Ídolo do Barça conferia penteado nos jogos e virou goleiro por ser gordinho
O Barcelona já teve um Don Juan. Um ídolo que ficou 15 anos no clube e tinha personalidade marcante. Sua vaidade era tanta que, segundo relatos da época, Antoni Ramallets, goleiro lendário entre os torcedores catalães, levava um espelho para o gol em todos os jogos para conferir se seu penteado estava intacto após uma defesa.
E manter o cabelo intacto nem sempre era fácil. Titular na maior parte dos 15 anos em que esteve no Barcelona, Ramallets era conhecido por sua agilidade e pelos saltos precisos nas defesas. Foram 573 partidas defendendo o time. A pose como goleiro, no entanto, foi consequência de uma casualidade.
Ainda garoto, Ramallets era gordinho. “Eu estava gordo e não gostava de correr. Um dia fui jogar futebol na rua com os amigos do bairro e todo mundo concordou: ‘esse menino, que não se mexe, que vá para o gol. Além disso, ele tampará melhor o gol’”, contou o ex-goleiro certa vez.
Mas o garoto que estava acima do peso foi bem no gol e gostou da brincadeira. Tornou-se ídolo de um dos principais clubes do mundo entre os anos 1940 e 1960. Na Copa de 1950, inclusive, brilhou pela Espanha no Brasil. A seleção chegou até as semifinais em sua melhor campanha até o título conquistado em 2010. Ramallets ganhou o apelido de “Gato do Maracanã”.
O goleiro foi seis vezes campeão espanhol e faturou outros tantos títulos, incluindo cinco troféus do torneio equivalente à atual Copa do Rei. Esse perfil vitorioso fez tanta história quanto sua personalidade forte.
Dois episódios resumem bem quem foi Ramallets. Quando o técnico Helenio Herrera assumiu o Barcelona, abriu o jogo para o então goleiro: “os dirigentes que não sabem nada de futebol me disseram que precisamos buscar um novo goleiro, já que você está ficando velho. O que digo a eles?”. Ramallets respondeu: “Diga que é verdade, que eles não sabem nada”. E ficou mais três anos como titular.
Outro capítulo foi com o mesmo treinador. Herrera estudava muito os rivais e por isso costumava indicar quem bateria e como seria uma eventual cobrança de pênalti. Em uma partida importante contra a Inter de Milão, o técnico avisou que o sueco Liedholm bateria o pênalti no lado direito. Ramallets saltou para o esquerdo e defendeu.
Ramallets morreu em 2013, mas seguiu desfrutando do carinho dos torcedores do Barcelona. Depois de pendurar as chuteiras em 1962, por exemplo, ele passou a trabalhar em um banco. Logo em seguida, clientes inventavam desculpas para ir ao banco apenas para saudar e pegar autógrafo com o famoso ex-goleiro, cuja imagem, e penteado, continuaram bem cuidados.
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