopings, e mesmo assim eles me deram suporte, não me mandaram embora. Não posso falar nada contra o UFC, muito pelo contrário, sou muito grato ao evento e quero ser campeão nele.”

Questionado se aprendeu a lição e se tem seguido com mais retidão o que se espera dele, o lutador diz que sim. “Tenho de seguir uma meta, cumprir e não desviar para nada". Isso inclui, por exemplo, ficar longe da maconha. Antes do UFC de Fortaleza, ele admitiu gostar da droga, mas disse que se afastou para evitar problemas no antidoping.

A reação de Thiago veio em junho, quando ele esteve no UFC de Fortaleza e encarou uma luta perigosa contra o estreante Rafael Feijão. Integrante da Team Nogueira e amigo de Minotauro e Anderson Silva, o ex-campeão do Strikeforce era cotado para ser uma nova força no meio-pesado. Mas acabou nocauteado por Thiago no fim do primeiro round.

“Ele estreou contra o cara errado. Eu fiz o que tinha que fazer, ganhei, ganhei bem e estou pronto para fazer meu trabalho de novo. Estou no mesmo procedimento, treinando forte, tenho um camp bom, com parceiros de treino legais, então estou pronto”, disse o lutador de 30 anos.

RIVAL DE THIAGO É SURDO

  • Matt Hamill é conhecido de longa data dentro do UFC e participou até do TUF. O norte-americano veio do wrestling e se destacou no MMA não só por resultados, mas por uma particularidade: é surdo. Hamill já ganhou até um filme contando sua história de superação. No Ultimate, ele chegou a anunciar a aposentadoria, mas voltou no fim de 2012 com vitória. O lutador tem uma curiosa vitória contra Jon Jones no seu cartel, mas por desqualificação. O atual campeão dos meio-pesados o atingiu com uma cotovelada ilegal em combate em 2009.

Thiago terá de mostrar agilidade e seu notável poder de nocaute contra Hamill, que foi da luta olímpica na adolescência. Hamill deverá tentar derrubar o brasileiro e fugir de sua trocação, mas o dono da casa não mostra preocupação. “Vai dar (para desenvolver meu jogo). Eu tenho meus treinadores de wrestling, treino com um material humano muito bom: Rashad Evans, Anthony Johnson, Vitor Belfort, Tyrone Spong... Eu tenho os melhores comigo todo dia. Se eu colocar na ponta do lápis, tenho mais que o suficiente para lutar contra ele”, analisou.

Atualmente Thiago Silva não aparece no ranking do UFC, que mostra o campeão e mais dez lutadores. E talvez a luta contra Matt Hamill ainda não baste para que ele apareça na lista. Mas, se depender da vontade do paulista de São Carlos, 2014 será o ano em que ele dominará o Ultimate.

“Eu me vejo lutando pelo cinturão em breve, no próximo ano. Eu estou seguindo minha meta de trabalho, meus planos. Com certeza ano que vem luto pelo cinturão. Esta é a luta para eu fechar este ano com chave de ouro. Eu vou ser o campeão”, prometeu.

Vítima de Gustafsson analisa duelo épico do sueco com Jones

  • Alexander Gustafsson despontou no meio-pesado, a ponto de se tornar desafiante ao cinturão e dar um calor no campeão Jon Jones no UFC 165. Para Thiago Silva, ver o sueco quase tomar o título de Jones faz acreditar que ele também pode chegar lá. O brasileiro encarou Gustafsson e perdeu por pontos em abril de 2012. “Eu achei na minha luta com ele que a distância foi muito ruim. Eu estava voltando de suspensão, estava enferrujado, então só achei a distância no terceiro round. Ele é duro, é um lutador longo, esse é o problema de lutar com ele. Ele e o Jon Jones, eles têm a envergadura grande, então fica mais difícil”, contou ele.

    Sobre o combate contra Jones, Thiago viu o gás como problema do desafiante. “Foi uma luta boa, o Gustafsson desenvolveu bem os dois primeiros rounds, mas acho que ele cansou. O Jon Jones foi mais contundente. Foi uma luta boa, o menino mostrou que tem mesmo nível para estar entre os tops.”