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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Mattos: Linha de passe no gol revela a essência do que é o Flamengo

Festejo do gol do Flamengo - GettyImages
Festejo do gol do Flamengo Imagem: GettyImages

30/09/2021 06h00

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Diego Alves que passou para Arão, que entregou a Rodrigo Caio, que deu a Felipe Luís, que encontrou Andreas, que encostou para Rodrigo, que devolveu a Diego, que achou Gustavo Henrique, que abriu para Isla, que aprofundou para Arrascaeta, que escorou a Gabigol, que enfiou para Everton, que serviu Bruno Henrique, que não passou para ninguém.

O segundo gol rubro-negro diante do Barcelona é uma sequência de 12 trocas de posse. Durante 38 segundos, a bola fez quase um arco pelo campo saindo da lateral-esquerda até girar ao atacante matador.

Não é apenas belo, é uma lição para Renato e seu time. Pois o Flamengo dos últimos jogos usava demais os esticões e as bolas longas à procura da velocidade de seus atacantes letais. A sua essência, a forma como se realiza plenamente, é quando faz o jogo associativo de construção complexa que eleva seus talentos. Esse é o Flamengo forjado em 2019.

Já foi dito aqui neste espaço que Renato gerou alguns problemas táticos ao time, falta de compactação, pouca posse de bola, recuos excessivos. Algumas destas questões se repetiram diante do Barcelona. Faltou controle em determinados momentos, e houve fragilidades na marcação entre a linha da zaga e o meio, e na lateral-direita.

Mas houve alguns sinais, sim, do Flamengo que encanta. Foi assim quando a bola passou pelos pés de Filipe Luís: não errou passes, acertou coberturas, posicionamentos, tornou o time melhor silenciosamente. Foi assim com Everton que voltou a ser o homem que acha os espaços nas linhas adversárias. Foi assim em Bruno Henrique, de novo, decisivo. Foi assim com a segurança de Diego Alves.

Foi principalmente assim quando o Flamengo achou de novo seu jogo coletivo. Isso ocorreu nos dois gols. No primeiro, uma troca de passes de Arão e Everton saiu da marcação pressão do Barcelona para achar Bruno.

É possível que o Flamengo ganhe a Libertadores com bola longa e esticões. Tem talentos para isso. Mas o Flamengo é Flamengo mesmo quando envolve o adversário como uma hipnose, como um truque de mágico que vai se revelando aos poucos durante o ato no palco. Ao tomar o segundo gol, o Barcelona estava entregue, sua torcida aplaudiu o rival ao final. E a quadrilha rubro-negra completava seu ciclo.

Bruno Henrique que não passou para ninguém e se casou com a rede que não tinha entrado na história.