Topo

Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Plano de recuperação do Botafogo prevê semi da Libertadores em 2025

Rafael Navarro, do Botafogo, comemora gol na partida contra o Vasco - ANDRÉ FABIANO/ESTADÃO CONTEÚDO
Rafael Navarro, do Botafogo, comemora gol na partida contra o Vasco Imagem: ANDRÉ FABIANO/ESTADÃO CONTEÚDO

11/11/2021 04h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Com sua vaga para a Série A praticamente carimbada, o Botafogo apresentou à Justiça no início do mês um plano para pagamento de suas dívidas cíveis e trabalhista. O objetivo é o pagamento de uma dívida de R$ 422 milhões em processos na Justiça. Para isso, o clube apresentou um plano com receitas e metas esportivas que inclui uma semifinal de Libertadores em 2025.

Para entender o processo, é preciso primeiro explicar que o Botafogo pediu à Justiça a adesão ao Regime Centralizado de Execuções para reunir todas as cobranças judiciais de seus credores. Baseia-se na Lei da SAF - clube-empresa. O clube, no entanto, ainda não é empresa: tem um plano aprovado para m transformação em SAF. Foi contratada a XP para captar investidores para a agremiação alvinegra.

À Justiça, o Botafogo relatou ter uma dívida em execução de R$ 178 milhões entre ações cíveis e trabalhistas. Além disso, há outros R$ 244 milhões em processos que ainda não estão em liquidação. E há ainda débitos que não foram cobrados na Justiça, mas reconhecidos pelo clube. Assim, a dívida alvinegra é de R$ 570 milhões para privados em cobranças particulares.

Partindo deste número, o Botafogo tem que provar à Justiça sua capacidade de quitar a dívida em execução em até 10 anos. E pelo menos 60% do valor —o que hoje seria R$ 106 milhões— teriam de ser quitados em até seis anos. Para isso, será descontado 20% da receita do clube por ano.

O clube apresentou suas expectativas de receitas dos próximos três anos. Ainda na Série B, o clube previu ganhar apenas R$ 6,7 milhões nos dois últimos meses de 2021. Para o próximo ano, já na Série A, o clube estima ganhar R$ 182,9 milhões. E é bastante otimista ao projetar uma rápida expansão de receita para R$ 252 milhões em 2023. E manter um patamar similar em 2024.

A estimativa de crescimento de receita é com base na televisão, bem maior na Série A, e também em patrocínio, tokens e bilheteria.

Diante desses números, seria possível ao clube pagar R$ 21,4 milhões em dívidas em 2022, e outros R$ 34 milhões em 2023 —são referentes a 20% de desconto de receita. Nesta toada, seria possível ao clube atingir a meta de quitação de dívida. O problema é que isso pressupõe obter resultados esportivos desafiadores para o Botafogo.

No documento, o clube deixa claro que, enquanto paga débitos, terá de investir no futebol para se manter na Série A. "Todavia, o Botafogo de Futebol e Regatas acredita que este esforço será em vão se a equipe permanecer correndo o risco de rebaixamento frequentemente. Por isso, assume como premissa o fortalecimento da equipe entre 2022 e 2025, para garantir sua permanência na elite do futebol nacional e possibilitar a sua participação em competições de maior nível técnico."

O investimento mínimo previsto para se manter na Série A é calculado com folha salarial de R$ 5 milhões. O Botafogo estima que uma folha entre R$ 5 milhões e R$ 9 milhões possibilita estar em nível intermediário. Um plantel com custo mensal entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões levaria a classificações de competições continentais. Ou seja, o clube sabe que o investimento não é baixo para se manter na Série A.

A partir dessa premissa, o Botafogo descreveu suas expectativas de resultados esportivos por dez anos, já que o desempenho nas competições tem um impacto direto na receita obtida pelo clube. Há premiações e bilheteria com efeitos positivos no caso de sucesso no campo.

No Brasileiro, o Botafogo é modesto no ano da volta a Série A e prevê ficar em 14º. A partir de 2023, o clube estima resultados que variam entre 4º e 11º lugares, quase sempre na primeira metade da tabela. Não era a realidade do clube antes de ser rebaixado. Pelas premissas do próprio clube, isso seria possível com folha acima de R$ 10 milhões, bastante difícil de pagar junto com as dívidas cíveis, trabalhistas e tributárias.

Na Copa do Brasil, o clube prevê pelo menos atingir as oitavas de final na maior parte dos anos. Mas a meta mais ousada é na Libertadores: o Botafogo estima estar na semifinal em 2025. Ainda é prevista uma oitavas de final em 2027, além de outra participação em 2030. O plano se estende até 2031.

Detalhe: o Botafogo disputou uma semifinal da Libertadores pela última vez em 1973. A outra oportunidade em que o time esteve nesta fase do torneio foi na década de 60.

Lembremos, o investimento do Botafogo em seu time tem que ser feito enquanto 20% da receita é descontado para dívidas trabalhistas e cíveis, e outro valor considerável terá de ser usado para passivos tributários. No total, o balancete mais recente do clube, anexado ao documento da Justiça, mostra uma dívida líquida de R$ 993 milhões. E esse valor cresceu em cerca de R$ 50 milhões durante o ano de 2021.

Para executar seu plano de recuperação, o Botafogo precisa cumprir metas ousadas e encaixar nas suas contas um número considerável de compromissos financeiros.