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Ídolo do Botafogo vive crise com restaurante vazio e quer chance no futebol

Ex-goleiro do Botafogo Wagner ao lado da esposa Andréa e do filho João Victor - Arquivo Pessoal
Ex-goleiro do Botafogo Wagner ao lado da esposa Andréa e do filho João Victor Imagem: Arquivo Pessoal

Bernardo Gentile e Vanderlei Lima

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/03/2020 04h00

Um dos principais nomes na conquista do título do Campeonato Brasileiro pelo Botafogo, em 1995, Wagner de Souza precisou se reinventar após pendurar as luvas. Desde 2006, o ex-goleiro entrou para o comércio e já teve um quiosque na praia e até alguns táxis. Mas o que sustenta sua família hoje em dia é o bar que tem há nove anos no Mercado São Pedro, em Niterói, município do Rio de Janeiro.

Nos próximos meses, Wagner terá que se reinventar novamente. É que com a pandemia do coronavírus ele foi obrigado a fechar o estabelecimento até que o cotidiano se restabeleça. Enquanto isso, o ex-atleta usa a calculadora para pagar as contas e manter os salários dos cinco funcionários que trabalham em seu bar.

"O último dia que eu trabalhei foi quarta-feira (18), quando o prefeito ainda não tinha decretado o fechamento definitivo. Desde então, a gente já se encontra com o estabelecimento fechado e aguardando a passagem dessa situação para ver quando a gente volta a atender o público. O restaurante fica no centro de Niterói, dentro de um mercado popular aqui em Niterói. É um mercado de peixe onde tem uma galeria e nós temos os restaurantes na parte de cima das peixarias, que atende ao público. É o 'Bar do Wagner, encontro dos amigos'.", disse o ex-goleiro ao UOL Esporte.

Com as portas fechadas, Wagner tem uma missão pela frente: manter os salários de seus funcionários em dia, algo que ele não abre mão. Além desses pagamentos, o campeão brasileiro de 95 tem outras contas a serem pagas, como aluguel e condomínio do bar. Segundo ele, para abrir o estabelecimento se gasta algo em trono de R$ 8 mil diário. Isso sem contar o custo com os empregados.

"Eu tenho cinco funcionários, agora prejuízo [risos]. É difícil até mensurar ainda porque eu fechei e deixei de produzir esses dias. A gente vai esperar fechar o mês para poder ter essa noção, mas, de antemão, já temos que nos organizar, pagar os salários dos funcionários, isso aí eu não posso deixar de cumprir. Mas você bota aí miseravelmente uma perda de uns 50% a 60% de faturamento no mês. E tem outra coisa: além de tudo eu tenho que olhar para ver se está tudo direitinho porque é mercadoria perecível. Então, eu tenho que estar sempre de olho para não perder este tipo de mercadoria. Essa semana vou ter que voltar lá e verificar essas coisas. Jogar fora o que estiver sem validade. Graças a Deus eu não estoquei muita coisa, porque eu trabalho com produtos do próprio mercado, mas algumas coisinhas ficam lá para atender de imediato", afirmou.

"Ainda tem aluguel e condomínio. Isso tudo eu vou negociar com o pessoal. A gente vai ter que sentar e conversar para ver com qual é a ideia deles. Eu vejo que o problema primeiro são os funcionários, isso aí eu não vou abrir mão. Essas outras coisas a gente vai parcelar, jogar para frente. Não vai ter como não ser dessa forma. Só para abrir o bar eu começo devendo R$ 8 mil reais. Isso sem contar salários dos funcionários", completou Wagner.

Em um momento de incerteza sobre o futuro, Wagner mantém o otimismo e espera que esse período de resguardo social não seja tão longo. Ele segue firme na ideia de reabrir o bar assim que possível para retomar a vida normalmente. Fechar o negócio? Isso sequer passa pela sua cabeça.

"Aqui em Niterói está tendo uma aceitação muito grande com relação a esse negócio de ficar de quarentena. Os moradores de um modo em geral estão respeitando, quase ninguém nas ruas. A gente espera que com 15, 20 dias possa, pelo menos aqui em Niterói, ter a possibilidade de voltar aos poucos ao normal. Eu nem pensei nessa possibilidade [de fechar], eu nem parei para pensar neste tipo de situação. Vamos aguardar os próximos dias, pensar direitinho para ver qual o caminho a seguir caso essa coisa aí demore. Vamos aguardar, ter paciência e rezar para isso passar rápido", complementou.

"A maior preocupação é com a família. Eu tenho avó idosa, tenho filho pequeno e a preocupação é grande. Sou uma pessoa que não consigo ficar muito dentro de casa, mas estou tendo essa consciência, não só por mim e pela minha família, mas por todos. Temos que pedir a Deus para que tudo ocorra bem e que a gente consiga passar por isso aí sem problema nenhum", finalizou.

Chance para voltar ao futebol

Logo após se aposentar, Sebastião Wágner de Souza e Silva, atualmente com 51 anos, tentou seguir no futebol, mas logo percebeu que tinha que manter também o caminho do comércio para manter seu padrão de vida. Ele chegou a ser preparador de goleiros no Botafogo até 2010, quando foi substituído por Flávio Tenius, com muita moral no clube até hoje. O ex-goleiro ainda tem como objetivo voltar a ter uma oportunidade no esporte.

"Se pintasse uma oportunidade, é claro que eu gostaria muito. Eu já trabalhei no Botafogo de treinador de goleiros. Fiquei algum tempo lá e caso viesse a pintar novamente seria uma possibilidade, mas como ainda não apareceu nada a gente continua aqui no trabalho e no comércio. Seria de bom grado sim ter uma oportunidade de exercer aquilo que eu já fiz e acho que tenho um pouquinho de entendimento para contribuir", disse.

No Botafogo, Wagner teria muita dificuldade de encontrar espaço já que Flávio Tenius é considerado um dos melhores do ramo. O ex-goleiro, então, entende que poderia seguir a profissão em um outro clube.

"Pelo que eu sei, o Botafogo está bem estruturado de profissionais e vem tendo resultado positivo ao longo do tempo. Não sei se no Botafogo teria essa oportunidade até porque o profissional que se encontra lá tem uma experiencia vasta e vem demonstrando isso no dia a dia que é capacitado para estar desempenhando a função. Agora, trabalharia em outro clube sem nenhum problema. É só sentar, conversar, ver a intenção do clube", finalizou.

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