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Por que reforços do SPFC jogam pouco em meio a ruído entre Ceni e diretoria

Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante o clássico contra o Santos, na Vila Belmiro, pelo Brasileirão 2022 - Rubens Chiri/Saopaulofc.net
Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante o clássico contra o Santos, na Vila Belmiro, pelo Brasileirão 2022 Imagem: Rubens Chiri/Saopaulofc.net

Thiago Braga

Do UOL, em São Paulo

23/08/2022 04h00Atualizada em 23/08/2022 12h00

Ainda em busca do São Paulo ideal, que seja competitivo para bater de frente com os grandes times no Brasil na atualidade, a diretoria tricolor foi ao mercado da bola para qualificar o elenco nesta última janela de transferências. Só que dos cinco jogadores que desembarcaram no último mês no CT da Barra Funda — Felipe Alves, Ferraresi, Galoppo, Marcos Guilherme e Bustos —, cada um teve destinos distintos até aqui.

Semifinalista da Copa do Brasil e da Sul-Americana, o Tricolor ainda luta para engrenar no Campeonato Brasileiro. No último domingo (21), foi derrotado pelo Santos por 1 a 0, na Vila Belmiro. Havia a expectativa pelas estreias de Ferraresi e Bustos, e que Galoppo pudesse ter mais minutos em campo.

Ceni, no entanto, escolheu apenas Ferraresi como titular para o clássico. Bustos entrou no final do jogo, e Galoppo não saiu nem do banco de reservas. Segundo apurou o UOL Esporte, Ceni queria um meia que pudesse ajudar mais na marcação quando o time estiver sem a bola, o que ainda não tem conseguido com Galoppo.

E não é só o caso do Galoppo. Houve pelo menos outras quatro declarações de Ceni, essas públicas, que deixaram em aberto um possível ruído de comunicação entre o treinador e a diretoria tricolor.

Encaixe das novas peças

O problema maior para encaixar quem chegou nesta janela de transferências ao Morumbi, de acordo com Ceni, está no fato de o time ter pouco tempo para treinar, por conta da sequência de partidas eliminatórias pela Sul-Americana e Copa do Brasil, mais os jogos do Brasileirão, como o próprio treinador explicou, depois do jogo de ida com o Ceará, na Sul-Americana.

Dos atletas que chegaram no meio do ano, apenas o goleiro Felipe Alves e o atacante Marcos Guilherme têm atuado com mais frequência. Mas há justificativa para eles terem sido usados: o primeiro chegou em meio a uma emergência, quando o São Paulo ficou sem o titular Jandrei.

Marcos Guilherme também chegou e foi para campo. Antes de ser liberado para atuar, o atacante teve alguns dias de treinamento com o novo grupo, e pôde se adaptar ao que Ceni desejava. Dos oitos jogos em que esteve disponível, o camisa 95 foi titular em cinco.

Sem poder jogar a Copa do Brasil, era de se esperar que Nahuel Bustos tivesse mais chances no Brasileirão. Na vitória sobre o Red Bull Bragantino por 3 a 0, Ceni mandou Éder ao campo no segundo tempo e preteriu o atacante argentino, que viu todo o duelo do banco de reservas — ele fez sua estreia no clássico contra o Santos.

[A amostra] É muito pequena. Não tem como [avaliar]. Ele competiu bastante. Teve uma bola do Igor Gomes, se não me engano, para ele no segundo pau, claro para o gol. Não consegui ver direito se ele tentou dar de volta para o Calleri ou se tentou cabecear e foi um erro. Mas é uma participação pequena, porque o tempo de jogo que nós demos para ele foi pequeno"
Rogério Ceni, técnico do São Paulo

Dos recém-contratados, Ferraresi foi bem em seu primeiro jogo, também na Vila Belmiro, a ponto de ganhar elogios de Ceni. Mesmo com problemas financeiros, a diretoria tricolor ainda conseguiu fazer uma parceria com o Grupo City para trazer Bustos e Ferraresi. E conseguiu um investidor para ajudar a trazer Galoppo.

Frases que demonstram o incômodo de Ceni:

Não foi consultado para contratação de Bustos e soube da imprensa sobre acerto com Ferraresi

"Chegam mais dois jogadores, é isso? Eu desconheço a chegada dos jogadores. Sobre o zagueiro [Nahuel Ferraresi], ainda fui consultado. Mas sobre o atacante, não fui comunicado [Nahuel Bustos]. Eu acho que o São Paulo tem um elenco grande. Temos um bom elenco", disse após eliminar o Ceará e garantir a vaga na semifinal da Sul-Americana.

Lamentou ter de remontar o elenco no meio da temporada

"Não gosto de remontar times no meio da temporada. O que ele [Nikão, que estava ao lado de Ceni na coletiva] aprendeu aqui desde o começo do ano, o Galoppo que chega aqui, não vai conseguir aprender no mesmo tempo. A parte tática, o jogar futebol, cada um tem a sua qualidade e sabe executar. Mas os movimentos, a parte defensiva, cumprir papéis defensivos, é difícil para o Galoppo. O André Anderson, quando chegou, sentiu dificuldades. Hoje está lesionado, mas sentiu dificuldades. Isso requer tempo e treinamento. E o que menos temos hoje é tempo e treinamento", declarou.

"Fica mais difícil ajeitar um jogador em campo, com as contratações que chegam ao longo do ano. São importantes e ajudam os reforços, por exemplo os zagueiros que precisamos. É difícil chegar, embora seja a posição mais simples, onde você tem de defender. Mas na hora de criar, sair jogando [é difícil]. Remontar time não é simples. O ideal é ter um grupo e levá-lo até o fim do ano. Aí vende, faz o dinheiro que tem de fazer. Mas existe janela de transferências. E a gente não vive no mundo ideal", depois do jogo com o Ceará.

Elenco desequilibrado nas opções de peças

"Nós temos um bom elenco, que até dificulta para o treinador fazer as escalações. Do meio para frente, são 21 opções para cinco vagas. Atrás é que as opções são bem curtas. Para três zagueiros temos três zagueiros, mais Beraldo e Luizão, que ainda estão em formação. Que temos usado uma hora ou outra, o Luizão um pouco mais."

Na hora da festa, recordou problemas financeiros

"O clube atravessa uma situação delicada e os atletas têm ajudado muito o clube. Mais do que vocês imaginam, os jogadores têm ajudado o clube. Então, é muito legal ver esse time [classificado]. Logicamente eu sei que não foi campeão Paulista e isso machuca muito o torcedor, porque o time era um título possível de se conquistar. Por mais que fosse contra um adversário difícil, era um título possível depois da primeira partida. Mas o São Paulo, em duas semifinais num ano de praticamente colapso financeiro, é motivo de orgulho. Eu acho que é muito mérito dos jogadores", afirmou, após a classificação sobre o América-MG, à semifinal da Copa do Brasil.

Após a publicação da matéria, o clube procurou o UOL Esporte. Leia a íntegra do posicionamento:

"O UOL Esporte publicou uma matéria tendenciosa, baseada em edição direcionada de frases de coletiva para tentar comprovar o seu argumento, que é completamente infundado e irreal. O SPFC, a sua diretoria e o técnico Rogério Ceni não foram nem sequer procurados pela reportagem, preceito básico do jornalismo. O autor da matéria não fez nenhuma pergunta sobre o assunto nem mesmo em coletivas. Em uma busca rápida, localizamos também diversas declarações do mesmo técnico Rogério Ceni contrárias à teoria proposta de maneira sensacionalista pela reportagem. Jornalismo se faz com responsabilidade, o que passou longe dessa pseudo".

O UOL Esporte mantém sua apuração.

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