'É inaceitável essa violência gratuita', diz auxiliar agredida por técnico
A auxiliar de arbitragem Marcielly Netto falou pela primeira vez após ter sido agredida pelo agora ex-técnico da Desportiva Ferroviária Rafael Soriano. Em entrevista ao UOL Esporte, Marcielly disse que ficou muito assustada com a violência sofrida em campo e pediu que as mulheres não se calem diante de agressões.
Marcielly Netto disse que, antes de ser agredida com uma cabeçada, também levou um tapa na mão enquanto pedia calma ao treinador.
"Eu vi que ele estava muito exaltado e pedi pra ele ter calma. Fiz o gesto com as minhas mãos e ele já veio pra cima e bateu nelas. Já fiquei assustada", disse a auxiliar.
Após a primeira agressão, Soriano ficou ainda mais nervoso e não aceitou a orientação que Marcielly deu ao árbitro oficial da partida sobre o cartão amarelo ao jogador do time da Desportiva.
Ele já veio discutindo ainda mais pra cima de mim. Quando eu ia falar com o árbitro ele veio e deu a cabeçada. Na hora eu fiquei assustada, sem entender nada. Imediatamente chegou a polícia. E ele continuou gritando dizendo que eu estava inventando, que iria me processar, mas as imagens são claras, afirma Marcielly
Marcielly publicou um vídeo hoje, no final da tarde, em suas redes sociais e considerou o episódio como "lamentável", reafirmando que a cabeçada atingiu ela no nariz e garantindo que tanto o boletim de ocorrência quanto o exame de corpo de delito já foram feitos.
A auxiliar de arbitragem chegou a ser atendida no local e também registrou um boletim de ocorrência contra a agressão. No entanto, Marcielly ainda não decidiu se vai entrar com alguma ação penal junto ao jurídico da Federação Capixaba.
"Eu ouço diariamente comentários machistas, agressões verbais, tudo isso no campo. Chega, não dá pra aceitar mais. Nós, mulheres, não podemos nos calar. Temos que levantar a cabeça e mostrar que somos capazes de estarmos ali também. É inaceitável essa violência gratuita", repudiou Marcielly.
A FES (Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo) tem prestado apoio jurídico à auxiliar de arbitragem e vai decidir nos próximos dias se vai seguir com processos judiciais contra o ex-técnico do time de futebol capixaba.
Durante toda a manhã e início da tarde, a reportagem tentou contato por telefone com Rafael Soriano, mas ele não atendeu as ligações. O treinador foi demitido após a agressão.
Na súmula da partida, o árbitro Arthur Gomes Rabelo relatou que Soriano ofendeu a auxiliar antes de agredi-la. "Nesse momento, dou um passo atrás para puxar o cartão vermelho e a árbitra Assistente de n° 01 Marcielly Netto entra na frente dele para afastá-lo e pedir calma, e o mesmo diz 'tira a mão de mim, só porque é mulher vai ficar me encostando, vai se foder'", escreveu o árbitro na súmula.
"A assistente em seguida diz 'pode expulsar ele, ele não pode estar aqui e ainda reclamando e me xingando'. Neste exato momento em que dou um passo atrás para puxar o cartão vermelho, o treinador parte em direção a ela e desfere uma cabeçada no nariz da assistente, sendo ele contido pelo Árbitro Assistente n° 02, Márcio Berger", relatou Rabelo.
Entenda o caso
A agressão aconteceu no fim do primeiro tempo da partida entre Desportiva Ferroviária e Nova Venécia, pelo Campeonato Capixaba. Insatisfeito após o árbitro Arthur Gomes Rabelo encerrar a etapa inicial antes de seu time cobrar um escanteio, o técnico foi tirar satisfações com a arbitragem e deu uma cabeçada na bandeirinha, que imediatamente levou as mãos ao rosto. Rafael Soriano foi expulso pela agressão à assistente e desafiou Marcielly a ir à delegacia registrar Boletim de Ocorrência.
Mais tarde, a Desportiva anunciou a demissão do treinador em nota divulgada nas redes sociais, repudiou o episódio e se solidarizou com a auxiliar.
"Informamos que, diante do ocorrido, o treinador Rafael Soriano foi desligado do clube", informou.
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