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Rodrigo Mattos

Em 2 meses de Flamengo, Rogério Ceni é uma bela embalagem sem nada dentro

Rogério Ceni em ação à beira do campo durante o clássico Flamengo x Fluminense - Thiago Ribeiro/AGIF
Rogério Ceni em ação à beira do campo durante o clássico Flamengo x Fluminense Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

07/01/2021 04h00

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Quando se ouve Rogério Ceni falar de futebol, estão lá conceitos de quem prega um futebol ofensivo, dominante, com marcação pressão. Quando o seu Flamengo está em campo, esse discurso é uma mera carta de intenções que não consegue ser executada. A virada sofrida para o Fluminense é um reflexo dessa realidade.

Eliminado de dois torneios, Libertadores e Copa do Brasil, Rogério tem tido semanas para treinar o Flamengo para o Brasileiro. Seu trabalho no time já acumula quase dois meses com elenco quase completo. Não chega a ser suficiente para ter a equipe pronta, mas seria o bastante para haver sinais de evolução.

Não é o que se tem visto até agora no Flamengo. Sempre que enfrentou um time bem fechado, a equipe rubro-negra teve grandes dificuldades para superar a retranca. Foi assim diante do Atlético-GO, do Botafogo, do Fortaleza e de boa parte do jogo contra o Fluminense.

É verdade que, no clássico, o time teve um bom início empurrando o rival para o seu campo. Não chegava a ser brilhante, mas produziu, sim, algumas chances até chegar ao gol de Arrascaeta.

Quando voltou do intervalo, no entanto, o time estava lento, desatento e começou a sofrer quando o Fluminense adiantou a marcação pressão. O empate com Lucas Claro foi em uma bola cruzada da intermediária, a virada veio no final da partida com Yago (em falha de Filipe Luís).

Por isso, Rogério Ceni atribuiu a derrota a erros grotescos e a falhas de conclusões. Ressaltou a posse de bola (acima de 70%) e quase 20 arremates a gol. Por isso, negou que exista falta de repertório ofensivo rubro-negro.

Bem, as chances criadas pelo Flamengo só foram claras de fato no primeiro tempo. No segundo, chegava com um excesso de bola alta na área, de arrancadas individuais para tentar resolver sozinho. Faltava coordenação dos movimentos ofensivos, faltava intensidade na marcação na frente. Só havia a posse de bola. Ou seja, era o contrário do que prega Rogério Ceni.

A verdade é que, desde que chegou ao Flamengo, falta, sim, repertório ofensivo a Rogério Ceni. O técnico catalão apresentava mais ideias originais do que o brasileiro para a forma como a bola circulava à procura de espaços, como tentar enganar uma defesa fechada. Defensivamente, no entanto, havia enormes buracos no seu time. Seu trabalho se tornou inviável pela instabilidade gerada por goleadas sofridas para São Paulo e Atlético-MG. Não parecia que iria resolver e não se trata aqui de uma defesa do trabalho do estrangeiro. Mas, julgado pelos mesmos parâmetros, Ceni não pode ser poupado.

É fato que o Flamengo parou de sofrer goleadas. Mas nem dá para dizer que Ceni melhorou muito o time defensivamente porque já acumula 15 gols em 11 jogos, tendo a volta do melhor zagueiro Rodrigo Caio. A armação do setor defensivo foi sua qualidade mais ressaltada quando contratado do Fortaleza que tinha um dos menores números de gols sofridos no Brasileiro. Era também um dos piores ataques da Série A, o que foi pouco lembrado. No Flamengo, tem 17 gols, uma média de 1,54 por jogo.

Com Ceni, o Flamengo já soma quatro vitórias, quatro empates e três derrotas. Ou seja, conquistou 48% dos pontos, menos da metade. Isso para o técnico brasileiro que era tido como o mais promissor da sua geração, o capaz de enfrentar estrangeiros. Era uma bela embalagem, só que o Flamengo não encontrou nada dentro até agora.