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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Como a ressurreição do Milan é uma lição para os clubes SAF no Brasil

Jogadores do Milan comemoram gol de Rafael Leão na vitória sobre a Fiorentina, no Campeonato Italiano - Reprodução/Twitter/AC Milan
Jogadores do Milan comemoram gol de Rafael Leão na vitória sobre a Fiorentina, no Campeonato Italiano Imagem: Reprodução/Twitter/AC Milan

21/05/2022 04h00

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Basta um empate amanhã (21), diante do Sassuolo, para o Milan voltar a ser campeão italiano depois de 11 anos. O período foi marcado por problemas financeiros, mudanças de propriedade do clube e um longo declínio técnico. Lembremos que o time italiano era uma das potências do futebol europeu o início do século.

Nos últimos quatro anos, a promessa de rios de dinheiro se esvaiu e se transformou em uma gestão mais austera de um pragmático fundo norte-americano. E foi justamente a gestão da firma Elliot, provisória já que o clube será revendido, que devolverá a glória esportiva ao Milan.

Para entender o quadro, vamos retorcer: o Milan tinha como dono o político Silvio Berlusconi até 2017, quando vendeu o clube a um consórcio Rossoneri liderado por investidores chineses. A principal figura era Li Yonghong. Seu grupo levantou os 740 milhões de euros para a compra com empréstimos que não foram quitados diante da debandada de parte dos investidores.

Como resultado, o fundo dos EUA Elliot Management, que financiara a operação, ficou com a propriedade do Milan. Em 2018, colocou como presidente do Conselho Paolo Scaroni, um executivo que rodou empresas internacionais de diversas áreas. Ao descrever seus objetivos, a Elliot afirmava que pretendia dar estabilidade financeira e gestão sólida para alcançar sucesso a longo prazo.

Com ativos de US$ 50 milhões sob sua gestão, a firma começa a injetar dinheiro no Milan para cobrir os buracos. Mas não é para grandes contratações e, sim para estabilizar o clube. O clube tem um déficit de quase 200 milhões de euros no primeiro ano completo (2019/2020) em meio à pandemia de coronavírus.

Mas, para a última temporada (2020/2021), o Milan aumenta receitas de televisão e patrocínio. Ao mesmo tempo, controla os gastos com salários e elenco. As despesas são reduzidas em 40 milhões de euros. O resultado negativo cai pela metade: 96,4 milhões.

Como o clube conseguiu montar um time que pode ser campeão? Há 11 aquisições de jogadores durante a última temporada, mas boa parte delas por empréstimos. Jogadores como Junior Messias e Giroud estão nesta lista. Ibrahimovic, ídolo com mais de 40 anos, também retorna para cumprir um papel estratégico. No banco, o Milan desiste de trazer o desejado alemão Ralf Rangnick em favor da manutenção de Stefano Pioli.

A comparação entre o Milan atual e o campeão há 11 anos mostra como a política é mais modesta: Thiago Silva, Ibrahimovic em alta, Pato e Robinho eram algumas das estrelas daquela equipe.

Não que o Milan seja um clube baratinho. O custo total milanês na temporada anterior foi de 347 milhões de euros. Mas o clube vendeu jogadores e reduziu o gasto com registro de atletas (contratações). Reduziu as perdas no ano apesar de ainda não contar com bilheteria. A tendência é de um quadro mais positivo na atual temporada 2021/2022 especialmente com a volta a Champions League.

A Elliot Management, portanto, focou em uma gestão eficiente em vez da promessa de gastos milionários anterior, embora, sim, tenha investir para evitar a quebra do clube. Agora, possivelmente com o clube campeão, deve concluir a revenda do Milan.

Há duas possibilidade: o grupo Investcorp, do Bahrein, e o Redbird Capital. Pelas notícias da imprensa italiana, o segundo fundo parece levar vantagem: oferece menos dinheiro, mas a operação envolve um endividamento menor para Milan. O clube italiano tem quase 300 milhões em pagamentos de dívidas a serem cumpridos no seu balanço.

De novo, a lógica da escolha é mais pelo quadro que indica uma maior eficiência na gestão do que a pura injeção de mais dinheiro.