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Em áudio vazado, Del Nero nega complô contra Caboclo: "Algoz foi ele mesmo"

Igor Siqueira e Rodrigo Garcia

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

07/07/2021 17h21

O ex-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, negou em um áudio vazado e obtido pelo UOL Esporte que tenha organizado um "complô" para derrubar Rogério Caboclo. O dirigente atualmente está afastado da presidência da entidade por conta de uma denúncia de assédio moral e sexual contra uma funcionária. Del Nero não cita textualmente o nome "Caboclo", mas acrescentou que "o algoz dele foi ele mesmo".

A gravação circulou nos bastidores e teve veracidade confirmada pelo próprio Marco Polo — leia a íntegra abaixo. No áudio, Del Nero ainda diz ter "pena" de Rogério, que o acusou de conduzir um "golpe de estado na CBF". Marco Polo articulou a eleição de Caboclo em 2018, mas agora ambos se tornaram inimigos.

Em notas oficiais publicadas recentemente, Rogério Caboclo inclusive atribui a Del Nero as decisões da comissão de ética que o afastaram temporariamente do poder. Inicialmente, a punição foi por 30 dias. Mas o órgão acrescentou mais 60 dias.

"Este é mais um episódio do inédito golpe orquestrado e comandado pelo ex-presidente Marco Polo Del Nero, banido do futebol, por meio de aliados na confederação", chegou a dizer a defesa de Caboclo. Del Nero já tinha negado atuação no caso. E, ainda no áudio, explica sua visão sobre a crise pela qual Rogério passa.

"Ele fala em complô. Mas pera aí... Complô? Só se ele fez parte do complô, se ele fez o complô. Se ele não tivesse falado os horrores que falou para a vítima, se não tivesse humilhado uma mulher mais frágil, subalterna, funcionária dele.. Se ele não tivesse assediado, nada disso teria acontecido", acrescentou.

Segundo áudios revelados pela TV Globo, Caboclo manteve alguns diálogos com a funcionária e, em um deles, perguntou: "Você se masturba?". Em outra situação, ofereceu ração de cachorro a ela. O dirigente da CBF nega que tenha cometido crime.

Procurado pelo UOL Esporte, Del Nero confirmou a veracidade do áudio. "Infelizmente vazou uma conversa estritamente particular de um grupo de amigos", afirmou.

Em carta enviadas às federações estaduais, Caboclo disse que Del Nero "busca retomar o poder na CBF colocando no cargo de presidente alguém que obedeça às suas ordens, tudo aquilo que não obteve de mim". Rogério Caboclo divulgou ainda um bilhete que teria sido escrito por Del Nero, no qual o ex-presidente pede R$ 12 milhões para abafar a denúncia de assédio moral e sexual. Marco Polo também nega autoria.

Em nota enviada ao UOL, o presidente afastado acrescentou que "o áudio do cartola banido do futebol Marco Polo Del Nero é uma confissão de que ele se movimenta nos bastidores da CBF para reassumir o controle da entidade por meio de seus laranjas. Isso fica claro quando ele diz preferir 'discutir os assuntos internamente' e endossa opiniões repetidas por seus aliados dentro da confederação".

O afastamento definitivo ou retorno de Caboclo ao poder depende de alguns passos. O primeiro dele é a conclusão do processo na comissão de ética. Se ela condená-lo, é preciso referendar a decisão na assembleia geral da CBF, composta pelas 27 federações estaduais. Os dirigentes, inclusive, têm hoje (7) uma reunião informal na CBF para discutir o que fazer com Caboclo no futuro.

Com o afastamento de Caboclo, quem assumiu a CBF foi o Coronel Nunes, eleito durante a gestão Del Nero para ocupar estrategicamente o papel de vice-presidente mais velho. Ou seja, o primeiro na linha de sucessão. Com a mudança de estatuto da CBF, Nunes terá que convocar uma eleição entre os vices, caso o afastamento de Caboclo seja definitivo. Na CBF, a diretoria e os vices trabalham junto às federações para que Caboclo não alcance viabilidade política para retomar o poder.

O que Del Nero diz no áudio

"Olha pessoal, estou dando uma satisfação para vocês. Vocês sabem que eu não sou muito de falar, né? Sobretudo com a imprensa. Eu prefiro discutir os assuntos internamente. E quando é necessário a gente fala, sim. Antes de tudo, eu tenho muita pena dele. Tenho dó dele, sabe? Toda essa situação que envolveu ele e uma mulher, uma funcionária, de assédio sexual, moral... Isso é muito grave, né?

Mas eu tenho impressão que tudo isso... as coisas vão ser apuradas, comprovadas... Já estão comprovadas porque os áudios parecem verdadeiros, né... Mas o que fazer?

Agora, eu acho absurdo e uma mentira tão grande... eu não sei onde ele quer caminhar. Ele fala em complô. Mas pera aí... Complô? Só se ele fez parte do complô, se ele fez o complô. Se ele não tivesse falado os horrores que falou para a vítima, se não tivesse humilhado uma mulher mais frágil, subalterna, funcionária dele.. Se ele não tivesse assediado, nada disso teria acontecido. Então, agora, algoz quer ser vítima? Não. Não. Ele está equivocado. O algoz dele foi ele mesmo.

E a vítima foi uma mulher humilhada que foi buscar apoio na comissão de ética e na Justiça. Ponto final. Gente, tudo tem limite. Até o absurdo tem limite".

Nota de Rogério Caboclo

"O áudio do cartola banido do futebol Marco Polo Del Nero é uma confissão de que ele se movimenta nos bastidores da CBF para reassumir o controle da entidade por meio de seus laranjas.

Isso fica claro quando ele diz preferir "discutir os assuntos internamente" e endossa opiniões repetidas por seus aliados dentro da confederação.

O áudio se junta a outras provas do golpe em curso na CBF, como manuscrito de Del Nero negociando o silêncio de uma secretária que acusa Caboclo de assédio, a alteração do estatuto e a atuação coordenada de seus cúmplices dentro da entidade (evidenciada pelas recentes manifestações do Conselho de Ética, da diretoria, do presidente interino e do Conselho Fiscal)".