Bruno Guimarães virou ídolo do Newcastle e fez até o pai ser celebridade
Thiago Arantes
Do UOL, em Londres
12/03/2023 04h00
Era dia de final da Copa da Liga Inglesa, e cerca de 40 mil torcedores do Newcastle encararam a viagem de trem até Londres. Nos arredores do mítico estádio de Wembley, entre "pints" de cerveja, camisas brancas com listras verticais pretas e a empolgação de chegar à primeira final do clube no século 21, um momento de caos chamou a atenção.
Um homem abria caminho em meio à multidão, a passos lentos, parando para abraçar desconhecidos, tirar fotos e receber o carinho dos torcedores dos Magpies. Algum desavisado poderia pensar que se tratava de um ex-jogador, uma celebridade, ou quem sabe uma estrela do time que é uma das surpresas da Premier League.
Nada disso. O homem que atraía todas as atenções era Dick Gomez, um ex-taxista no Rio de Janeiro, que virou ídolo de uma das torcidas mais apaixonadas da Inglaterra. Dick é o pai de Bruno Guimarães, o meio-campista que em um ano conquistou o clube e a cidade de uma forma sem precedentes na história dos brasileiros na Premier League.
A reportagem do UOL esteve em Wembley naquele dia e, além de presenciar a tietagem gerada pela presença do pai do jogador, viu de perto a idolatria pelo brasileiro. O inusitado número 39 usado por Bruno era o mais usado pelos torcedores do Newcastle. O único rival era o 9 de Alan Shearer, em camisas retrô que remetiam ao herói dos últimos títulos do clube. O Newcastle perdeu por 2 a 0, o jejum continua, mas a idolatria pelo brasileiro, também.
Havia torcedores com bandeiras do Brasil, em uma homenagem direta ao jogador. Outros tinham a peça mais "estilizada": como bandeiras como o rosto de Bruno ou outras com a frase "Bruno: nascido no Brasil, ídolo em Newcastle". Talvez não haja definição melhor.
Depois de se destacar no Athletico Paranaense, Bruno Guimarães foi negociado com o Lyon por 20 milhões de euros (R$ 110 milhões, em valores atuais). Dois anos e uma medalha de ouro olímpica depois, chegou ao Newcastle por 42 milhões de euros (R$ 233 milhões).
A construção de um ídolo
Bruno chegou a um clube recém-comprado por um fundo saudita como candidato a estrela. Já nos primeiros meses, tornou-se ídolo: virou peça fundamental no time, ganhou música e transformou-se numa espécie de "xodó" de Mehrdad Ghodoussi, homem-forte do Newcastle. Já na primeira meia temporada foram 17 jogos, com cinco gols e uma assistência.
Mas, para além dos números, Bruno tornou-se imprescindível. E a importância do brasileiro ficou clara quando o Manchester United tirou Casemiro do Real Madrid. Logo depois de perder seu volante titular, o clube da capital espanhola entrou em contato com representantes de Bruno Guimarães e do Newcastle. A palavra final do clube inglês foi clara: o jogador não estava à venda.
O fato de ter permanecido em Newcastle e a maneira como se integrou à cidade aumentaram o culto a Bruno Guimarães. "Estamos apaixonados por ele, pelo filho dele, pelo pai... pela família inteira", disse David, um jovem torcedor do Newcastle, ao UOL. Além dos elogios a Bruno Guimarães, ele carregava uma bandeira do Brasil estilizada com o rosto do jogador. "Comprei pela internet, custou 20 libras (cerca de R$ 125). Foi caro, mas valeu a pena", disse.
Em Newcastle, Bruno Guimarães tenta sair pouco, principalmente depois que foi pai. Caseiro, ele prefere ficar com a esposa e o filho. Por isso, acaba tendo pouco contato com torcedores no dia a dia.
Pai que virou celebridade
Sem poder ver o ídolo do clube de perto, os torcedores encontraram uma outra maneira de se aproximar de Bruno: tietar o pai do jogador. As cenas vistas em Wembley são parte do dia a dia em Newcastle. "Toda vez que o Dick vai ao supermercado é um acontecimento. Ele é abordado por torcedores, tira fotos, abraça...", disse ao UOL uma pessoa próxima à família.
Dick Gomez ainda não domina o inglês como o filho -Bruno já dá entrevistas e se comunica bem no idioma-, mas isso não o impede de interagir com os fãs. Os torcedores que não sabem o nome do pai do jogador costumam chamá-lo de "39". A camisa usada por Bruno Guimarães é uma homenagem ao número do táxi que o pai dirigia pelas ruas do Rio de Janeiro.
Na final de Wembley, a van que levava o pai do jogador ao estádio teve de estacionar em um local distante da porta pela qual ele tinha que entrar. Dick levou quase uma hora para percorrer cerca de 400 metros. Não negou nenhum abraço ou foto.
Sem multa e com propostas
Na temporada 2022/23, Bruno Guimarães soma 4 gols e 3 assistências em 26 partidas disputadas em todas as competições. Além de liderar o time em estatísticas de passes e toques na bola, ele passou a ser um comandante em campo, participando das ações ofensivas e defensivas. É raro ver uma jogada do Newcastle que não passe por ele.
O bom desempenho continua chamando a atenção de outras equipes. Depois da Copa do Mundo -em que entrou em campo no segundo tempo diante de Suíça e Camarões, na primeira fase- Bruno teve uma oferta do Liverpool, mas o Newcastle novamente não o liberou. O contrato do meio-campista não tem multa rescisória.
O Real Madrid ainda mantém o brasileiro no radar, e o Barcelona também consultou recentemente sobre possíveis valores de uma transferência. Mas, por enquanto, Bruno Guimarães continua em Newcastle, e a torcida pode cantar sua música favorita:
"Nós temos Bruno no meio-campo
sabemos o que precisamos
Isak no ataque, Botman na defesa?
O Newcastle vai vencer a Premier League".