Decadência e colisão com nova era. Por que ida de Ibra aos EUA gera debate
Status de popstar do futebol, 36 anos e ainda considerado por muitos um dos melhores atacantes do mundo. À primeira vista, a chegada de Zlatan Ibrahimovic à liga de futebol dos Estados Unidos (MLS) pode ser considerada uma aposta certeira para uma maior exposição do campeonato e elevação do nível do futebol do país. Mas a repercussão da transferência do sueco do Manchester United para o Los Angeles Galaxy, anunciada na última semana, não foi tão positiva assim.
A maior crítica, veiculada por jornais e revistas de expressão como o britânico “The Guardian” e o “Sports Illustrated”, é a de que a contratação de Ibrahimovic vai na contramão de uma nova política que começava a permear a MLS: a saída de cena de jogadores em fim de carreira para a aposta em jovens talentos, principalmente latino-americanos. Neste ponto de vista, a chegada do sueco é um retrocesso tendo em vista passagens recentes de pouco brilho de jogadores já em decadência como Lampard, Gerrard e Henry.
No começo deste ano, por exemplo, uma contratação em especial feita pelo Atlanta United virou símbolo do que era visto como uma nova era na MLS. Ezequiel Barco, argentino de apenas 18 anos que se destacou pelo Independiente, fugiu da rota óbvia de uma promessa sul-americana e deu seu primeiro salto na carreira escolhendo os Estados Unidos em vez de um grande centro europeu. Uma transferência que significou uma nova perspectiva para um país que, no esporte mais popular do planeta, teve como prioridade entrar no mercado buscando jogadores consagrados desde os tempos de Pelé e Beckenbauer, companheiros por um ano no New York Cosmos.
Ibrahimovic se apresenta ao Los Angeles Galaxy como a mais velha estrela vinda do futebol europeu dos últimos anos. Apenas Frank Lampard, que também chegou ao New York City aos 36 anos, tinha a mesma idade do sueco e, curiosamente, foi o que mais fracassou recentemente, sendo chamado de pior contratação da história da MLS. Gerrard (34), Pirlo (35), Henry (32), Kaká (31) e Beckham (31) foram para os Estados Unidos mais novos e tiveram relativo sucesso. A pergunta que fica é: qual será o impacto dentro de campo de um trintão que ficou longo tempo afastado dos gramados por uma grave lesão?
Um jogador em decadência que chega para se aposentar?
Além do desacordo com a nova tendência da MLS, a revista americana “Sports Illustrated” levantou três questões sobre a chegada de Ibrahimovic ao time. Ele está saudável? Qual é a sua motivação? Ele se encaixa no ataque do Los Angeles Galaxy? Pelo menos as duas primeiras respostas são incertas.
Ibrahimovic disputou sua última partida pelo Manchester United no dia 26 de dezembro de 2017 quando sentiu uma lesão no joelho. Desde então, ele não entrou mais em campo. O que causa mais preocupação, porém, é que o atacante ficou cerca de seis meses afastado em decorrência de uma grave lesão no joelho. Pelo menos no início de sua passagem, fica difícil imaginar um Ibra em alto nível nos Estados Unidos.
Aos 36 anos, Ibrahimovic até alimenta com declarações a possibilidade de jogar a Copa do Mundo de 2018, mas sua convocação pela Suécia é improvável. Com passagens pelos grandes clubes do mundo, o jogador também deixa de lado um de seus últimos sonhos com a ida para os Estados Unidos: o título da Liga dos Campeões. Neste cenário, e diante de um histórico de aposentadorias de estrelas que passaram pela MLS recentemente, a sensação é de que o sueco prepara seu adeus com a escolha pelo país.
Mas até lá, o torcedor do Los Angeles Galaxy pode esperar um Ibrahimovic com vontade. Por onde passou, nas boas e más fases, o atacante sueco sempre manteve a competitividade em nível máximo. Além disso, segundo cálculos da “Sports Illustrated”, ele aceitou uma redução de 95% de seus ganhos fixos anuais e receberá 1,2 milhão de euros por temporada (cerca de R$ 5 milhões). Por mais que lucre com ações fora do campo, a drástica queda de rendimento indica que a motivação esportiva também está presente.
Ibrahimovic chega à Califórnia nos próximos dias apto a estrear, esperando apenas os trâmites burocráticos. O Los Angeles Galaxy é o atual sétimo colocado da Conferência Oeste com uma vitória, um empate e uma derrota em três rodadas. O atual trio titular de ataque do clube conta com o norueguês Kamara, o ganês Ema Boateng e o mexicano Giovani Dos Santos, todos atacantes abaixo dos 30 anos.
Fora de campo, o impacto é inegável
Se dentro de campo existem dúvidas sobre a importância que Ibrahimovic representará para a evolução da liga, fora ela é inegável. Embora tenha recebido nomes de peso do futebol mundial nos últimos anos, em termos de mídia a MLS voltará a viver uma experiência de visibilidade que não passava desde que Beckham passou pelo mesmo Los Angeles Galaxy de 2007 a 2012.
O próprio anuncia da chegada de Ibra já indicou este aspecto. O atacante sueco comunicou o acordo por meio de uma publicidade paga de página inteira jornal do “LA Times”, um dos maiores da cidade norte-americana. Já no anúncio oficial do Los Angeles Galaxy, o atacante apareceu ao lado de um leão, mostrando seu lado extravagante.
Carismático, competitivo e de inquestionável talento, Ibrahimovic iniciará a sua passagem pela MLS com muitas perguntas a serem respondidas. Mas uma coisa não há como duvidar: enquanto as pernas e o corpo aguentarem, os rugidos do leão sueco ecoarão por todo o mundo.
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