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'Me arrependo de não bater mais': zagueiro denuncia racismo e agride rival

Do UOL, em São Paulo

29/04/2025 18h51

A vitória do Paraná sobre o Londrina por 3 a 1, pelo Campeonato Paranaense sub-20, ficou marcada por um suposto caso de racismo no último sábado.

O que aconteceu

O caso teria acontecido logo após o terceiro gol dos paranistas. Eduardo Ribas, do Paraná, supostamente chamou Matheus Costa, do Londrina, de "preto". As câmeras mostram o jogador falando algo em direção ao adversário.

Carlos Eduardo, do Londrina, agrediu Eduardo Ribas. O defensor foi quem denunciou o caso ao árbitro da partida. Depois, deu um soco na nuca do adversário que teria cometido racismo. Ele ainda invadiu o vestiário da equipe rival após a partida e também agrediu o nutricionista Rafael Gonçalves, do Paraná. O duelo foi encerrado após confusão generalizada e o atleta foi expulso.

É isso mesmo. Todo quebrado, mas foda-se. Se tiver racismo na minha frente, eu pulo na bala mesmo, que se foda. Não me arrependo de nada. Me arrependo de não ter batido mais naquele filho da puta daquele racista. É isso mesmo, não estou nem aí. Eu acho que estou certo e é isso que importa. Carlos Eduardo, nas redes sociais

O caso foi relatado pelo árbitro Cleberton Ponce da Silva em súmula. Ele seguiu o "protocolo antirracismo da Fifa" e fez um gesto com os braços cruzados em frente ao corpo em formato de "X".

Aos 43 minutos do 2º tempo, durante o reinício de jogo, após o terceiro gol do time mandante, fui comunicado pelo atleta Carlos Eduardo de Melo, nº 03, da equipe Londrina, que o seu companheiro de equipe, nº 04, Matheus da Costa, supostamente, havia sofrido um ato de racismo, ao ser chamado de "preto" pelo adversário Eduardo Orlov Ribas, nº 22, da equipe Paraná Clube. Não presenciei o ato, mas respeitando a problemática do caso, cumpri o "protocolo antirracista" delimitado pela FIFA e reiterado pelas "Orientações administrativas" da Federação Paranaense de Futebol, realizando o sinal antirracista (braços cruzados em X) em frente aos bancos de reservas e frontal ao público presente no estádio para comunicar simbolicamente o ocorrido. Pouco depois do sinal, o atleta Eduardo de Melo correu até o suposto infrator e desferiu um soco em sua nuca.

Clubes e federação se manifestam

O Londrina condenou o caso de racismo. O clube afirmou que está prestando todo apoio ao zagueiro Matheus Costa, que abriu Boletim de Ocorrência, e que o ato racista foi presenciado por outros jogadores, que servirão de testemunhas no caso.

O Londrina encaminhará o caso à Justiça Desportiva. O Tubarão ainda criticou a nota oficial emitida pelo Paraná.

O Paraná disse que repudia o racismo, mas afirmou que não há provas e evidências de que Eduardo tenha cometido ato racista. O clube paranista condenou as agressões sofridas por Eduardo e pelo nutricionista por parte de Carlos Eduardo, do Londrina. Os dois abriram Boletim de Ocorrência.

A Federação Paranaense de Futebol também se posicionou contra o racismo. A entidade citou o protocolo aplicado pelo árbitro da partida e reforçou sua campanha contra atos racistas.

O que o Londrina disse?

"O Londrina Esporte Clube vem a público manifestar-se a respeito do lamentável episódio de injúria racial ocorrido durante a partida contra o Paraná Clube, no último sábado (26), válida pela 4ª rodada do Campeonato Paranaense Sub-20.

Sobre o incidente

Nosso atleta Matheus Costa foi vítima de ofensas raciais proferidas pelo jogador Eduardo Ribas, do Paraná Clube, fato este que foi imediatamente reportado à arbitragem da partida e registrado na súmula oficial do jogo. As manifestações racistas foram ouvidas por outros atletas em campo, que servirão como testemunhas no processo de investigação.

Posicionamento do clube

O Londrina Esporte Clube reafirma seu compromisso absoluto com o combate ao racismo e a todas as formas de discriminação. Ressaltamos que:

Daremos total apoio ao nosso atleta Matheus Costa, que merece respeito e dignidade como profissional e ser humano;
Encaminharemos denúncia formal aos órgãos competentes da Justiça Desportiva solicitando investigação rigorosa e punição exemplar ao responsável, bem como já foi lavrado o Boletim de Ocorrência relatando o caso, e tomaremos todas as medidas cabíveis também na esfera criminal;
Não aceitaremos que tais episódios sejam tratados com descrédito ou minimizados, como sugerido na nota emitida pelo Paraná Clube;
Manifestamos nosso repúdio à tentativa de inversão dos fatos, transformando a vítima em acusado.

Sobre os incidentes físicos

Reconhecemos que houve alteração entre atletas durante a partida, situação que será avaliada pelas autoridades competentes e pelo departamento jurídico do clube. No entanto, ressaltamos que tais fatos não podem e não devem ser usados para ofuscar a gravidade da injúria racial cometida.

Compromisso com a verdade

O Londrina Esporte Clube, como instituição com mais de 69 anos de história no futebol paranaense, reafirma seu compromisso com a verdade e com a construção de um ambiente esportivo livre de racismo e preconceito. Não mediremos esforços para que este triste episódio resulte em medidas concretas de combate ao racismo no futebol.

Permanecemos à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos adicionais e aguardamos que a justiça seja feita."

O que o Paraná disse?

"O Paraná Clube vem a público repudiar veementemente qualquer forma de racismo, discriminação ou preconceito. Nossa instituição tem como princípio inegociável - desde a sua origem - o respeito à diversidade e à dignidade de todos os envolvidos no esporte e na sociedade.

Sobre a acusação de racismo mencionada na Nota Oficial emitida pelo Londrina Esporte Clube contra o atleta Eduardo Ribas, o Paraná ressalta que não há qualquer evidência ou prova concreta que sustente a acusação mencionada, conforme indica a própria Súmula da Partida, na qual o árbitro descreve que não ouviu relato racista algum, contendo apenas a denúncia do atleta adversário.

Ao contrário do que diz a nota da equipe adversária, reforçamos nosso compromisso com o combate ao racismo e com a promoção de um ambiente de respeito no futebol brasileiro. Não aceitaremos, contudo, que acusações sem comprovação manchem a reputação de nossos profissionais ou da nossa instituição.

O Clube também repudia a postura de alguns atletas da comissão técnica do Londrina Esporte Clube na partida do último sábado (26), na qual o Paraná sagrou-se vencedor por 3 a 1.

Na oportunidade, o zagueiro Matheus Costa, camisa 4 do Londrina, ocupou-se em proferir provocações aos atletas e ao banco de reservas paranista durante todo o segundo tempo, com termos agressivos e depreciativos contra nossos atletas e agremiação.

Em ato contínuo, ao fim da partida, o jogador Cadu Cezarino, camisa 3 do time visitante, agrediu nossos atletas em campo e, em seguida, invadiu nosso vestiário, onde lamentavelmente veio a agredir nosso nutricionista Rafael Gonçalves, o qual teve seu nariz fraturado por conta da covarde e infeliz agressão, conforme mostram as imagens acima.

Após o término da partida, o nutricionista Rafael Gonçalves e o atleta Eduardo Ribas, este último indevidamente acusado de haver proferido ofensas de cunho racial, imputação esta desprovida de qualquer prova concreta, compareceram à Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (DEMAFE) para prestar depoimento e registrar Boletim de Ocorrência em razão da agressão física sofrida em campo, devidamente registrada por imagens."

O que a Federação Paranaense disse?

"A Federação Paranaense de Futebol tomou conhecimento do ocorrido na partida do último sábado (26) entre Paraná Clube e Londrina, válida pelo Campeonato Paranaense Sub-20, e vem a público reforçar a posição da entidade contra atos de racismo e injúria racial.

De acordo com a súmula do jogo, assim que informado pelos próprios atletas que um deles teria sido ofendido com injúrias raciais, o árbitro cumpriu o protocolo antirracismo, que consiste em paralisar a partida e chamar os dois capitães, fazendo o gesto contra o racismo (um "X" com os braços), para comunicar simbolicamente o ocorrido.

Paraná Clube e Londrina já se manifestaram sobre o caso e firmaram posição contra injúria racial. O Tubarão informou ainda que o atleta registraria boletim de ocorrência e que está recebendo o amparo e assistência do clube.

Campanhas permanentes
A Federação Paranaense tem uma campanha permanente antirracismo no site da instituição, redes sociais e nas transmissões da FPF TV. Além disso, tem intensificado as ações nesse sentido com o envio, por exemplo, de cartazes para serem afixados em todos os estádios do futebol amador da capital, além de faixas em todos os jogos com o telefone para denúncias em caso de racismo e injúria racial.

No mesmo jogo, houve ainda um caso de violência entre os atletas em função do ocorrido. Afirmamos também que atos de violência não condizem com o nosso futebol e serão também combatidos em nossos estádios."


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