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Pouco afetuoso e duro no trato: o que vestiário do Fla pode esperar de VP

Ex-Corinthians, técnico português Vítor Pereira está por detalhes para ser anunciado pelo Flamengo - Gil Gomes/AGIF
Ex-Corinthians, técnico português Vítor Pereira está por detalhes para ser anunciado pelo Flamengo Imagem: Gil Gomes/AGIF

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

28/11/2022 04h00

Vítor Pereira tem tudo acertado para comandar o Flamengo em 2023 e sua chegada deve mudar bastante a relação pessoal no vestiário. Após seis meses de Dorival Júnior e seu perfil mais sereno e de diálogo, o elenco vai conhecer uma linha um pouco mais dura: "nada afetuoso", como o próprio VP detalhou publicamente há algumas semanas.

"Sou extremamente estratégico, tático, mas tenho um grande problema: lidar com gente que a mim não diz nada. Ou seja, quando encontro um jogador que em termos morais não me diz nada, só tem merda na cabeça, tenho muita dificuldade de lidar com ele", admitiu Vítor Pereira em uma palestra que deu em setembro.

O contexto da palestra era o desafio dos treinadores portugueses no futebol brasileiro, e VP palestrou ao lado de Luís Castro, do Botafogo, em termos muito mais acadêmicos do que boleiros. Na ocasião, o futuro técnico do Flamengo argumentou que "muito de ser treinador é administrar conflitos", mas que tem dificuldades no vestiário quando trabalha com um atleta de valores muito diferentes.

"A maioria dos jogadores sai muito cedo de casa e nunca têm os pais educando, por isso os valores deles se chocam com os meus -eles acham que estão sempre certos. Ninguém pode dizer não ou contrariar o menino. Quando chega uma pessoa como eu e os defronta, diz na cara?", continuou Vítor Pereira na ocasião, deixando no ar as possíveis consequências do atrito.

Sabe qual é a pressão [de ser técnico]? Não é da torcida ou da mídia, é tomar decisões e administrar conflitos a toda hora. Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto dos animais."
Vítor Pereira, nos tempos de Corinthians, durante palestra em São Paulo

Vítor Pereira ficou nove meses no Corinthians e viveu polêmicas públicas sobre os mais variados assuntos: havia debates táticos, como o posicionamento de Róger Guedes; estratégicos, como o rodízio de titulares; e também comportamentais, como as declarações sobre treinar o Liverpool e ter a conta bancária recheada.

Internamente, nem todos do elenco estavam satisfeitos com o técnico. O UOL Esporte noticiou em agosto que o modelo de trabalho de VP causava certo desconforto interno, mas a situação foi administrada na época e não saiu di controle. Aos 54 anos, o treinador vai trabalhar no 11º clube da carreira.

"Cresci lutando por meu espaço, por isso sou tão competitivo. Não sou nada afetivo, sou pouco afetivo. Ninguém nunca me dizia que joguei bem, meu pai não era assim, e hoje sou desta forma. Não sou muito carinhoso, porque não tive esta experiência de vida, e hoje isso marca a minha carreira", avaliou VP, acrescentando:

"Sou um treinador que exige de si e de quem trabalha comigo."

Dorival pacificou ambiente

Técnico Dorival Júnior era muito querido pelo elenco do Flamengo, que torcia por sua permanência - Gilvan de Souza / Flamengo - Gilvan de Souza / Flamengo
Técnico Dorival Júnior era muito querido pelo elenco do Flamengo, que torcia por sua permanência
Imagem: Gilvan de Souza / Flamengo

Contratado para substituir Paulo Sousa em junho, Dorival conseguiu o que o português não foi capaz: unir o clube em torno dos objetivos e pacificar o dia a dia do Ninho do Urubu.

Sousa entrou em conflitos com algumas lideranças do elenco e se notabilizou por um estilo mais rude. Dorival, por sua vez, adotou um tom conciliador e fez todos remarem na mesma direção.

Alguns casos de evolução técnica também foram bem emblemáticos em sua passagem, principalmente com o lateral direito Rodinei e o atacante Pedro, que terminaram o ano em alta e com benefícios individuais.

Rodinei, por exemplo, chegou a integrar a lista dos pré-convocados da seleção brasileira para a Copa do Mundo do Qatar e agora tem encaminhada sua transferência para o Olympiacos, da Grécia. Já Pedro foi chamado para o Mundial por Tite.

Ao tomar conhecimento da saída de Dorival, uma comoção tomou conta do elenco, com muitos jogadores ligando para o treinador ou postando mensagens de agradecimento nas redes sociais. Entre os funcionários do departamento de futebol há também um sentimento de lamentação, já que na avaliação deles, os processos do dia a dia estavam azeitados com a comissão técnica do comandante.

Dorival tinha contrato até o dia 31 de dezembro deste ano e havia uma conversa em curso. Diante do desejo de contar com um novo profissional, o Fla desacelerou as tratativas e começou a negociar com Vítor Pereira.

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