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Após conflito de ideias com Carille, Santos traça novo perfil de técnico

Fábio Carille e Edu Dracena durante treino do Santos - Ivan Storti/Santos FC
Fábio Carille e Edu Dracena durante treino do Santos Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Lucas Musetti Perazolli

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

19/02/2022 04h00

O Santos quer substituir Fabio Carille com um técnico de características diferentes. Independentemente de ser brasileiro ou estrangeiro, o Peixe busca um profissional com histórico de vocação ofensiva e ideia de jogo compatível com o atual elenco recheado de garotos.

Em setembro de 2021, o Peixe trouxe Carille por necessidade. O time estava perto da zona de rebaixamento e demonstrava pouca evolução sob o comando de Fernando Diniz. O principal objetivo foi cumprido, e o Santos terminou o Campeonato Brasileiro no décimo lugar.

Com uma sequência positiva de resultados, principalmente com a vitória sobre o Flamengo no Maracanã, Fabio Carille viu uma campanha da maioria da torcida pela permanência. E o Peixe atendeu, com direito a aumento no salário.

Para 2022, com pré-temporada e alguns reforços, a expectativa era de um futebol competitivo e de resultados, mas também mais leve e ofensivo, diferentemente do que as equipes de Carille praticaram ao longo de sua carreira. Na prática, o Peixe mostrou menos que na temporada passada contra adversários mais fracos.

Em sete jogos no Campeonato Paulista, o Santos venceu dois, empatou três e perdeu dois. Mais que os resultados, o desempenho chamou a atenção da diretoria. O Peixe não fez uma partida inteira em alto nível e mostrou deficiências ofensivas e defensivas. Mesmo na vitória por 2 a 1 sobre o Corinthians na Neo Química Arena, a virada veio no segundo tempo com a individualidade de Marcos Leonardo.

A gota d'água foi a derrota por 3 a 2 para o Mirassol. A equipe do interior paulista abriu 3 a 0 no primeiro tempo e poderia ter feito mais. Na etapa final, Carille mexeu no time, e o Santos diminuiu —quase empatou, na verdade. Mesmo com essa reação, a direção entendeu que o melhor caminho era a saída de Carille.

O Peixe quer uma equipe capaz de fazer o que fez nos dois gols em 13 minutos em Mirassol, mas não apenas quando há necessidade do resultado e placar adverso.

Pressa x cautela

O Santos não quer demorar para definir o substituto de Fabio Carille, mas ao mesmo tempo tem medo de se apressar e errar novamente. O Peixe já teve Cuca, Ariel Holan, Fernando Diniz e Carille na gestão Rueda.

O Santos será dirigido pelo auxiliar Marcelo Fernandes contra o São Paulo no domingo, às 18h30, na Vila Belmiro, pela oitava rodada do Campeonato Paulista. E a tendência é que ele também dirija o Peixe diante do Salgueiro na quarta-feira (23), em Pernambuco, pela estreia na Copa do Brasil. O elenco viaja na segunda.

Dentre os estrangeiros possíveis, alguns argentinos já foram cotados no Santos em 2021: Hernán Crespo (ex-São Paulo e sem clube), Gabriel Heinze (livre), e Sebastián Beccacece (Defensa y Justicia). Heinze e Beccacece dividem opiniões por causa do temperamento difícil e possível dificuldade para adaptação.

Fabián Bustos, também argentino, é alvo de especulação no Santos pela primeira vez. Ele dirige o Barcelona de Guayaquil semifinalista da última edição da Libertadores da América. A equipe equatoriana venceu o Peixe duas vezes na fase de grupos. O profissional foi oferecido ao alvinegro por seu representante no Brasil. Em janeiro, o Goiás demonstrou interesse, porém, não teve condições financeiras de avançar.

Mauricio Pellegrino, do Vélez Sarsfield, Fernando Gamboa, ex-Newell's Old Boys, e Matías Almeyda, do San José Earthquakes, são outros "hermanos" indicados por agentes. Para todas essas sugestões, a resposta de Edu Dracena é a mesma: "Vamos avaliar".

Entre todas essas opções, há algo em comum: a busca pelo protagonismo em campo. O Santos entende que o elenco precisa de alguns reforços, mas tem o suficiente para marcar pressão e abusar da velocidade de jogadores como Ângelo, Lucas Braga e Marcos Leonardo. Bustos é o técnico com proposta "menos ousada" entre as alternativas citadas.

Outros cotados nos últimos anos pelo Santos são brasileiros e estão livres, como Dorival Júnior, Lisca e Renato Gaúcho. Dorival agrada a Edu Dracena, mas foi descartado pelo Comitê de Gestão. Em maio de 2021, Renato Gaúcho foi procurado pelo Santos e disse que descansaria. Em julho, foi para o Flamengo. Outra opção é Elano, atualmente na Ferroviária.

"Tive algumas conversas muito boas com o presidente [Andrés Rueda], que tem ideias maravilhosas. Mas coloquei para ele que, no momento, gostaria de descansar um pouco, curtir minha família e meus amigos, porque não adiantava eu ter saído do Grêmio e pegar outro trabalho. Ele falou que me esperaria por um mês, que era só dar a palavra. Mas falei que, infelizmente, não dava. Fiquei agradecido, é um grande clube, mas eu preciso descansar e não sei como seriam 30 dias. Poderia não cumprir a palavra. Mas quem sabe no futuro?", disse Renato, ao SporTV.

Febre no Brasil após o sucesso de Abel Ferreira e Jorge Jesus, os técnicos portugueses não devem ser pauta no Santos. O orçamento do Peixe é baixo, e a diferença do euro para o real pesa contra qualquer negociação.

Carille quase saiu duas vezes

O executivo de futebol Edu Dracena chegou ao Santos em outubro de 2021. Naquele momento, Fabio Carille balançava no cargo. No mesmo dia do anúncio do diretor, o Peixe venceu o Fluminense por 2 a 0 e deu sobrevida ao treinador. Um empate já seria suficiente para a demissão. À época, Edu pensava em Roger Machado, hoje técnico do Grêmio.

O Santos ainda oscilou, mas se livrou de fato do rebaixamento rodadas depois no Brasileirão e, no fim do ano, veio a comoção da torcida pela permanência de Carille em 2022.

Edu, então, se convenceu a ficar com o técnico, mas alguns da diretoria foram contra. O Peixe melhorou o contrato do treinador e previu bons resultados nesta temporada. O começo ruim no Paulistão mudou os planos da direção. E o relacionamento entre Edu Dracena e Fabio Carille não era dos melhores. Foi Andres Rueda quem conversou sobre a saída.

Fabio Carille entendeu a decisão do Santos e entrou em acordo com a diretoria, porém, a pessoas próximas, lamentou os problemas na pré-temporada com surto de covid-19 e lesões.

Depois de usar a formação 3-5-2 no Peixe, Carille estudou durante as férias e se convenceu a atuar no 4-3-3, com Felipe Jonatan na lateral esquerda e Sandry no meio-campo. A ideia era melhorar o desempenho defensivo de Felipe nos treinamentos e observar Sandry à frente da defesa, com Camacho ou Vinicius Zanocelo do seu lado. Só que ambos foram diagnosticados com o coronavírus e perderam várias atividades. Para piorar, Sandry teve uma lesão no tornozelo e está pronto para jogar 90 minutos justamente depois do técnico sair.

Carille deixa o Santos com o carinho do elenco, demais membros da comissão técnica e funcionários. O treinador não teve qualquer problema sério de relacionamento e tinha a torcida da maior parte dos atletas por sua permanência:

"Nesta sexta-feira, eu, minha comissão e a diretoria do Santos decidimos, em comum acordo, não dar continuidade ao trabalho que estava sendo realizado. Cheguei ao Santos em 2021 com uma missão difícil, mas muito honrado e com muita gana de ajudar o clube a sair da situação delicada em que se encontrava, na briga contra um possível rebaixamento inédito na história do clube. Este não era o lugar do Santos e, com a ajuda de todo elenco e participação fundamental da torcida, conseguimos deixá-lo em seu devido lugar. Tínhamos boas expectativas para a sequência agora em 2022, dentro da realidade do clube, mas por diversos fatores elas, infelizmente, não se confirmaram. Saio grato pela oportunidade de ter feito parte da história de um clube tão grande, tradicional e importante para o futebol brasileiro como Santos. Agradeço à direção, aos jogadores, todos no clube e à torcida, que esteve incondicionalmente ao nosso lado quando mais precisamos. Obrigado, Santos!", disse Carille, em nota oficial.