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Paulista - 2023

Da várzea à elite: torcida impulsiona Água Santa até final dos sonhos

Torcedoras do Água Santa comemoram a classificação à final do Campeonato Paulista, na Vila Belmiro - Leonardo Sguaçabia/Agência Estado
Torcedoras do Água Santa comemoram a classificação à final do Campeonato Paulista, na Vila Belmiro Imagem: Leonardo Sguaçabia/Agência Estado

Do UOL, em São Paulo (SP)

30/03/2023 04h00

O Água Santa, que caminha para os dois jogos mais importantes de sua breve história no profissional, tem a torcida como trunfo desde a época da várzea.

O que aconteceu

  • O clube do Jardim Inamar chegou à final do Campeonato Paulista menos de 12 anos após sua profissionalização. A equipe da zona sul de Diadema foi fundada em dezembro de 1981 por imigrantes de outras regiões do país e deixou de ser amadora no final de 2011.
  • Diretoria e torcedores do Água Santa vivem um sonho e unem forças para superar mais um gigante em busca da conquista inédita da elite do Estadual. O duelo decisivo contra o Palmeiras será o de maior peso na história do clube até o momento.
  • A torcida, inclusive, é tida como um diferencial do Netuno desde a época amadora. Moradores do bairro abraçaram a equipe desde que a sede era localizada na Rua dos Manacás e se mobilizavam para comparecer em peso nos campinhos de terra e de grama da região.
  • "Decidiram profissionalizar o Água Santa porque, na várzea, já carregava mais de 5 mil torcedores", contou Wanderley Farias, diretor de futebol do clube, ao UOL. "O clube é de Inamar. Já eram apaixonados e deu super certo, mais até do que a gente imaginava", complementou.
  • A "identificação por natureza" entre torcida e clube é um dos fatores que explica essa relação, segundo o presidente de honra da organizada Aquáticos, Rafael Ribeiro. "Time veio lá de baixo, passou por muitas dificuldades e agora está no auge. É mais ou menos a cara da nossa comunidade: um povo sofrido, batalhador", apontou.

Sucesso na várzea

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Arquibancada da Arena Inamar, estádio da Água Santa
Imagem: André Martins/UOL

O Água Santa dominou o futebol amador de Diadema no início dos anos 2000. O clube leva o nome de uma estrada da cidade e teve a sua identidade moldada pela comunidade local, que torcia e integrava a equipe na várzea.

O ex-jogador Alexandre da Silva Laguna disse que a diretoria já tinha um projeto de profissionalização desde 1999 e que o processo não ocorreu "por acaso". Xande, como é conhecido, começou no Água Santa quando a equipe deixou de ser "um time de amigos" e atuou por lá durante cerca de dez anos.

O clube acumulou conquistas na várzea, sendo campeão de todas as divisões do futebol amador de Diadema. O Água Santa venceu a 3ª divisão em 2000, a 2ª divisão em 2001 e a 1ª divisão três vezes: em 2004, 2009 e 2010. O título da Divisão Especial veio em 2011 e foi o último da era amadora.

"A gente via que o Água Santa era um clube diferenciado na várzea pela estrutura que tinha", relatou Fábio Vieira, o 'Mintirinha', que jogou pelo clube entre 2008 até a última partida no amador. "Tinham um olhar profissional, tanto que deu no que deu", ressaltou.

O sucesso do Água Santa fez com que o clube extrapolasse as divisas do bairro e envolvesse toda a cidade, superando antigas rixas no amador. "Todo mundo vai nos jogos e apoia. Somos representantes de Diadema, não tem como correr. Os que eram nossos rivais viraram nossos amigos", declarou Domingos 'Barba' do Nascimento, presidente da organizada Tubarão Azul.

Era profissional

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Jogadores do Água Santa comemoram classificação à final do Paulista com a torcida, na Vila Belmiro
Imagem: Jota Erre/Agência Estado

O primeiro jogo do Água Santa como equipe profissional ocorreu em 2013, pela 2ª divisão do Campeonato Paulista, a 'Bêzinha'. Naquele mesmo ano, o clube terminou vice-campeão e subiu de divisão.

Foram três acessos consecutivos, feito inédito no Estadual de São Paulo. O Água Santa ficou em 3º na A3 em 2014 e em 4º na A2 em 2015. "Foi algo surreal. Não esperávamos que fôssemos subir a escadinha tão rápido", destacou Rafael Ribeiro, da Aquáticos.

O clube estreou na elite em 2016, mas acabou sendo rebaixado. Foram mais três anos na A2 antes de subir novamente em 2020, com novo descenso, até o retorno de vez à primeira divisão em 2022.

"O Água Santa estava preparado para isso? Não, é outro mundo. Fomos aprendendo a jogar a A1", comentou Wanderley Farias. O diretor disse que sente que o clube "começou a fazer parte do futebol brasileiro" neste ano e enfatizou que pretende fazer melhorias estruturais para a disputa da Série D e da Copa do Brasil em 2024.

A campanha de 2023 no Paulistão é uma "mudança de patamar" do time. "Não tenho dúvidas de que vai fazer o Água Santa subir de prateleira. Para quem não conhecia o clube, hoje é conhecido nacionalmente e até fora do país", acrescentou Wanderley.

A ficha ainda não caiu. É uma grandeza enorme, momento histórico. Muita gente emocionada na arquibancada." Rafael Ribeiro, presidente de honra da Aquáticos.

A gente não acreditou que em três anos estávamos na 1ª divisão. Diadema inteira abraçou, os arredores também." 'Barba', presidente da Tubarão Azul.

Fui de de jogador para torcedor. Estivemos na história do amador e a gente faz parte de tudo isso. Para nós é um privilégio." Xande, ex-jogador na várzea.

Para a gente é maior satisfação poder estar aqui e ver onde chegou o Água Santa. Ficamos super emocionados de ver chegar em uma primeira divisão de Paulistão." 'Mintirinha', ex-jogador na várzea.

Efeito da profissionalização na torcida

Rafael Ribeiro torce para o Água Santa desde a época da várzea e passou por todas as fases ao lado do time. Ele foi um dos fundadores da Aquáticos, em 2006, que contou com apoio da diretoria da época.

Um primeiro efeito da profissionalização foi a adoção do Netuno, então mascote da organizada, pelo clube. "O povo abraçou como o símbolo do Água, por isso que é chamado de Netuno atualmente", contou.

A saída da várzea fez com que torcedores precisassem se adaptar à nova realidade. "No passado, a gente também tinha o Bin Laden como símbolo, mas hoje em dia não podemos usá-lo tanto porque é apologia, é mal interpretado. Na várzea, tínhamos ele para causar respeito e impacto", comentou o presidente de honra da Aquáticos.

"Como o time muda, a torcida também tem que profissionalizar automaticamente", completou o organizado.

O Água Santa mantém uma relação próxima entre torcida e diretoria e valoriza a parceria para seguir empurrando a equipe em sua trajetória no futebol. "Acreditamos que nossa origem que está ajudando a ter bons frutos no meio dos gigantes", concluiu Wanderley.

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Rafael Ribeiro, presidente de honra da Aquáticos, torcida organizada do Água Santa
Imagem: André Martins/UOL
wanderley - Reprodução/Arquivo pessoal - Reprodução/Arquivo pessoal
O diretor de futebol Wanderley Farias comemora classificação do Água Santa à final do Paulista
Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal