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Polícia apura presença de poliuretano em contêiner de incêndio no CT do Fla

Alojamento incendiado na sede do centro de treinamento do Flamengo - Folhapress
Alojamento incendiado na sede do centro de treinamento do Flamengo Imagem: Folhapress

Do UOL, em São Paulo

09/02/2019 22h25

A perícia que trabalha no Ninho do Urubu investiga se as paredes dos contêineres que pegaram fogo na última sexta-feira (8) continham poliuretano, o mesmo material inflamável que serviu de combustível no incêndio da Boate Kiss, em 2013. A tragédia no CT do Flamengo matou dez jogadores das categorias de base do clube. A informação é do Jornal Nacional, da TV Globo.

Em seu site, a empresa NHJ, que instalou a estrutura no CT do Flamengo, explica que utiliza uma espuma de poliuretano entre dois painéis para formar a parte interna das paredes dos contêineres (confira o print abaixo). Questionada pelo UOL Esporte, a empresa ainda não esclareceu se o módulo que pegou fogo no Ninho do Urubu tem esta mesma composição. A investigação da perícia visa a esclarecer justamente quais materiais estavam presentes na estrutura.

O poliuretano é uma mistura de elementos químicos que endurece após a instalação e forma um tipo de espuma, que ajuda a isolar som e calor. O material é altamente inflamável e sua fumaça carrega gases tóxicos.

O poliuretano também era usado na Boate Kiss, cujo incêndio em janeiro de 2013 matou 242 pessoas. Quase três anos depois da tragédia, peritos afirmaram que a queima do material liberou gases tóxicos, como o cianeto, o monóxido de carbono e o dióxido de carbono. Essas substâncias se alastraram rapidamente durante o incêndio e intoxicaram as vítimas. Todos os mortos foram sufocados pela fumaça.

NHJ - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Flamengo não cumpre exigências desde 2010

O Flamengo deu entrada no projeto de segurança em 2010, um ano antes de as obras dos módulos serem iniciadas. Desde então os Bombeiros fazem vistorias para fiscalizar o cumprimento das exigências, que nunca foram completamente cumpridas. 

O clube pediu o alvará de funcionamento do Ninho do Urubu em setembro de 2017, mas sem mostrar o certificado de aprovação dos bombeiros. No dia 16 de outubro daquele ano, a Prefeitura dp Rio de Janeiro aplicou ao clube a primeira de 31 multas pelo funcionamento sem alvará; dias depois, chegou a pedir a interdição do centro de treinamento.

Em abril de 2018, o Flamengo apresentou um projeto para uma nova construção no CT. Nele, a área em que havia contêineres era descrita como um estacionamento, não como dormitório. Há quatro meses, após mais uma vistoria, os Bombeiros voltaram a negar o certificado pois ainda havia pendências em relação ao projeto de segurança.

Entrada do CT do Flamengo - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

CT funcionava sem alvará

Parte da rotina do Flamengo há quase uma década, o Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu, chegou a ser notificado para interdição por falta de alvará de funcionamento. O fato ocorreu em 2012, quase dois anos depois de o time passar a treinar no local todos os dias - naquela época, estruturas provisórias já eram usadas no dia a dia, enquanto as obras de um dos módulos estavam em curso.

Na última sexta-feira, a Prefeitura do Rio de Janeiro disse que o CT não contava com alvará de aprovação do Corpo de Bombeiros e que não foi pedido o licenciamento para utilizar a área do acidente como dormitório. O Município ainda informou que multou o clube 30 vezes e que "em nenhum pedido feito pelo Flamengo existe a presença de um alojamento na área em questão".

Ainda segundo a Prefeitura, há registro de pedido do alvará de funcionamento em setembro de 2017. A consulta prévia foi aceita, mas, em seguida, foram solicitados os documentos necessários para a obtenção do alvará de licença para estabelecimento. "O certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros não foi apresentado, portanto, o alvará não foi concedido", disse o comunicado.

Em 2012, o Diário Oficial do Município informou que o clube teria de arcar com uma multa caso decidisse abrir as portas do centro de treinamento. Na ocasião, o então vice-presidente de administração do clube, Cacau Cotta, explicou-se. Segundo ele, o clube tinha alvarás de licenciamento de obras, mas não de "funcionamento provisório". 

Horas depois, entretanto, o Flamengo informou que havia resolvido o problema e, assim, realizou o treino normalmente. Também em janeiro de 2012, a Seop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) informou que o Ninho do Urubu tinha sido notificado seis vezes desde 2004 por falta de alvarás. A Secretaria e o clube não especificavam quais eram os problemas.

Incêndio "não tem nada a ver" com alvarás, diz Flamengo

O CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti, fez um pronunciamento neste sábado (9) e minimizou a ausência do alvará para funcionamento do local. "Alvarás e multas não têm nada a ver com o incêndio que ocorreu. Trabalhamos de forma árdua em busca das licenças. Precisávamos de nove certificados para obter o alvará, já temos oito. Estamos em contato permanente com o Corpo de Bombeiros", afirmou.