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Cartola em Portugal, Robson Ponte brilhou no Guarani e quase jogou no Real

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Imagem: divulgação/Portimonense

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

07/09/2018 04h00

Em janeiro de 1999, o Guarani recebeu o Bayer Leverkusen no estádio Brinco de Ouro, em Campinas, para um daqueles amistosos que ficam para a história. Em campo, do lado alemão, estavam nomes como Ulf Kirsten, Carsten Ramelow, Zé Roberto, Emerson e Paulo Rink. Eles voltaram para casa com uma sonora goleada na bagagem: 6 a 4 para o Bugre em sua pré-temporada.

O placar foi uma cortesia da então revelação Róbson Ponte, que balançou as redes três vezes - uma delas, em um golaço -, distribuiu uma assistência e pôs os adversários para suar no verão brasileiro.

Uma das principais revelações do país no fim dos anos 1990, o atacante esteve próximo de se transferir para o Real Madrid, mas acabaria sendo vendido para o próprio Leverkusen por US$ 4 milhões no fim daquele semestre, construindo a partir daí a sua carreira no exterior.

Maior driblador do Brasil em 1998, ele atualmente é cartola e ocupa o cargo de vice-presidente do Portimonense, um dos clubes que mais surpreenderam em sua temporada de estreia na liga portuguesa em 2017/18. O time, que chamou a atenção especialmente pelo futebol vistoso, fica na região turística do Algarve e tem como principal objetivo a venda de jogadores.

"O clube possui uma plataforma de trabalho e deixamos isso claro. Eles não vão ganhar muito dinheiro aqui, mas poderão conseguir através da gente com uma transferência", resumiu Róbson, em entrevista ao UOL Esporte.

Na última janela de transferências, o Portimonense fez possivelmente a principal contratação de sua história, o colombiano Jackson Martínez, ex-Porto e Atlético de Madrid. Ainda desembarcaram os ex-são-paulinos Lucas Fernandes e Paulo Bóia, o ex-flamenguista Pepê e o ex-santista Jubal.

Eles se juntam a uma base que recebeu forte assédio no mercado, casos do meia Bruno Tabata, considerado uma das principais revelações do Atlético-MG, do zagueiro Lucas Possignolo, que surgiu no São Paulo, e da sensação japonesa Shoya Nakajima, que atrai olheiros de todo o continente para Portimão.

O principal investidor do clube é o também brasileiro Teodoro Fonseca, ex-agente de Hulk e que intermediou a transferência do próprio Róbson Ponte do Leverkusen para o Urawa Reds, do Japão, durante a sua carreira. O presidente do time é o compatriota Rodiney Sampaio.

"Mas não temos essa pretensão de ser o clube mais brasileiro da Europa (como o Estoril, também de Portugal, foi considerado). A gente não tem esse intuito, independente de ser brasileiro, africano, asiático. Essa não é a nossa filosofia. Queremos, sim, ser competitivos. Temos uma ligação forte com a Ásia e com a Alemanha", contou.

"Temos observado jogadores no Japão, por exemplo. Queremos encontrar um novo Nakajima", prosseguiu, sorrindo.

Para um time que faz a sua segunda temporada consecutiva na elite, o Portimonense impressiona: enquanto outros maiores penam pelo país, ele tem como fabricante de material esportivo a Mizuno, possui duas empresas japonesas como patrocinadoras e está investindo em melhorias em seu centro de treinamento, no alojamento de atletas e no departamento médico.

E tudo isso, como se não fosse suficiente, com as melhores praias de Portugal ao lado para fisgar e seduzir ainda mais os jogadores.

"Tem os prós e os contras. É um lugar fantástico para se viver, turístico, paisagem sensacional. Mas a questão da distância pega um pouco, as viagens são sempre longas, a maioria dos clubes fica no Norte de Portugal. Fazemos algumas de ônibus, outras de avião, depende da situação", explicou.

Quase virou galático no Real Madrid

robson ponte - divulgação/Portimonense - divulgação/Portimonense
Robson Ponte (esquerda) visita treino do Stuttgart, da Alemanha
Imagem: divulgação/Portimonense

Sempre que possível, Róbson Ponte acompanha o Portimonense em seus deslocamentos por Portugal, sonhando com uma vaga na Liga Europa. É uma maneira também de reviver os seus dias como jogador, quando esteve próximo de trocar o Guarani pelo Real Madrid e fazer parte da famosa era de galáticos dos espanhóis ao lado de Ronaldo, Beckham, Zidane e companhia.

No início de 1999, o seu então empresário Juan Figer chegou a se reunir com os merengues e discutiu a transação.

"Nós tínhamos um negócio meio que apalavrado com o Real Madrid, quase um pré-contrato, o 'seu' Juan cuidava desses detalhes, mas faltou uma coisa e outra e surgiu o interesse de outros clubes", recordou.

Naquela altura, o Real tinha como brasileiros o lateral esquerdo Roberto Carlos e o meia-atacante Sávio. Em alta no Guarani, Róbson esteve em observação durante aquele primeiro semestre e seria uma aposta do clube.

"No entanto, o Bayer Leverkusen avançou com proposta, apresentou o projeto e eu conheci também os seus jogadores durante a passagem pelo Brasil, o Zé Roberto, o Paulo Rink e o Emerson", completou.

Quarteto paulista no páreo

O fim da década de 90 foi uma época de vacas magras do Guarani, com o seu presidente Luiz Roberto Zini a tentar negociar destaques como Paulo Isidoro e Jean Carlo para reforçar o caixa.

Mais novo, com 22 anos quando estourou no Brasileiro de 1998, Róbson Ponte tinha o seu nome a todo momento vinculado a uma possível venda. Entre as possibilidades colocadas na mesa naquela altura, esteve também se mudar para a capital.

"Houve muitos clubes do Brasil interessados em mim, o Real Madrid e outros da Europa, mas não tenho dúvida de que a decisão correta foi ter ido para o Leverkusen. Não tenho do que reclamar, apenas agradecer. Naquele momento, falaram muito em São Paulo, Corinthians, Palmeiras e também no Santos, porém, nunca chegou nos pormenores", disse.

O seu estilo de dribles curtos e velocidade em campo fazia sucesso entre os torcedores.

"Eu era um jogador muito jovem. Quando você é jovem, não tem muita responsabilidade, quer driblar, fazer o seu futebol, partir para cima. Não tinha muita visão, queria apenas me divertir. As coisas foram acontecendo e me transferi para fora", analisou.

"Conforme a idade vai chegando, você julga que poderia ter feito assim ou de outra forma, mas não me arrependo de nada que fiz. Quando se é jovem, não dosa muito, o importante é ser feliz. Foi um momento maravilhoso", encerrou.