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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Só mudança radical salva Corinthians com dívida de R$ 500 mi em um ano

Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians  - Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians
Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians

11/04/2021 04h00

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Ao assumir o Corinthians, a gestão de Duílio Monteiro Alves cortou custos do futebol e incrementou sua equipe de marketing em busca de mais receitas. Empresas especializadas foram contratadas para renegociar suas dívidas e reestruturar a administração. O balanço foi mais transparente.

As medidas são acertadas e talvez fossem suficientes em um clube que passasse por momentâneos problemas financeiros. Não é o caso. O ex-presidente coritiano Andrés Sanchez deixou o clube à beira do caos com um buraco nas contas que ameaça o seu futuro.

A dívida que chega a quase R$ 1 bilhão - sem contar a pendência do estádio - tem um dado que é ainda mais preocupante: cerca de R$ 500 milhões são para pagamento a curto prazo em um ano. No balanço, o passivo circulante (de curto prazo) consta como R$ 586 milhões, excluído aí o item "receitas a realizar" referente a contratos a receber. O diretor financeiro, Wesley Melo, afirmou em live com representantes da Gaviões da Fiel que o valor atual é mesmo de meio bilhão para ser pago em 2021.

"Dessa dívida, R$ 500 milhões é de curto prazo, o que é nossa expectativa de receita anual", contou o diretor. A receita corintiana, de fato, chegou próxima de meio bilhão no ano passado. Com um detalhe, foi feita a melhor venda da história do clube com Pedrinho.

Traduzindo para os leigos, é como se um trabalhador tivesse dívidas que comprometessem todo o seu salário. Os carnês das lojas, os empréstimos no banco e cartão de crédito levassem tudo que ele ganha. Pois bem, o cara vai comer e morar como?

Ora, qualquer um nesta situação teria de fazer uma mudança drástica nas suas despesas e renegociar dívidas. As conversas para jogar o débito para frente serão feitas por empresas especializadas como a Falconi e a KPMG. Não será fácil. São R$ 217 milhões em fornecedores, não está especificado quais, no balanço. É provável que existam clubes ai. Some-se a isso a dívida crescente com o elenco do ano passado, impostos e empréstimos.

Pior, Wesley informa que o dinheiro da venda de Pedrinho ao Benfica, que consta como um dos recebíveis do clube, já foi antecipado para pagar contas do passado. Ou seja, não dá para contar com isso.

Diante desse quadro, o diretor financeiro explicou que houve um corte na folha salarial de R$ 1,7 milhão, caindo o valor total para R$ 13 milhões. Seu objetivo é uma redução global de 20% nas despesas.

Mesmo se tiver um desempenho excepcional, o departamento de marketing não será capaz de gerar receita muito acima dos R$ 500 milhões em um mercado estagnado e sem público nos estádios pelo menos no primeiro semestre. Não há nenhuma grande revelação do Corinthians até agora que mude de forma significativa o status da receita geral com transferências.

Diante disso, uma redução de 20% nas despesas parece insuficiente para resolver o problema de caixa corintiano e tirá-lo do sufoco financeiro neste ano. Não faz sentido um clube que tem esse nível de comprometimento financeiro ter uma folha de mais de R$ 10 milhões.

Será preciso adotar algo radical como fez o Flamengo, em 2013, que começou a dispensar jogadores caros com os melhores acordos possíveis. O Corinthians não está diante de um quadro de ajuste, mas de sobrevivência. E os próximos passos serão decisivos para saber se vai conseguir esse objetivo.