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Time do Rio quase subiu para a elite mesmo com atrasos e escassez de comida

Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube
Imagem: Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

12/10/2019 04h00Atualizada em 12/10/2019 16h49

Resumo da notícia

  • Goytacaz quase conquistou o acesso mesmo com salários atrasados
  • Promessas feitas pela diretoria ao longo da B1 do Carioca não foram cumpridas
  • Jogadores se juntaram e devem entrar com ação coletiva na Justiça
  • Relatos ao UOL revelam atletas quase despejados e escassez de comida

Quem viu de perto a campanha feita pelo Goytacaz na Segunda Divisão do Campeonato Carioca desta temporada dificilmente imaginaria que ele enfrentou - e ainda enfrenta - tantos problemas fora de campo. Além dos próprios adversários, o time azul e branco lutou contra salários atrasados, escassez de comida, promessas de pagamentos que não aconteceram e, ainda assim, esteve bem perto de conquistar o acesso - só parou na semifinal, diante do Friburguense.

A doída eliminação aconteceu na quarta-feira retrasada, dia 2. Após derrota em casa por 2 a 0, o Goytacaz voltou a perder para o Friburguense, em Nova Friburgo, por 1 a 0, e deu adeus à competição. Sem mais calendário até o fim do ano, a equipe de Campo de Goytacazes pensa agora apenas em resolver os problemas extracampo. São mais de dois meses de salários atrasados a alguns jogadores, entre eles o goleiro Adilson, de 31 anos, um dos líderes do time.

Goleiro Adilson orienta jogadores do Goytacaz - Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube - Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube
Goleiro Adilson, um dos líderes do time do Goytacaz
Imagem: Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube
"Continua [atrasado]. Eles pagaram maio e junho e deram um vale referente a julho, que, no meu caso, não chega a um quarto do salário. Os salários atrasaram desde o início [do Carioca]. O primeiro mês, referente a maio, foi pago certo; no mês de junho foram dados vales até quitar, e na reta final da competição deram o vale abrindo o mês de julho. Hoje se encontram em atraso os meses de julho, agosto, setembro e outubro, pois o contrato está em vigor até dia 28 outubro, sendo que a competição acabou para nós na partida da semifinal", diz Adilson ao UOL Esporte.

De acordo com o goleiro, o presidente do clube, Dartagnan Fernandes, não só vem descumprindo as promessas como também chegou a mentir à imprensa sobre a quitação de salários: "Na reta final [do campeonato], ele passou um vale para o grupo e na imprensa falou que tinha pago um mês - que seria de junho. Todos os jogadores foram às redes sociais e desmentiram. Na semana seguinte, ele, junto de outros diretores, fez o restante do pagamento para fechar o mês de junho, quitando o mês que ele falou que já estava quitado. Todos os jogadores estavam revoltados com a situação e com as promessas do presidente".

Após a veiculação desta matéria, o Goytacaz enviou uma resposta ao UOL na qual nega que tenha faltado comida aos jogadores. O clube ressalta que os atletas sabiam de toda situação quando foram contratados e promete cumprir com todos os compromissos firmados (leia a nota completa no final do texto).

Carta de despejo, escassez de comida

Segundo apurou o UOL Esporte, alguns jogadores chegaram a receber até uma carta de despejo para deixar o local onde residiam, enquanto outros precisaram deixar hotéis por falta de pagamento. A situação foi ao extremo quando atletas sofreram com escassez de comida e precisaram beber até água da torneira. Em outro episódio, uma casa que abrigava cerca de dez jogadores teve a luz cortada.

"Eu mesmo recebi carta de despejo do apartamento que morava. Mas no final da competição, um diretor me chamou e disse que resolveria os aluguéis com o proprietário. Agora já estou na minha cidade, não sei o que ficou resolvido. Outro jogador com a família saiu do hotel porque não pagaram", conta. "As refeições eram todas no clube. Algumas vezes pagavam um restaurante para os meninos que moravam na casa que o clube dava. Mas algumas vezes os jogadores ficaram sem comida por não ter cozinheira e por não terem pago os restaurantes", revela o goleiro.

"Jogadores do Figueirense foram homens em todas as atitudes"

As dificuldades financeiras do Goytacaz coincidiram com os atrasos de salários do Figueirense, que chegou até a não entrar em campo em um jogo da Série B do Campeonato Brasileiro, contra o Cuiabá. O time fluminense, porém, seguiu a competição até o final, inclusive treinando normalmente. "Fizemos reivindicações em alguns dias de treinos. Alguns jogadores do elenco acabaram até indo embora por conta da situação", conta o arqueiro, que faz questão de enaltecer a atitude tomada em conjunto pelos jogadores do time catarinense.

Jogadores do Goytacaz durante treinamento - Héllen Souza  - Héllen Souza
Imagem: Héllen Souza
"Os atletas do Figueirense foram homens em todas as atitudes. Sabemos que é um patamar totalmente diferente do nosso, mas eles abriram os olhos de todas aquelas pessoas que usam o futebol para o bem próprio e não para o bem da instituição. O Figueirense, no meu ponto de vista, foi e está sendo muito importante para essas pessoas que estão no futebol para atrapalhar abrirem os olhos. A única diferença é que brigamos para um acesso, já o Figueirense, infelizmente, e tenho certeza que não por conta dos jogadores, e sim pela gestão que está no clube, está na situação de rebaixamento. Mas os atletas têm meu respeito pela atitude", elogia.

Acesso ficou próximo mesmo com crise

Mesmo com a crise, o Goytacaz fez uma das melhores campanhas da competição e só parou nas semifinais. O time se classificou para essa fase depois de ficar na segunda colocação de seu grupo no primeiro turno (Taça Santos Dumont), sem uma derrota sequer, e na terceira posição do segundo turno (Taça Corcovado) - com apenas dois revezes em nove partidas.

"Nosso grupo era muito bom. Todos foram homens e honraram a camisa. O João Carlos, nosso treinador, também teve muito jogo de cintura para conseguir levar a situação até o final. Com todos os problemas, tivemos caráter e fomos mais que profissionais. Ter cabeça para jogar e ainda conviver com essa situação foi muito complicado e, mesmo assim, quase conseguimos o acesso para a elite do Carioca. A torcida foi muito importante na caminhada desse grupo também. Eles tentaram ajudar com vaquinhas e nos abraçaram", acrescenta Adilson.

conseguimos fazer pelo clube o que o clube não conseguiu fazer pela gente" (Adilson, goleiro do Goytacaz)

"Nossa situação foi muito complicada, desde o começo da competição, mas conseguimos fazer pelo clube o que o clube não conseguiu fazer pela gente. Mas vida que segue e estamos torcendo para que todos os jogadores consigam se empregar novamente", completa o goleiro.

Jogadores do Goytacaz comemoram gol na Série B1 do Campeonato Carioca - Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube - Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube
Imagem: Carlos Grevi/Comunicação Goytacaz Futebol Clube

Diretoria pede prazo, mas jogadores preparam ação

O caso deve, em breve, parar na Justiça. Apesar da nova promessa do clube, Adílson diz que os jogadores estão em contato com advogados para que seja preparada uma ação coletiva para cobrar os devidos direitos. "A diretoria pediu mais 45 dias para quitar os salários, mas, infelizmente, todos os jogadores estão insatisfeitos com as promessas durante a competição e estamos providenciando uma ação coletiva para dar entrada na Justiça", acrescentou.

O que diz o presidente

Dartagnan Fernandes reconhece os débitos, mas, ao contrário da versão de Adilson, afirma que nenhum jogador está com mais de três meses de salários atrasados. "Cada atleta tem uma situação. A alguns a gente deve dois meses, a outros dois e dez dias e, a um pequeno grupo, um mês e meio. No máximo dois meses e dez dias", diz o presidente, que ainda nega a informação de que a diretoria mentiu à imprensa ao afirmar que os salários de junho estavam quitados.

Jogadores do Goytacaz desmentem presidente e negam pagamento de salários em rede social - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jogadores desmentem presidente e negam pagamento de salários em rede social
Imagem: Reprodução/Instagram
"O clube tem todos os recibos do mês de junho e julho, estão quitados. O clube tem como provar toda essa situação. Alguns jogadores que não ficaram satisfeitos com atraso deram esse tipo de entrevista, mas temos como provar. Eu levei o pessoal da imprensa na tesouraria e provamos o contrário com relação ao que estavam dizendo", acrescenta.

Dartagnan ainda negou que tenha faltado comida aos jogadores: "Isto não procede. São jogadores que não queriam comer o que o clube oferecia, portanto, agora eles falam o que querem. Até um prêmio de 40% da cota de televisão, se eles classificassem, eu ofereci, mas, infelizmente, tem jogadores que não têm o que falar, e aí querem justificar a derrota dentro de casa para o Friburguense, quando eles perderam pelo menos 300 mil reais de prêmio".

O presidente revela uma reunião marcada para a próxima terça-feira para buscar novas soluções para a quitação dos salários e conta que a crise foi instalada no clube depois que dois investidores não cumpriram o que prometeram: "Na realidade, as promessas que tinham de investidores de duas empresas que o vice de futebol já tinha acertado não foram cumpridas. Quando fomos analisar o plano B, já estava com dois meses atrasados".

Por fim, o presidente do Goytacaz diz que o clube está preparado caso os jogadores realmente entrem com uma ação na Justiça.

B1 do Carioca define hoje quem levanta a taça

Já confirmados na elite do Campeonato Carioca de 2020, América-RJ e Friburguense decidem na tarde de hoje (12) quem ficará com o título da Série B1 do Estadual. Depois de empate por 1 a 1 no jogo de ida, em Nova Friburgo, os times voltam a se enfrentar em Moça Bonita; quem vencer, fica com a taça.

NOTA OFICIAL DO GOYTACAZ DO DIA 12/10

O Goytacaz Futebol Clube, vem a público esclarecer alguns pontos levantados por uma matéria do Site Uol, publicada no dia 12/10/2019. Desde o primeiro momento em que os jogadores foram contratados, todos eles sabiam que o clube passa por um momento delicado na sua história, que outrora rendeu tantas glórias aos seus torcedores. Nenhum jogador foi obrigado a permanecer. Os que quiseram, foram embora. Os que permaneceram, receberam toda a condição necessária para que disputassem as partidas. Todos os dias da semana eram servidas quatro refeições. Café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta. Em dias de jogo inclusive após as partidas dentro de casa, os jogadores comiam pizza de um dos mais renomados restaurante da cidade. Nas viagens, os atletas seguiam para a cidade em que disputariam a partida, com um dia de antecedência, ficando em hotéis e pousadas de melhor qualidade, para que pudessem obter o melhor conforto.

Mesmo sem patrocinio líquido, toda a diretoria do Goytacaz Futebol Clube, não mediu esforços para correr atrás de todo o conforto necessário para os atletas, sendo alguns dos membros do conselho diretor, tirando dinheiro do próprio bolso e penhorando bens, para honrar com os compromissos. Sabemos que de fato, existem salários em atraso, mas, reiteramos que estamos empenhados e enganjados em arcar com os compromissos firmados para com atletas e comissão técnica.

Cabe ressaltar, que durante a competição, eram gastos mais de 20 galões de água mineral por semana, tanto para a cozinha, quanto para o consumo dos atletas. Informamos que a luz cortada, foi religada pela concessionária responsável pelo fornecimento de energia, no mesmo dia, após o pagamento do débito que não foi gerado pelo clube.

Informamos mais uma vez, que todos os compromissos firmados pelo clube, serão cumpridos, a fim de honrar com o nome desta instituição centenária, que mesmo diante da gravíssima crise financeira que vem enfrentando, zela pelo passado de glória e de honra, que jamais será manchado.

Att; diretoria do Goytacaz Futebol Clube