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Líder de quadrilha pediu à vítima de golpe indicação para esquema de aposta

Eder Traskini e Alexandre Araújo

Do UOL, em São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ)

17/05/2023 04h00

Bruno Lopez, apontado pelo Ministério Público como líder do grupo de apostadores nos documentos da operação Penalidade Máxima, pediu indicação de jogadores das Séries A e B a uma pessoa que buscava ressarcimento após ser vítima de golpe de uma empresa do próprio Bruno.

O UOL mostrou, em matéria publicada na última segunda-feira (15), que a BC Sports Management, que tem como sócios Bruno e a esposa Camila Silva da Motta — também denunciada pelo MP-GO —, aplicava golpes em jovens atletas com falsas promessas sobre oportunidades no futebol europeu.

Uma das vítimas deste esquema relatou ao UOL que, depois de conseguir retornar ao Brasil, procurou Bruno Lopez para tentar recuperar o valor investido junto à BC Sports. Em meio a essas conversas, BL, como é conhecido, lhe perguntou se ele conhecia jogadores que atuavam nas principais divisões do país.

"Eu paguei cerca de R$ 15 mil à BC Sports e nada do que foi prometido aconteceu. Depois, procurei o Bruno para tentar reaver o dinheiro. Nesta conversa, ele me perguntou se eu conhecia algum jogador de Série A ou B do Brasileiro porque ele estava com uns esquemas, e eu disse que não conhecia", contou.

"Ele ainda me encaminhou alguns áudios sobre isso. Ele queria que eu fizesse algum esquema, mas não fiz coisa alguma. Depois, ele parou de conversar comigo. Eu o procurava para cobrar o dinheiro que ele estava me devendo, mas ele sempre inventava uma desculpa", completou.

Procurada, a BC Sports Management não respondeu aos questionamentos da reportagem. Caso isso seja feito, o texto será atualizado.

Como era o golpe da BC Sports?

A BC Sports Management se apresentava a jogadores e familiares destes atletas como uma empresa "voltada à intermediação, captação e negociação de atletas".

Nos diálogos aos quais o UOL teve acesso, eram apontadas oportunidades na Alemanha, Albânia e Eslováquia, com investimentos que variavam de 3 mil euros (R$ 16 mill) a 10 mil euros (R$ 54 mil).

O UOL conversou com nove vítimas do golpe, que relataram que as promessas não se tornaram realidade e que representantes da BC Sports paravam de responder aos contatos pouco após eles desembarcarem no país de destino.

A Operação Penalidade Máxima

No segundo semestre do ano passado, o MP-GO abriu investigação ao encontrar evidências de manipulação em competições esportivas. Uma organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais do futebol liderava esse esquema.

O objetivo seria assegurar a ocorrência de eventos determinados nas partidas, apostar nesses eventos e, assim, ganhar dinheiro em sites de jogos e apostas. A ocorrência mais frequente envolve o recebimento de cartões amarelos em partidas, mas outras apostas como escanteios, expulsões, pênaltis e até resultado no primeiro tempo constam no processo.

Mais de 60 jogadores já foram citados de alguma forma na investigação. De acordo com o MP-GO, as apostas eram feitas em sites como Bet365 e Betano. A ação foi realizada em estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás, entre outros.

O crime: O caso também se enquadra no delito previsto no artigo 41-D do Estatuto do Torcedor, que prevê 2 a 6 anos de prisão e multa por "Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado".

Os aliciadores: Segundo o MP, o esquema era liderado por Bruno Lopez de Moura e tinha entre os membros da quadrilha Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luis Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes e Zildo Peixoto Neto, que também faziam parte do núcleo de apostadores.

Os financiadores: Ainda existia outro grupo, formado pelos financiadores do projeto, que tinha Thiago Chambó Andrade, Romário Hugo dos Santos, vulgo Romarinho, e William de Oliveira Souza, vulgo McLaren. O MP cita na denúncia que ainda podem existir outros a serem identificados. Eles asseguravam a existência das verbas para o pagamento dos atletas aliciados.