Com a tensão política vivida pela Colômbia e a piora na situação da pandemia na Argentina, a Conmebol viu a Copa América perder suas duas sedes. A entidade, porém, ficou pouco tempo sem ter onde realizar o torneio. Segundo país com maior número de mortes causadas pela covid-19, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, o Brasil aceitou organizar a competição, em decisão confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que logo gerou muitas críticas.
No podcast Futebol sem Fronteiras #4 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade debateram a polêmica em torno da realização da Copa América no Brasil. Eles criticaram tanto a manutenção do torneio como a organização dele pelo Brasil em meio a um dos momentos mais críticos da pandemia de covid-19 em toda a América do Sul.
"A questão é dar uma sinalização ao mundo de que, enquanto morrem mais de mil pessoas por dia no Brasil, entre as nossas prioridades está organizar um megeavento. Difícil justificar e explicar isso no futuro", criticou Jamil,
Para Julio, esta edição do torneio nem deveria ser realizada. "A Copa América não tem uma regularidade. A Eurocopa, desde que a gente nasceu, é de quatro em quatro anos. Teve Copa América em 2015, 2016, Centenário. É um evento que ajuda a cartolagem. Igualar a Copa América à Eurocopa pode até valorizar o torneio. Mas se você já fez em 2019, pode tranquilamente pular 2020, 2021 e ir lá para 2024", comentou.
Pelos dados divulgados nesta quinta-feira (3) pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, o Brasil reportou um total de 469.784 mortes causadas pela covid-19 em toda a pandemia. Em média, o país registrou 1.862 óbitos diários causados pela doença nos últimos sete dias. A vacinação, iniciada em meados de janeiro, segue a passos lentos: a primeira dose de vacina foi aplicada em 22,53% da população, e apenas 10,74% recebeu a dose de reforço, necessária para completar a imunização.
Diante deste cenário, Jamil considera que o país ficará marcado de forma negativa por aceitar organizar a Copa América. "O choque que a história vai contar é esse. Com tudo o que estava acontecendo naquele país, teve tempo para parar e organizar um evento? Pode-se perguntar 'qual a diferença entre Copa América, Libertadores, Brasileiro e Paulista?'. É uma pergunta válida. A outra pergunta é 'Por que um evento extra, que envolve justamente a atenção do governo?' Qual o motivo que, em um país com 500 mil mortos e milhares de famílias em luto, com sérios problemas financeiros, precisa ter um governo que para de pensar em vacinas para resolver em que estádio vai jogar a seleção brasileira? É inadmissível", lamentou.
Além de defender o cancelamento desta edição da Copa América, Julio acha que a Euro também não deveria acontecer. "A Eurocopa também não deveria ser realizada pelas mesmas razões. Vai ser também por uma questão de dinheiro, televisão, dinheiro para as federações e por aí vai. Os motivos que fazem a Eurocopa ser realizada são os mesmos da Copa América. Um dinheiro que já foi distribuído pela Conmebol para as federações e até, em vários casos, gasto. Não é uma questão de segurança, mas de imagem", explicou.
Jamil condenou a realização da Copa América, ainda mais pela situação em que o Brasil se encontra. "A pandemia é a pior situação sanitária do mundo em mais de cem anos, o pior tombo da economia mundial em 70 anos, uma crise que desfaz os avanços sociais obtidos durante 30 anos. Ou seja: é um evento que, daqui a 50 anos, terão um capítulo especial para 2020 e 2021 nos livros de História. Quando tiver um subcapítulo 'Brasil', vai ter o seguinte: um país que nunca sofreu grandes perdas de repente tem perto de 500 mil mortos. Enquanto isso, pensava-se na organização de eventos esportivos", finalizou.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também a análise da partida entre Brasil e Equador, pelas eliminatórias da Copa do Mundo-2022.
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