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'Torcer sem assédio foi emocionante': o jogo das mulheres no Couto Pereira

Nathalia levou a prima Stefany para um estádio pela primeira vez - Divulgação/Coritiba
Nathalia levou a prima Stefany para um estádio pela primeira vez Imagem: Divulgação/Coritiba

Do UOL, em Santos e em São Paulo

17/01/2023 04h00

O Coritiba venceu o Aruko por 1 a 0 no último domingo pelo Campeonato Paranaense, mas o resultado foi o de menos. A maior notícia esteve nas arquibancadas, preenchidas apenas por mulheres e crianças de até 12 anos.

  • Coritiba e Athletico foram punidos por uma confusão entre as torcidas em 2022.
  • Em vez do tradicional mando de jogo sem público, o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) do Paraná reverteu a pena em proibição da presença masculina.
  • O ingresso foi trocado por 1 kg de alimento. O público total no Couto Pereira foi de 8.871.
"Já fui em muitos jogos, mas esse foi único. Foi o primeiro jogo da minha vida em que eu consegui torcer livre. Torcer sem sofrer assédio foi o mais emocionante, vi várias mães amamentando. Nós temos força para torcer como eles torcem. Sofremos discriminação no sentido de mulher não saber de futebol, só ver pelos jogadores, mas provamos que nós podemos"
Bárbara Villa Otto, bacharel em Direito.

Carla e Nathalia levaram a prima Stefany, de apenas 12 anos, pela primeira vez em um jogo de futebol: "Eu sabia que ela ia gostar, mas não imaginava que gostaria tanto. Os olhinhos dela brilhavam. Agora quer ir mais vezes", falou Carla Revers.

Já a advogada Mirella Ignes Lazaro, torcedora do Vasco, foi num estádio pela primeira vez aos 24 anos. "Eu sempre falava que não, mas achei interessante quando soube que só iam mulheres e crianças. Foi excelente, muito emocionante. Ver as crianças foi uma fofura. Quero ir de novo, até nos jogos do Athletico".

Jaíne Bianco, de 25 anos, mencionou que se sentiu mais segura no Couto Pereira com apenas mulheres na arquibancada e que espera que essa iniciativa se estenda para outros clubes.

"Foi uma experiência importante. Me senti mais segura, confortável e a vontade. Espero que o Coxa faça isso mais vezes, e incentive os outros clubes, não para que haja uma 'separação' de público, mas para que as mulheres se sintam mais confortáveis e incentivadas a frequentar um local onde a predominância é masculina", disse.

Desde o momento em que cheguei na frente do estádio foi uma emoção fora do comum. É sempre uma grande energia ver o pessoal gritando e cantando, mas ouvir apenas vozes femininas foi uma sensação maravilhosa. Entrei em êxtase. Foi maravilhoso ter feito parte disso (...) Uma mulher estar em um estádio de futebol, cantando, mostrando seu amor pelo time, é muito emocionante, Bruna Betto, de 33 anos

Mariana Luisa também mencionou que já passou por situações desconfortáveis no estádio e que, em jogos como o de domingo, há mais segurança para as mulheres: "Me senti super segura. Infelizmente, tanto em jogos de futebol ou em outros esportes, onde a maioria dos torcedores são homens, eu não me sinto confortável ao lado de alguns. Já tive experiências infelizes ao ir sozinha para o Couto, então essa iniciativa do Coxa foi realmente muito linda".

Próximos passos

O Athletico terá dois jogos com a presença exclusiva de mulheres e crianças: contra o Maringá, no dia 21, e diante do Foz do Iguaçu, em 25 de janeiro. Ambos os compromissos na Arena da Baixada.

O Furacão espera o mesmo sucesso da torcida do Coritiba e pretende conversar com o clube rival para discutir outras ações e estimular a volta dessa torcida que não iria em situação normal.

O TJD do Paraná também viu reversão da punição como um sucesso e crê que a medida pode se espalhar por outros tribunais do Brasil.

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