Topo

Quem tem mais a posse de bola vence? Analista desmistifica dados no futebol

Do UOL, em São Paulo

14/10/2021 15h19

Quem tem mais posse de bola vence um jogo de futebol? Quem chuta mais vezes ao gol leva vantagem? Os dados estatísticos estão cada vez mais presentes na análise esportiva e no futebol é um mercado crescente, com empresas especializadas em coletar estes dados e transformar em informação. É o que faz Augusto Oazi, editor de dados da Opta Sports Stats Perform, que explica em entrevista a Mauro Cezar Pereira no Dividida, do Canal UOL, sobre como os dados são trabalhados e como os números não exatamente dizem quem vence um jogo.

Augusto Oazi cita como exemplo a discussão a respeito da posse de bola e mostra como em três jogos da mesma rodada do Campeonato Brasileiro, o time que teve por mais tempo o controle da bola teve resultados distintos, assim como os próprios números da competição deixam claro que o jogo passa por uma série de fatores além da simples discussão a respeito da posse ou das finalizações.

"A gente fala muito de posse de bola no futebol porque posse de bola ganha jogo ou não e foi o primeiro número que todo mundo começou a falar vendo na transmissão, mas em uma rodada em que o Flamengo ganhou de 3 a 0 do Athletico-PR com 72% de posse de bola, o Palmeiras empatou em casa com o Juventude com 72% de posse de bola e o Grêmio perdeu em casa do Sport com 65% de posse de bola, então a posse de bola ganha jogo ou não", explica.

"Se você olhar no Brasileirão 2021, 67 vezes o time que teve mais posse de bola venceu o jogo e aí 81 vezes ele perdeu o jogo, aí você pensa, 'não, posse de bola então não explica nada, vamos falar de finalizações, é melhor ter mais finalizações'. No Brasileirão 2021 foram 73 vitórias dos times que tiveram mais finalizações do que o adversário no jogo e 65 derrotas, então é muito perto ali, não é que a finalização explica se você vai ganhar o jogo ou não", completa.

Oazi cita uma partida pela Liga dos Campeões entre Celtic e Barcelona, em 2012, na qual os números que poderiam indicar a ampla superioridade do clube catalão não mostram que na verdade o favorito foi derrotado pela equipe escocesa em Glasgow.

"Um jogo que é o exemplo melhor que existe de como as estatísticas podem, você olhando as estatísticas, você pode pensar que aquele jogo teve um resultado, quando teve completamente diferente, que é o Celtic contra o Barcelona na Champions League de 2012/2013. O Barcelona teve 90% de posse de bola, o Barcelona teve 950 passes e o Celtic teve 150, o Barcelona teve 23 finalizações e os escoceses tiveram cinco, o resultado do jogo foi 2 a 1 para o Celtic", cita.

Outro jogo em que apenas olhar os números pode enganar é um bem conhecido dos torcedores brasileiros, a semifinal da Copa do Mundo de 2014 entre Brasil e Alemanha, o jogo do 7 a 1 no Mineirão.

"Um time que teve mais posse de bola do que o seu adversário, ele teve 54% e o adversário 46%, que teve mais finalizações, ele teve 13 finalizações e o adversário teve 12 e no final perdeu esse jogo de 7 a 1, que foi o Brasil na Copa do Mundo contra a Alemanha, então os dados desse jogo, você olha, foi um jogo parelho, não foi um jogo em que um time dominou muito o outro, você vê o jogo assistindo, foi um 7 a 1, foi um atropelamento que ninguém nunca vai esquecer na história do futebol", diz Oazi.

"Quando você vê os dados puros assim de um jogo específico, ele pode enganar bastante quando você vai ver quanto foi aquele jogo. Por isso que é muito bom você ter os dados e ter também a vivência do futebol, saber o que está acontecendo no jogo. Quando você analisa os dados de maneira assim, um campeonato, um time ao decorrer dos anos, os dados falam bastante coisas, mas quando você está analisando poucas coisas, poucos jogos, um jogo específico, você tem que assistir o jogo, você tem que saber o que está acontecendo no jogo para falar daquele jogo, não vai ser olhando o número de finalizações que você vai falar 'esse time jogou melhor que o outro', você tem que ter a vivência do futebol", conclui.

O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.