Como um grupo de torcedores em um bar evitou o adeus de seu time nos EUA

Desde que a primeira temporada da Major League Soccer foi disputada, em 1996, a competição consolidou o Columbus Crew uma de suas equipes mais tradicionais. Afinal, trata-se de uma das oito franquias que disputou todas as edições do torneio, sendo uma das cinco que nunca trocou de nome.
Mas este cenário esteve perto de mudar a partir do fim de 2017. Em outubro daquele ano, o então proprietário do time, Anthony Precourt, anunciou a intenção de tirar o time da cidade de Columbus (Ohio) e realoca-lo em Austin (Texas). Uma distância de mais de 1,9 mil quilômetros. Mais ou menos como se o Grêmio ou o Internacional deixasse Porto Alegre e fosse jogar em Brasília.
O problema, segundo Precourt, era a pouca torcida em Ohio. Em 2017, a média de público do time foi de 15.439 torcedores (pouco superior à média histórica, de 15.388). Para efeito de comparação, a média dos times mandantes em toda aquela temporada da MLS foi de 22.112 torcedores, sendo que o Atlanta United atingiu a média de 48.200 torcedores por jogo em casa.
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Mas eis que surgiu outro obstáculo: a capacidade do Mapfre Stadium, onde o Columbus Crew manda seus jogos, é de pouco menos de 20 mil torcedores. Para manter o time ali, Precourt esperava que Columbus construísse um estádio maior.
Assim que a notícia se espalhou, a torcida passou a se manifestar contra a mudança. E o que começou com a hashtag #SaveTheCrew, em pouco tempo ganhou força.
"Nós basicamente começamos com uma grande mesa nos fundos de um bar com um grupo de líderes de torcedores que se juntaram e disseram que estavam deprimidos. Então, eles decidiram que precisavam lutar", disse David Miller, diretor de comunicação do movimento Save The Crew, em entrevista publicada ao jornal inglês The Guardian.
O crescente movimento da torcida ao longo de 2018, é claro, atraiu políticos da cidade de Columbus. Então, em março de 2018, a torcida conseguiu uma grande jogada legal a seu favor.
A Lei Art Modell
Em 1995, o proprietário do Cleveland Browns, Art Modell, tentou transferir o time para Baltimore. No entanto, diante da rejeição (inclusive jurídica) de torcedores e autoridades de Cleveland, a transferência acabou não acontecendo como o dirigente queria.
Em um acordo, Modell - que detinha o direito de uma expansão da liga - transferiu todo o pessoal dos Browns para Baltimore, onde criou um novo time, o Baltimore Ravens. No entanto, Cleveland manteve o direito de ter os Browns, que ficou inativo até retornar à NFL em 1999.
A transferência foi tão polêmica que, em 1996, acabou virando lei em Ohio, batizada justamente com o nome do principal responsável pela confusão. Segundo a Lei Art Modell, proprietários de franquias esportivas que usem instalações esportivas apoiadas parcial ou totalmente por benefícios fiscais ficam proibidos de levar a sede da equipe para outro estado sem uma comunicação prévia (seis meses), para que interessados locais tenham a oportunidade de comprar o time.
Foi com base nessa lei - que nunca havia sido aplicada - que o Columbus Crew ganhou tempo para se salvar. Em outubro de 2018, surgiram novos interessados em comprar o time de futebol: Jimmy e Dee Haslam, donos do Cleveland Browns. Com eles, entrou também Pete Edwards, por muito tempo o responsável pela área médica do Crew. Em dezembro, o trio foi anunciado como os proprietários do time.
"Somos muito gratos pelos esforços da comunidade de Columbus, bem como pelo apoio da torcida do Crew, que nos ajudaram a preencher os requisitos (de compra do time) no prazo", diz nota assinada pelas famílias Haslam e Edwards. "Ao longo de nossas conversas, ficou agradavelmente claro que o Crew pertence a Columbus, e nós estamos felizes por termos alcançado um acordo para assumirmos uma propriedade na Major League Soccer, operando o Columbus Crew SC."
É claro que o acordo não saiu de maneira fácil. O Columbus Crew já apresentou planos para levantar um estádio maior em sua cidade. E Anthony Precourt, que havia se tornado dono do time em 2013, assegurou os direitos para um time de expansão da MLS. O Austin FC, de propriedade da Precourt Sports Ventures, deve estrear na liga em 2020, ao lado do Inter Miami (o time de David Beckham) e de um time da cidade de Nashville, no Tennessee.
Ainda assim, a permanência do Columbus Crew foi celebrada. "Não havia me expressado até agora, mas caramba, vocês em Columbus salvaram o Crew. Eu não poderia estar mais orgulhoso do esforço e da perseverança de vocês, além da crença em meio às circunstâncias mais sombrias. Vocês merecem os aplausos e, mais do que isso, merecem que o clube de vocês fique em casa", publicou Wil Trapp, meia do próprio Columbus Crew, em seu Twitter.
A reação também foi positiva para David Miller, o líder da reunião de torcedores no bar. "Na questão de propriedade de franquias esportivas, é sempre melhor que seja alguém local. Você vê em Atlanta: eles têm um proprietário local (Arthur Blank) que está na comunidade, que investiu na comunidade, que se importa com a comunidade. Anthony Precourt não era nada disso", disse Miller ao The Guardian.
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