Fluminense recebe Inter com arquibancada em debate sobre termo racista

O Fluminense encara o Internacional, hoje (24), pensando em engrenar no Campeonato Brasileiro e, consequentemente, também na briga por uma vaga na Libertadores. O Tricolor terá o apoio da torcida no Maracanã, e é justamente nas arquibancadas que uma mudança poderá começar a ser notada. O confronto será às 21h30.

O jogo com o Colorado é um daqueles que, no jargão do futebol, é considerado "de seis pontos". Com 48 pontos na competição, o Flu está na sétima colocação, enquanto a equipe gaúcha tem 47 e está na oitava, sendo um concorrente direto na luta para entrar no primeiro pelotão do torneio.

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Fora das quatro linhas aguarda-se uma novidade. A torcida Bravo 52, uma das organizadas no clube das Laranjeiras, fez ganhar força o debate sobre uma mudança em um dos cânticos de arquibancada mais populares.

Um trecho da música "Desde Pequeno Eu te Sigo" tem o termo "mulambo imundo" ao se referir aos torcedores do rival Flamengo. Uma das ideias é trocar o conteúdo por "volta pro remo", uma provocação utilizada constantemente pelos tricolores devido à histórica relação das duas instituições — o Rubro-Negro nasceu como um clube de regatas, enquanto o Fluminense sempre foi voltado ao futebol. O Departamento de Esportes Terrestres surgiu na Gávea após uma dissidência nas Laranjeiras.

"Em 1911, houve um desentendimento interno no Fluminense. Alguns jogadores falavam em trocar de clube, enquanto outros até mesmo pensavam em abandonar o futebol. Foi quando Alberto Borgerth, um dos jogadores do Fluminense, fez a proposta de criar uma seção de futebol no Flamengo, onde já era remador", diz o site oficial do Fla.

A discussão sobre a alteração ganhou as redes sociais nos últimos dias e dividiu opiniões.-Pedro Machado, autor da música, se mostra favorável à modificação.

"Como autor da música, concordo com essa pauta. Confesso que é uma coisa que me incomoda. Fiz essa música em 2009 e, de lá para cá, muita coisa mudou. A sociedade mudou, graças a Deus. Na época que fiz, nem parei para pensar o que significava "mulambo". Hoje, jamais faria uma música com essa palavra. A sociedade evolui, mesmo que em ritmo lento. A gente vê que tem resistência ainda, vemos os comentários sobre o assunto. Mas, hoje em dia, jamais faria com esses termos, e concordo plenamente, As coisas têm de evoluir e mudar. Acho importante debatermos isso, mostra uma evolução. Uma coisa que incomoda, fico feliz de estar sendo debatido neste sentido", disse, ao UOL Esporte.

A Bravo 52 fomentou a conversa sobre o assunto. Diogo Riccobene, presidente da torcida, admite que não será uma tarefa fácil implementar a mudança, mas ressalta que a arquibancada também tem um papel social.

"Na verdade, nós da diretoria da Bravo há algum tempo já havíamos conversado sobre o tema. Nós, como torcida, temos sim que ter um papel social também, lutar por causas que mereçam ser, de certa forma, um grito de apoio. E essa é uma. Como citei, nós já havíamos falado sobre algumas músicas que são preconceituosas, mas sabíamos que não seria fácil a mudança, teria resistência. Mas lutaremos para que o torcedor tricolor entenda o verdadeiro significado da palavra "mulambo" e se envergonhe de dizer e cantar esse termo", pontuou, ao site "NetFlu".

Origem da palavra mulambo

A palavra "mulambo" ou "molambo" é apontado com o significado de "farrapo gasto, sujo; roupa muito suja, trapo; pessoa que se veste de maneira esfarrapada; maltrapilho". A origem da palavra, porém, remete ao período da escravidão. O termo nasceu na Angola e se tornou pejorativo e racista pois, no Brasil, passou a ser usada pela elite, que usava boas vestes, para designar os escravos.

"Não é novidade que o futebol, como microcosmo da sociedade, e sendo um ambiente imerso em paixão cega, é pródigo num preconceito muitas vezes encarado com a mais absoluta normalidade. Bambis, mulambos, gambás, marias, macacos, bosteros e galinhas são apenas algumas dessas demonstrações de ódio, destinadas basicamente ao conceito de sexualidade, classe social e raça do outro indivíduo", diz trecho do texto intitulado "Pelo fim das provocações preconceituosas entre os rivais", de Fagner Torres e Luan Monteiro, publicado no Observatório de Discriminação Racial no Futebol.

Novo jogo contra concorrente direto

Assim como aconteceu na última rodada, contra o América-MG, o Fluminense tem novo encontro com um concorrente direto na briga por vaga na Libertadores. Desta vez, o adversário é o Internacional. O Tricolor luta contra a oscilação que vem demonstrando ao longo da competição, e que já o fez desperdiçar pontos preciosos.

"Sabemos que o Campeonato Brasileiro não é nada fácil, a cada jogo a gente vem conversando para ser uma final. Temos nosso objetivo, nós queremos estar na Libertadores, mas todos os times que estão jogando não estão de bobeira. Todos os jogos são uma final. É para lutar até o final para que a gente possa sair com a vitória e alcançar o nosso objetivo", disse Luiz Henrique, em coletiva realizada ontem (23).

Letra original da música

"Desde pequeno eu te sigo
Estou contigo em todo momento
Superamos a queda com a força de um sentimento
Todo mundo dizia, Fluminense é o fim da sua vida
Mas a gente sabia da força da nossa torcida

Nós enchemos jogo às 11 da matina, ô ô ô
Nós calamos a la 12 na Argentina, ô ô ô
Nossa torcida canta e pula o jogo todo
Não é pequena como a do Botafogo
Vascaíno, são paulino e palmeirense
Nunca fizeram uma festa como a gente

E pra você flamenguista me escuta
Mulambo imundo, f... da p...!
Mulambo imundo, f... da p...!"

FICHA TÉCNICA
FLUMINENSE X INTERNACIONAL

Competição: Campeonato Brasileiro
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Dia: 24 de Novembro de 2021, quarta-feira
Horário: 21h30
Árbitro: Felipe Fernandes de Lima (MG)
Assistentes: Guilherme Dias Camilo (MG) e Felipe Alan Costa de Oliveira (MG)
VAR: Emerson de Almeida Ferreira (MG)

Fluminense: Marcos Felipe; Samuel Xavier, David Braz, Luccas Claro e Marlon; Martinelli, Yago e Jhon Arias (Cazares); Luiz Henrique, Caio Paulista e Fred. Técnico: Marcão

Internacional: Marcelo Lomba (Daniel); Saravia, Bruno Méndez, Victor Cuesta e Moisés; Rodrigo Dourado, Rodrigo Lindoso, Edenilson, Taison e Patrick; Palacios (Yuri Alberto). Técnico: Diego Aguirre