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Pai de Miguel nega participação em acordo de Flu e Vasco: 'Não assinei'

Pai de Miguel afirma que não sabia nem assinou acordo de Fluminense e Vasco por 30% dos direitos - Paulo Fernandes / Vasco
Pai de Miguel afirma que não sabia nem assinou acordo de Fluminense e Vasco por 30% dos direitos Imagem: Paulo Fernandes / Vasco

Bruno Braz e Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/05/2021 04h00

O imbróglio entre Fluminense e Miguel, que pede rescisão contratual na Justiça, teve novos capítulos. Após o Vasco acenar com um documento que lhe garantiria 30% dos direitos do jogador, em acordo reconhecido pelo Tricolor, o pai dele, José Roberto Lopes, negou ter assinado ou participado do negócio.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, José Roberto, que é também agente do jovem, afirmou que nunca viu tal documento. Ontem (10), a reportagem confirmou com os clubes a existência de um acordo a época em que Miguel voltou ao Tricolor após passagem de 11 meses pelo Cruz-Maltino.

"Não sabia da existência desse documento. Soube disso tem um ano. E só de ouvir dizer. Nunca me apresentaram esse documento. Se eu soubesse, riria de quem assinou. Juridicamente é um contrato inválido. Não pode assinar contrato de menino menor que 14 anos", afirmou.

Fluminense e Vasco afirmam ter acordo para que a divisão dos direitos econômicos ficasse assim: 60% com o Tricolor, 30% com o Cruz-Maltino e 10% com o atleta. No Portal da Transparência do Flu, a informação disponível é que possui 90%, mas, em contato com o UOL, o clube confirmou documento que cede 30% ao rival. Em seu balanço, o Vasco não registrou o percentual que possui de Miguel.

Miguel saiu do Fluminense e ficou 11 meses no Vasco. Depois, voltou ao Tricolor - Carlos Gregório / Vasco.com.br - Carlos Gregório / Vasco.com.br
Miguel saiu do Fluminense e ficou 11 meses no Vasco. Depois, voltou ao Tricolor
Imagem: Carlos Gregório / Vasco.com.br

José Roberto Lopes disse que não há validade jurídica na peça, feita sem sua anuência. Além disso, para ter direito a parte de uma venda do jogador, pelo regulamento da Fifa, a passagem no Vasco precisaria ter durado ao menos um ano.

Na Justiça, o pai de Miguel busca a rescisão com o Fluminense devido ao não recolhimento de seis meses de FGTS e o descumprimento de um acordo entre clube e o jogador: um reajuste de R$ 5 mil no pagamento, que não foi feito por 12 meses. Assim, Miguel ficaria livre.

"Se um clube falar pro outro que não paga, não tem como cobrar a partir deste documento. É um compromisso moral, não há validade jurídica. Não pode fazer contrato assim com um menino de 13 anos. Antes, se o Fluminense quisesse dar 30% do que tinha direito, poderia. Mas falar que esse documento lá de trás, quando o Miguel era uma criança, tem validade jurídica, é loucura. Não há como cobrar isso na Justiça."

José Roberto também afirmou que a mudança de clubes não se deu por desentendimentos. O pai do jogador gostaria apenas de um carinho maior com seus filhos: "os clubes lidam como se fossem jogadores, mas são crianças".

Processo contra o Vasco foi extinto pelos representantes legais de Miguel - Reprodução/TRT - Reprodução/TRT
Processo contra o Vasco foi extinto pelos representantes legais de Miguel
Imagem: Reprodução/TRT

O pai do meia declarou que o retorno a Xerém se deu pela vontade do menino. Além disso, alegou que a estrutura em São Januário era ruim e a distância para sua casa, muito grande. José Roberto afirma ter desistido de processo movido na Justiça contra o Cruz-Maltino porque a questão já estava resolvida. Os clubes dizem que a ação foi extinta por causa do acordo de cessão de 30% dos direitos.

"Desisti do processo porque não havia mais vínculo do Miguel com o Vasco. Eu já havia ganho uma liminar na Justiça que o Vasco nem sequer recorreu. Ele já estava até jogando no Fluminense. O Vasco não mostrou mais interesse. Para mim, o assunto estava encerrado, e por isso desisti da ação. Não estive em acordo nenhum".

Recusa ao Flamengo

À época, inclusive, Miguel recebia assédio do Flamengo. Também contrariando versão do Rubro-Negro, José Roberto Lopes afirma que ele recusou a ida para o Ninho do Urubu.

"Recusei ir para o Flamengo. Se estão falando outra coisa, é dor de cotovelo. A proposta deles não era mais alta. Me ofereceram R$ 2.500 e curso de inglês para meus filhos. Mas aí, o Fluminense me ligou para conversar. Eu tinha dado minha palavra ao Fla e disse que só mudaria se convencessem o Miguel. Os dirigentes foram à minha casa, e nós voltamos por vontade do Miguel."

Dívidas salariais e propostas europeias

Miguel estreou pelo Fluminense em 2019, antes mesmo de assinar seu primeiro contrato como profissional. Dias antes, por dívidas salariais que chegavam a oito meses — débito que foi pago apenas na gestão Mário Bittencourt —, o pai do jogador viajou à Europa e se encontrou com o influente empresário Mino Raiola.

Miguel estreou pelo Fluminense em 2019 ainda sem contrato profissional - Lucas Mercon/Fluminense FC - Lucas Mercon/Fluminense FC
Miguel estreou pelo Fluminense em 2019 ainda sem contrato profissional
Imagem: Lucas Mercon/Fluminense FC

José Roberto Lopes passou três dias por lá, visitando Juventus e PSG. Na França, se encontrou com o português Antero Henrique e o brasileiro Maxwell, então dirigentes do clube, e recebeu uma proposta.

"Na prática, o jogador já estava livre, então fui para a Europa e estive por três dias com o Mino Raiola. No PSG, o Mino conseguiu negociar o Miguel por 25 milhões de euros. Liguei para o presidente [Pedro] Abad, que estava em Londres, e ele disse que queria 7 milhões de euros. No dia seguinte, o Mino mandaria o jato para Londres para buscá-lo e assinar contrato", contou.

Mas de acordo com o pai de Miguel, por conta de um problema de saúde, Pedro Abad não pode estar presente. "O problema é que Abad ficou internado em Londres com trombose por dois dias. Faltavam três dias para o fim do mandato. Não fechamos. O Mino não poderia vir ao Brasil. O Abad ligou, pediu para fechar com o Fluminense, deu sua palavra. Eu sabia que quem ia entrar era uma pessoa difícil [Mário Bittencourt], mas fechei. O Mino dividiria tudo comigo, mas mesmo com 12,5 milhões de euros no bolso, ficamos no Flu".

Em último ato como presidente do Fluminense, Pedro Abad assinou contrato profissional de Miguel - Mailson Santana/Fluminense FC - Mailson Santana/Fluminense FC
Em último ato como presidente do Fluminense, Pedro Abad assinou contrato profissional de Miguel
Imagem: Mailson Santana/Fluminense FC

Por outro lado, procurado pelo UOL Esporte, Pedro Abad negou a história. O ex-presidente afirmou que "ninguém trouxe proposta de 25 milhões de euros ao Fluminense".

"A proposta que veio do Mino Raiola, com o qual falei a pedido do pai do Miguel, não era condizente com o potencial do atleta. Era de 1 milhão de euros. Ressalto que, uma vez que não havia contrato em vigor, o Fluminense poderia perder o atleta e ser obrigado a brigar por indenização de formação junto à Fifa".

Problemas com Dalla Dea e CBF

Sobre os problemas que Miguel teve nas seleções de base, José Roberto Lopes apresentou outra versão. O pai do jogador afirma que o técnico Guilherme Dalla Dea, então comandante da sub-17, passou a tratar mal o jovem após um pedido de dispensa de uma convocação.

"Eles ficaram magoados com o pedido de dispensa e descontaram no Miguel, mas ele não tinha nada a ver com isso. Depois desse segundo episódio, o Miguel ligou me pedindo para buscar ele lá na Granja Comary. Não queria mais jogar, disse que a seleção não era para ele, e que o treinador estava "esculachando" ele na frente de todo mundo todos os dias", afirmou, para seguir:

"Miguel jogou a Copa do Brasil, e no outro dia, o Fernando Diniz pediu que a CBF o dispensasse. Aí, o Fluminense fez a vontade do Diniz. Depois disso, o Dalla Dea transformou a vida do Miguel em um inferno. Na primeira convocação, depois, na frente de todos, ele disse que, se não quisesse jogar pela seleção, não precisava nem ir. Na segunda convocação, ele estava treinando, e o Dalla Dea esculachou ele para amarrar a chuteira. O treino acabou, e os jogadores subiram para o alojamento. Enquanto subiam, Yan Couto, Miguel e Reinier, que estavam juntos, viram uma reunião no campo e desceram. Aí, o Dalla Déa mandou o Miguel subir. Quando o Miguel perguntou o motivo, o técnico mandou ele calar a boca".

Foi aí que, se sentindo mal na seleção, segundo o pai, veio o pedido para que o buscasse no CT em Teresópolis, onde os jovens estavam concentrados em período de treinos. Já com interesse da seleção de Portugal, o pai do atleta enviou uma carta à CBF pedindo que Miguel não fosse mais convocado para times comandados por Dalla Dea.

"Como uma pessoa da CBF me mandava mensagem, eu pensei: 'vou falar com ele', para ver o que estava acontecendo. Mas me informaram que não recebiam nem pai e nem empresário de jogador. Aí, mandei a carta, dizendo que tínhamos a intenção de jogar por Portugal, e pedindo que Miguel não fosse convocado para as seleções do Guilherme Dalla Dea. Mas não fechei as portas. Se as duas seleções o quisessem, ele faria a opção. Depois disso, nunca mais procurei a CBF. Não conheço pessoalmente ninguém lá".

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