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Palmeiras: Luan, 'homem de várias famílias', dá volta por cima após um ano

Luan, durante partida do Mundial de Clubes, nos Emirados Árabes  - Fabio Menotti/ Palmeiras
Luan, durante partida do Mundial de Clubes, nos Emirados Árabes Imagem: Fabio Menotti/ Palmeiras

Diego Iwata Lima

Do UOL, em Abu Dhabi (Emirados Árabes)

10/02/2022 04h00

Na última segunda-feira (7), completou um ano a derrota do Palmeiras para o Tigres do México, na semifinal do Mundial de Clubes de 2020, no Qatar. O gol saiu em uma cobrança do francês Gignac, após pênalti cometido por Luan. Nesta quinta (10), completam-se dois dias daquele que o mesmo Luan define como o jogo mais feliz de sua vida —a vitória por 2 a 0 do Palmeiras sobre Al Ahly (EGI), pela semifinal do mesmo campeonato, agora em Abu Dhabi (EAU).

"Não parava de olhar para minha família na arquibancada, meus pais, minha mulher, meus irmãos, meu fisioterapeuta pessoal. Fiz questão que todos estivessem aqui. Passamos por tanta coisa juntos", disse o defensor, com lágrimas nos olhos, após partida em que foi um dos maiores destaques da equipe.

Luan não citou seus familiares à toa. A família sempre teve peso grande na vida do zagueiro. Aos 12 anos, ele teve de abandonar a sua em Fundão, cidade do interior do Espírito Santo, para se juntar ao Vasco e morar nos alojamentos sob as arquibancadas do estádio de São Januário.

Aos 17, ao estourar o limite da idade em que poderia seguir no alojamento, foi "adotado" pela família da então namorada Clarice, hoje sua esposa -cada um em um quarto, como a família de Clarice determinou. Mas antes de ele mesmo ser adotado, Luan também fez uma adoção muito importante entre os colegas do Vasco, um verdadeiro irmão.

Fã das bolachas de chocolate

Pouco antes de Luan chegar ao Gigante da Colina, chegou de Augustinópolis, no Tocantins, um atacante chamado Marlone. No alojamento então precário do clube carioca, Marlone e Luan dividiam o mesmo quarto sem refrigeração e com zero conforto.

Nos feriados e folgas, Luan voltava para Fundão. Mas Marlone, aquele mesmo, ex-Corinthians e Cruzeiro, não tinha recursos para fazer o mesmo. Luan, então, decidiu que o amigo iria ser seu convidado constante nas voltas ao Espírito Santo.

"No fim do ano, o Vasco ajudava aqueles que não tinham dinheiro para voltar. Mas em outras datas, eu não tinha condições", contou Marlone, atualmente em busca de um clube, à reportagem do UOL Esporte.

"O Luan sempre foi um cara muito família", disse. "Eu via meus pais uma vez por ano... E então o Luan me levava para a casa nas outras datas", conta. "Luan e sua família foram um porto seguro num momento em que eu precisava demais", completa Marlone.

De tanto ir para a casa de Luan, Marlone tornou-se mesmo um familiar. A ponto de a mãe de Luan estocar a casa com as iguarias preferidas do atacante. "Foi lá que eu conheci aquela bolacha Piraquê de chocolate, e fiquei amarrado naquilo. Quando eu ia para lá, sempre tinha bolacha para mim", conta Marlone, entre risos

Números que falam alto

Luan foi impecável contra o Al Ahly. O camisa 13 não levou um drible sequer durante a partida, de acordo com o site de estatísticas SofaScore. Foi também o líder de ações defensivas do jogo, com seis interceptações, três cortes, dois chutes bloqueados e um aproveitamento de 75% de duelos aéreos.

Já pelos dados do Footstats, além do destaque defensivo, o zagueiro deixou gramado com 100% de passes certos.

Luan sofreu muito neste um ano, desde o pênalti cometido sobre Gignac. Em junho, ou seja, há apenas oito meses, a organizada Mancha Verde publicou nas redes sociais um manifesto contra o jogador, exigindo sua demissão.

Na terça-feira, membros da mesma Mancha presentes em Abu Dhabi cantaram seu nome.

"Aquele Luan que cometeu um pênalti contra o Tigres não é melhor nem pior que o Luan que está aqui hoje. Minha vida e trajetória são baseadas em constância. Tenho certeza de que vou colher grandes frutos", disse o jogador. "Se eu pudesse dar um recado a mim mesmo, eu diria: que bom que você não desistiu, que bom que você não se vitimizou, que bom que você trabalhou calado e deu a volta por cima", completou.

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