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Dólar a R$ 4,50: Como o recorde no câmbio impacta os clubes brasileiros

Notas de dólares - Sergei Chuzavkov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Notas de dólares Imagem: Sergei Chuzavkov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

04/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Dólar fechou a R$ 4,51 ontem, enquanto o euro chegou a R$ 5,03
  • A alta histórica das moedas estrangeiras é boa para os clubes que têm dinheiro a receber
  • Já quem tem parcelas a pagar, em dólar ou euro, é obrigado a absorver a alta
  • Salários pagos em dólar passaram a ser raros no futebol brasileiro

O dólar comercial vive sequência de dez dias em alta e fechou ontem (3) a R$ 4,51, o maior valor nominal da história (sem considerar a inflação). O euro também tem tido alta abrupta e vale atualmente R$ 5,03. Mas como a valorização das moedas estrangeiras em relação ao real influencia a operação dos clubes brasileiros? O UOL Esporte explica este impacto.

De modo bem simplificado, a sequência de altas do câmbio quer dizer que a moeda brasileira vale menos no mundo do que há alguns dias (semanas e meses). Fazer uma compra internacional, por exemplo, ficou mais cara nos últimos dez dias. Por outro lado, receber em moeda estrangeira por uma venda ao exterior se torna mais vantajoso.

Esta mesma lógica se aplica ao futebol: é um bom momento para receber dólar ou euro, mas muito ruim para pagar. Na rotina dos clubes brasileiros, quem vendeu e tem parcela a receber se deu bem; quem comprou e precisa pagar, nem tanto. Como há muito mais exportação do que importação de jogadores, nesta balança comercial a desvalorização do real acaba beneficiando quem vende jogador. É bom para Flamengo, São Paulo, Athletico-PR e quem mais fez negócios volumosos na última janela de transferências. Também aumenta a importância das premiações dos torneios continentais, que são pagas em dólar pela Conmebol.

O São Paulo é um dos que vão surfar esta onda: o clube espera receber 7 milhões de euros do Ajax (HOL) nos próximos dias, referentes à venda de David Neres. Com a moeda a R$ 5,03, a parcela se transforma em R$ 35,2 milhões, quase 11% a mais do que se o pagamento tivesse sido feito no começo de 2020, por exemplo. Por outro lado, o clube tem uma parcela de Tiago Volpi para pagar em dólar.

Já o Flamengo tem parcelas de compras de atletas até 2023 (como da contratação de Gabigol, por exemplo), mas também tem dinheiro a receber em euros por várias vendas recentes. Neste cenário, entende ter mais vantagens do que desvantagens com a desvalorização do real.

Nos últimos meses o Rubro-Negro recebeu parcelas das vendas de Cuéllar, Léo Duarte e Lucas Paquetá — todas já com o euro em alta, ainda que não a R$ 5,00. Há outras receitas previstas de Jean Lucas e Felipe Vizeu no segundo semestre, e o clube carioca pode, se quiser, adiantar os valores para aproveitar o câmbio.

Mas este tipo de adiantamento tem um risco: valeria a pena se o euro cair daqui para frente, mas não se a moeda continuar a se valorizar em relação ao real. O São Paulo, por exemplo, adiantou em 2018 uma das parcelas da venda de Éder Militão que receberia apenas neste ano e deixou de ganhar R$ 500 mil (já considerando a inflação).

Juanfran e Dani Alves - Kely Pereira/AGIF - Kely Pereira/AGIF
Dupla de reforços badalados do São Paulo recebe em real, diz o clube
Imagem: Kely Pereira/AGIF

Como usar o câmbio a favor?

No mercado financeiro há várias formas de se proteger da variação cambial, incluindo a contratação de seguros ou a fixação do valor da moeda em um período de tempo. Os clubes de futebol raramente fazem este tipo de coisa, mas há a possibilidade de usar o câmbio a favor.

"Se tenho uma parcela para vencer lá em junho, do Antony, e vejo que há uma tendência de queda do euro, posso pegar uma antecipação desta verba e aplicar aqui no Brasil para render, assim aproveitaria a alta atual", explica Elias Barquette, diretor financeiro do São Paulo.

Salários pagos em reais

Os clubes consultados pelo UOL Esporte afirmam não pagar salários em moedas de outros países. Tal prática já foi bastante comum no futebol brasileiro, principalmente tratando-se de jogadores estrangeiros, mas já não é mais regra. Os respectivos times afirmam que atletas como Arrascaeta e Gabriel Barbosa (Flamengo) ou Juanfran e Daniel Alves (São Paulo) recebem todos em real.

O mesmo vale para o colombiano Victor Cantillo, contratado pelo Corinthians neste ano. O clube já se deu mal com a indexação de salários ao dólar na contratação de Ángel Romero, em 2014. Os pagamentos do atacante valorizaram quase 60% só com a variação cambial, e este modelo foi um dos fatores que culminou na saída do jogador após cinco anos.