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Odair volta com o Flu ao Beira-Rio, onde já morou e trabalhou por R$ 1.500

Caio Blois e Marinho Saldanha

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre

22/11/2020 04h00

Odair Hellmann está voltando para casa, mesmo que de passagem. O técnico do Fluminense é adversário do Internacional hoje (22), às 18h15, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, pela primeira vez. No início da carreira, o então volante das categorias de base morou no Beira-Rio — antes de jogar pelo Tricolor. E após a carreira de atleta, regressou ao estádio do Colorado para trabalhar com um salário de R$ 1.500.

O destino ainda não deixou Odair encarar o Inter em partidas oficiais. No primeiro turno do Brasileirão, o técnico testou positivo para covid-19 e não esteve à beira do gramado na vitória de seu time por 2 a 1 no Maracanã. Como jogador, só encarou o Colorado uma vez, em um amistoso realizado no estádio Bento Freitas, quando defendia o Brasil de Pelotas, seu último clube.

Voltar ao Beira-Rio traz, certamente, grandes lembranças ao técnico. Depois de deixar a pequena cidade de Salete, em Santa Catarina, para seguir o sonho de ser jogador de futebol, ele morou na antiga concentração do Inter, embaixo das arquibancadas do estádio. A reforma para a Copa do Mundo de 2014 arrancou de lá o que ainda restava da residência antiga, mesmo que já não fosse utilizada há algum tempo.

A carreira como jogador passou por todas as categorias de base do Inter, até o profissional. O volante foi campeão da Copa São Paulo de 1998, participou de jogos importantes e depois seguiu sua trajetória, começando pelo Fluminense, em 1999, onde também conquistou título, a Série C, primeiro passo da retomada do Tricolor para voltar às glórias no cenário nacional após ir ao fundo do poço.

O fim de sua trajetória como esforçado meio-campista veio em 2009, no acidente do ônibus da delegação do Brasil de Pelotas que vitimou três pessoas. Um dos jogadores que sofreu com a tragédia, o então atleta do Xavante sobreviveu, mas com muitos machucados, traumas e dúvidas sobre o futuro, decidindo encerar a carreira. Hoje com 43 anos, ele relata ter tido muita dificuldade para voltar a viajar em estradas e até avião.

Sem alternativas e em casa, foi motivado pela família a voltar ao futebol. Mas sabia que precisava se preparar. E foi no Beira-Rio que buscou abrigo. Papito procurou o técnico Tite e o dirigente Fernando Carvalho para pedir uma chance.

Ele só precisava de um salário e estava disposto a se preparar e dar o melhor pelo clube que o formou. Do Inter, recebeu a chance de iniciar no setor de avaliação. Mas o salário era baixo: R$ 1.500. Em seus cálculos, com esposa e três filhas, Odair precisava de R$ 2.800 por mês. "Sem direito a emergências", brinca. Com o que tinha guardado, precisava receber um aumento em dois anos, outro em mais dois. Tratou de entregar tudo que podia, e assim aconteceu.

Odair Hellmann, auxiliar técnico do Internacional, durante treino da intertemporada em SC - Alexandre Lops/AI Inter - Alexandre Lops/AI Inter
Odair Hellmann em seus tempos de auxiliar do Internacional, em 2014
Imagem: Alexandre Lops/AI Inter

Aos poucos desenvolveu trabalhos na base, como auxiliar técnico do principal, até virar treinador do Internacional. Não conquistou títulos, mas conseguiu o acesso da Série B, fez o time se restabelecer no Brasileiro no ano seguinte e acabou vice-campeão da Copa do Brasil.

Quando entrar no gramado do Beira-Rio para comandar o Fluminense, Odair Hellmann certamente sentirá emoções bem diferentes. O encontro, além de tudo, marca o duelo entre os dois grandes times em que atuou como esforçado mas limitado volante.

Técnico Odair Hellmann comemora gol do Internacional com jogadores no Beira-Rio - Jeferson Guareze/AGIF - Jeferson Guareze/AGIF
Técnico Odair Hellmann comemora gol do Internacional com jogadores no Beira-Rio
Imagem: Jeferson Guareze/AGIF

No Flu, Odair tem mesmos elogios e críticas

Desde janeiro, o "Papito" acrescentou o verde ao "vermelho e branco" que se acostumou a ter por segunda pele, em outra "volta para casa". O Rio de Janeiro é uma paixão do treinador, que nunca escondeu sua vontade de voltar à cidade onde defendeu o Fluminense e o America como jogador. Pelo Tricolor, o "Alemãozinho" fez 31 jogos e marcou dois gols.

Agora por "um pouco" mais do que os R$ 1.500 mensais de seu início no Beira-Rio, o técnico comanda uma equipe que é a grande surpresa na parte de cima da tabela no Brasileirão. Mas só surpreende quem não vive o dia a dia do clube.

No Flu, Odair Hellmann recebe os mesmos elogios dos tempos de Colorado: tem o elenco na mão, valoriza a base, possui o respeito dos mais experientes, organiza a equipe como poucos e trabalha arduamente. Não à toa, o presidente Mário Bittencourt e o diretor Paulo Angioni desejam fechar ainda este mês uma renovação de mais um ano de contrato com o treinador, que possui vínculo até 31 de dezembro.

Odair Hellmann é querido por todos no Fluminense e renovará até o fim de 2021 - MARCOS SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO - MARCOS SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO
Odair Hellmann é querido por todos no Fluminense e renovará até o fim de 2021
Imagem: MARCOS SOUZA/ESTADÃO CONTEÚDO

A vontade é mútua. Assim como nos tempos de jogador, Odair encontrou no Tricolor um desafio do tamanho de seus sonhos. Quando conversou com Paulo Autuori, então treinador do Inter, pedindo para ser liberado e atuar pelo Fluminense em 1999, o volante queria voar alto fora de sua casa. Ao assinar contrato com com o clube para treiná-lo ainda no fim de 2019, ele queria mostrar que o bom trabalho no Colorado não foi obra do acaso.

As críticas também o acompanharam. Se internamente é unanimidade do Beira-Rio às Laranjeiras, as duas torcidas pegam no pé do treinador. O chamam de "retranqueiro", afirmam que seus times jogam feio e agridem pouco.

Mas nos 122 jogos pelo Internacional, que vivia a pior fase de sua história, Odair levou o clube da Série B à Libertadores e final da Copa do Brasil. Sua saída, em 2019, ainda é tabu por lá. Há quem diga que foi um dos principais erros recentes do comando do Inter.

No Fluminense, que sofre com a falta de dinheiro, consegue colocar o time na briga para voltar à maior competição de clubes do continente após sete anos. A equipe vive raro Brasileirão de disputa na parte de cima da tabela — o que não acontecia desde 2014 — e fez o quarto melhor primeiro turno de campeonato nos anos 2000.

FICHA TÉCNICA

INTERNACIONAL X FLUMINENSE

Data/Hora: 22/11/2020, às 18h15
Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Luiz Flavio de Oliveira (Fifa-SP)
Assistentes: Miguel Cataneo Ribeiro da Costa (SP) e Evandro de Melo Lima (SP)
Árbitro de vídeo: Wagner Reway (PB)

INTERNACIONAL: Marcelo Lomba; Rodinei, Rodrigo Moledo (Zé Gabriel), Víctor Cuesta e Uendel; Johnny, Edenilson (Nonato), Patrick, Mauricio e Marcos Guilherme (Peglow); Yuri Alberto. Técnico: Abel Braga.

FLUMINENSE: Muriel, Calegari, Luccas Claro, Digão e Danilo Barcelos; Yuri, Yago Felipe e Nenê; Luiz Henrique (André), Wellington Silva e Felippe Cardoso (Marcos Paulo). Técnico: Odair Hellmann.

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