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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Enquanto não pagar contas Corinthians continuará a tomar sacode do Flamengo

Renato Augusto assiste ao jogo entre Corinthians e Flamengo, na Neo Química Arena - Reprodução
Renato Augusto assiste ao jogo entre Corinthians e Flamengo, na Neo Química Arena Imagem: Reprodução

02/08/2021 04h00

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Quando goleou o São Paulo, o Flamengo construiu um placar além do que indicava o andamento do jogo embora merecesse vencer pelas exibições de alguns de seus atletas. Quando meteu 3x1 no Corinthians, o time rubro-negro anotou uma vitória com diferença de gols bem aquém do que foi seu desempenho, e do que se desenhava na partida.

O jogo na Neo Química Arena parecia um confronto entre profissionais e juvenis em determinados momentos tal o domínio do time carioca. Foi um atropelamento com imposição na marcação adiantada, na circulação da bola, na movimentação, na técnica dos jogadores. O Corinthians não viu a bola no primeiro tempo quando tomou três, que facilmente poderiam ser cinco.

O Flamengo aliviou o ritmo após o intervalo ainda que tenha enfileirado outras chances, só não aumento com Bruno Henrique na cara do gol por um erro na conclusão. O gol corintiano foi obra do acaso em um final de partida já morto. Os desempenhos dos times foram para um massacre maior do que o a goleada de 5x1 do último Brasileiro.

Não é um acaso. O Flamengo vem enfileirando goleadas e um jejum sobre o Corinthians nos últimos anos. Inverteu a realidade do duelo que era favorável ao time paulista no início da década passada. Agora, o domínio é avassalador.

O que mudou foi justamente a situação financeira dos dois times. O Corinthians era forte no início da década passada, gastou muito, de forma irresponsável e se enfiou em um buraco. O Flamengo conteve despesas, pagou dívidas e passou a investir em 2018. Isso já foi dito aqui nesta coluna, é uma história já sabida.

A questão é que o Corinthians não parece querer enxergar a única trilha possível para recuperação. Com uma dívida próxima de R$ 1 bilhão, mais o débito do Corinthians na casa dos R$ 500 milhões no estádio, o clube paulista estava em situação quase inviável no início do ano. Lembremos que o clube ainda não resolveu a situação da dívida do estádio com o BNDES - há uma incógnita sobre o débito com a Odebrecht (ou seus credores).

A partir do início do ano, o Corinthians contratou consultarias, cortou forte sua folha salarial em R$ 4 milhões e investiu no marketing para tentar alavancar receitas. Parecia um caminho para tentar, repita-se tentar, sair do buraco ainda que de forma tímida. O balancete corintiano de abril mostra uma redução do passivo em direitos de imagem (jogadores e empresários) de R$ 40 milhões. Mas há um aumento de encargos sociais e obrigações de 32 milhões. De saldo, não há queda significativa da dívida.

Pois o clube na sequência foi atrás de jogadores como Giuliano e Renato Augusto, e ainda busca Roger Guedes. Todos com salários de padrão chinês ou do Oriente Médio ou da Europa.

Não existe fórmula de recuperação financeira sem sacrifício, e com jogadores caros. É balela para o torcedor falar em reengenharia financeira. O presidente Duílio Monteiro Alves continua na cartilha de seu mentor Andrés Sanchez: gasta além do que a situação permite. Lembremos, esses investimentos são feitos quando até salário da base estavam atrasados. Deveria ser o básico.

"Por que você está falando de dinheiro? Assunto chato, o time precisa de reforços como ficou clara na atuação de ontem", dirá um torcedor corintiano irritado com a derrota do domingo. É justamente o dinheiro que provocou mais essa derrocada. E os reforços podem até vir a proporcionar uma boa fase curta. Talvez o clube até equilibre um ou outro jogo contra o Flamengo, mas seguirá apanhando a longo prazo.

Se não existe caminho fácil, o Corinthians pode aceitar que vai sofrer por uns bons anos para se reestruturar para enfrentar o Flamengo de igual para igual no futuro. Ou pode se iludir com falsas promessas e continuar sofrendo por mais anos sem perspectivas de recuperação nem a longo prazo. Que o torcedor tenha consciência que, no momento, a escolha foi pela segunda opção. Então acostume-se a sacodes periódicos para o rival rubro-negro em Itaquera.